A RTP e o seu Provedor – João Cerveira

Hoje – dado ao programa que ainda há pouco passou na RTP1, o “Voz do Cidadão” – decidi falar de outra coisa nesta crónica. Decidi falar sobre o Provedor do Espectador da RTP.

E a conclusão a que chego, depois de ver alguns programas, é que este provedor, mais do que o anterior, não conhece a casa onde trabalha, fazendo um papel de diplomacia, mais do que de mediação, entre a vontade do espectador e aquilo que é efectivamente exequível.

Se há situações e recomendações com as quais concordo – como, por exemplo, a redução do número de touradas transmitidas (se não transmitissem nenhuma, não se perdia nada, na minha opinião pessoal), que no ano passado foram 11 – há recomendações, no mínimo, bizarras. No assunto desta semana, o teatro na televisão, mesmo depois de a direcção de programas ter explicado que a maioria das peças são escritas e encenadas numa lógica de exibição em sala e não em TV (e não obstante isso, a RTP ter peças gravadas que prevê exibir durante a época natalícia, para além de ter convidado alguns produtores a escreverem peças para TV, para serem gravadas em estúdio), o que torna a gravação muito difícil e, consequentemente, muito difícil de transmitir com qualidade, o provedor sugere a emissão de uma peça de teatro por semana. O que só pode notar se o provedor quer agradar quem lhe escreve, mais do que, de forma ponderada, explicar o que pode e o que não pode ser feito, dado às limitações técnicas e  logísticas, para além de económicas.

Mas não foi só hoje que o demonstrou. Quando os telespectadores, logo após a televisão pública ter perdido as transmissões dos jogos de futebol da Liga dos Campeões para a TVI, se terem queixado que a RTP tinha pouco desporto, o provedor, mostrando-se pouco informado em relação a programas como o Desporto 2 todos os fins de semana (que transmitem eventos de todas as modalidades, desde o andebol ao voleibol, passando pelo surf, orientação, golfe,  natação, etc, etc) ou as transmissões do campeonato nacional de Futsal, e ignorando o custo envolvido na transmissão de alguns eventos, sugeriu que a RTP melhorasse a sua oferta na transmissão de programas de desporto, especialmente nas modalidades alternativas ao futebol. Pois bem, Sr. Provedor, isso é o que o Desporto 2 faz.

A meu ver, o provedor deveria funcionar como um mediador, sugerindo à direcção de programas e informação da televisão pública, mas também explicando aos telespectadores porque é que muitas das coisas que sugerem não podem acontecer. A continuar assim, a sugerir coisas sem avaliar a sua exequibilidade, a meu ver, o provedor vai se tornar, cada vez mais, figura decorativa.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…