A remodelação low-cost governamental – Nuno Araújo

Em tempos de austeridade, o governo de Passos Coelho enceta uma remodelação de baixos custo político. Ninguém com créditos firmados na política portuguesa quererá estar associado à política de destruição do país, encabeçada por Passos Coelho, Vítor Gaspar e Paulo Portas. Assim, só “quem põe as mãos no fogo é que se queima”.

O governo decidiu manter-se em funções, tendo obtido apoio do presidente da República, Cavaco Silva. Isto significa que o país terá pela frente mais algum tempo de austeridade desmedida e directamente direccionada ao comum cidadão português. Mais sete anos para pagamento do empréstimo é tido como vitória pelo governo, mas deve antes ser visto como mais uma derrota tida pelo executivo.

O governo decidiu manter-se em funções, fazendo uma mini-remodelação. Sai Miguel Relvas, entram uma mulher, Teresa Morais, e cinco homens (mais homens do que mulheres, para variar…) directamente para ocupar o lugar vago nos Assuntos Parlamentares, agora ocupado por Luís Marques Guedes, e como adjunto do primeiro-ministro entra Miguel Poiares Maduro, que será também responsável pelo Desenvolvimento Regional. Pedro Lomba será adjunto de Poiares Maduro e será acompanhado por Pedro Cardoso Costa, na “tempestade” que assola a mini-pasta do Desenvolvimento Regional, que, exceptuando a entrada de Emídio Guerreiro e Teresa Morais, agora é como um autêntico aviário de políticos neoliberais ainda em formação.

Marques Guedes é uma escolha natural para os assuntos parlamentares, e agora até terá o seu próprio Ministério da Presidência do Conselho de Ministros (que faz muito mais falta que um Ministério da Cultura, não é verdade?). Já Poiares Maduro, Pedro Lomba e Cardoso Costa, figuras claramente de “segunda linha” mas perigosos neoliberais de pensamento político, vão assumir responsabilidades megalómanas, entre as quais “vigiar o comportamento” de Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, entre outros, inclusivé ministros do PSD, pois o “tapete” de Passos Coelho pode ser-lhe retirado por muita gente diferente.

Esta mini-remodelação revela a fraca capacidade deste governo de recrutar políticos para um executivo impopular como nenhum houve em quase 39 anos de democracia. Passos Coelho perdeu o país, já perdeu o apoio de metade do seu partido, e só não perdeu o parceiro de coligação porque Paulo Portas e o CDS estão parasitariamente “agarrados” ao poder, como já disse Alberto João Jardim (ele sabe bem o que é estar “agarrado ao poder”). O governo conta agora com mais alguns militantes do PSD no executivo, figuras sociais-democratas de segunda linha mas sobretudo de teor ideológico e pouco pragmáticos, que se irão expôr em cargos altamente impopulares, sem necessidade de os centristas se desgastarem, reclamando cargos dentro do governo. Tudo isto é sinónimo de acordo frutífero para o CDS, já que os objectivos de Paulo Portas passarão, certamente, por uma maior implantação autárquica dos sociais-cristãos, algo já há muito tempo reivindicado como essencial dentro do CDS, para que se dê um crescimento estratégico a nível nacional.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana