A Problemática dos Manequins – Amílcar Monteiro

É inegável que, nos dias que correm, o ritmo da nossa vida é tão acelerado que nem conseguimos reparar devidamente nas coisas que nos rodeiam. Prova disso é o facto de todos os dias as pessoas passarem por lojas, pararem em frente às montras, olharem para as roupas que estão expostas nos manequins e fazerem comentários do tipo “adoro esta camisola” ou “aquele vestido é fabuloso”. No entanto, nunca ninguém comenta o facto de, muitas vezes, os manequins não terem braços nem cabeça.

Como é que é possível ninguém reparar, pergunto eu?! É que aquilo é macabro! Trata-se de uma representação, à escala real, de um ser humano que foi decapitado, amputado e empalhado mas, aparentemente, ninguém acha isso estranho.

E o que é que as lojas pretendem com aquilo? Que público-alvo é que querem atrair com este tipo de manequins? Será para serial killers que gostam de matar as vítimas, amputá-las e vestir-lhes uma roupinha nova para depois as fornicarem? Porque é preciso qualquer coisa para apimentar o sexo com cadáveres, não é? Toda a gente sabe que os cadáveres são um bocado “sacos-de-batatas” na cama: ficam só ali deitadinhos, sem se mexer, não dá muita pica… Não que eu já tenha feito sexo com cadáveres, atenção! Isso é doentio! …Mas uma vez fiz com uma gaja que estava em coma e acho que deve ser mais ou menos parecido. Calma, leitor, eu conhecia-a: era minha avó. Eu não sou nenhum tarado!

Uma outra alternativa forte é as lojas pretenderem explorar o nicho de mercado que são as roupas novas para zombies amputados. Porque, apesar de não querer estar a julgar ninguém, verdade seja dita: nós vemos pelos filmes que os zombies se tendem a vestir um pouco mal. Acho que essa falta de gosto está relacionada com o facto de não existirem zombies homossexuais. Sim, porque se existissem nós notávamos logo pelo andar: enquanto um zombie normal tem um andar arrastado e pesado, costas curvadas para a frente e braços esticados, um zombie homossexual tem um andar mais ligeiro, como se estivesse a desfilar numa passerelle, com as costas direitas e os ombrinhos para trás. Mas, peço desculpa, já estou a divagar.

Também me ocorreu que, uma vez que os manequins não têm braços, as lojas podiam estar a tentar chegar ao público leproso. Só que depois pensei melhor e acho que não faz muito sentido, porque é do senso comum que os leprosos são gente desmazelada, que não investe muito na imagem.

Bem, a verdade é que não sei que público é que as lojas pretendem atingir, mas sei que esta brincadeira pode vir a ter repercussões sociais muito graves, especialmente junto das mulheres. Já não basta a pressão social para se tornarem magras e, por isso, desenvolverem doenças como a anorexia e a bulimia, agora se calhar vão começar a cortar os braços só para ficarem parecidas com os manequins.

E chamem-me antiquado, chamem-me conservador, chamem o que quiserem, mas por muito giro que seja, de vez em quando, fazer sexo com uma mulher com dois coutos, não é a mesma coisa que  fazer sexo com uma mulher com braços: é que, parecendo que não, há “gestos técnicos” que se perdem.

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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