Portugal é um país de proprietários urbanos.
Soa mal.
No entanto nem Monsieur de La Palisse conseguiria dizer melhor.
Durante muito anos saía mais barato comprar um casa do que ser-se arrendatário.
Ia-se ao banco.
O banco analisava a situação. Estipulava uma quantia. Dividia-a por setenta e cinco anos. Juntava juros. Mais umas cláusulas indexantes.
Et voilà!
A casinha era nossa. Íamos comprando móveis. Cortinas. Pendurando quadros. “Aninhando-a”.
Ficávamos felizes.
Alegres proprietários a troco de uma mensalidade suportável.
No fim das contas até “deixávamos alguma coisinha” aos filhos.
Depois deu-se a “crise”.
A mensalidade suportável tornou-se, em muito pouco tempo, insuportável.
É aqui que entra a teoria.
A teoria do risco
ou
de como nos enganaram
Uma das coisas que mais me irritam é ouvir dizer que ” vivemos acima das nossas possibilidades e agora temos de pagar”.
É politicamente correcto dizer que se pediram empréstimos para ir de férias.
Para comprar carros.
Para comprar roupas e sapatos.
Pour épater le burgeois.
Para espantar deus e o diabo.
Tudo isso pode não ser mentira.
Só não é a ÚNICA verdade.
A generalidade da população ( a GENERALIDADE , repito) não viveu acima das sua possibilidades.
Viveu NA JUSTA MEDIDA das mesmas.
Com a expectativa de que as “possibilidades” iriam aumentar e não diminuir.
Expectativa legitimamente enraizada no contrato social.
Que o Estado é (era) uma pessoa de bem.
Que os contratos são (eram) vantajosos para ambas as partes.
Que a parte mais fraca está (estava) protegida pela Lei.
Que os bancos eram nossos “amigos”.
A mim foi o que me disseram.
Quando quis comprar casa.
Fui ao ao banco.
O banco avaliou a casa que eu estava interessada em adquirir.
O “dossier” de avaliação custou-me dinheiro.
Não me lembro exactamente da quantia.
Achei-a francamente “antipática” (“uma “roubalheira” – foi a expressão utilizada)
Repare-se:
EU PAGUEI PARA QUE A CASA QUE ME INTERESSAVA FOSSE AVALIADA.
NÃO FUI EU QUE A AVALIEI.
NEM FUI EU QUEM DECIDIU EMPRESTAR-ME DINHEIRO.
Só aceitei as condições que o banco, meu amigo, me (im)propôs.
As questões que valem um milhão de euros surgem agora:
Se o mercado (imobiliário) caiu, que culpa tenho eu?
A casa não vale (no mercado) tanto quanto me emprestaram, e então?
O banco ao emprestar-me o dinheiro correu o risco de eu não lhe pagar.
Por isso garantiu-se com uma hipoteca sobre o imóvel. (uma garantia real – não há melhor)
Mais:
para “compensar” o risco do não pagamento aplicou uma taxa de juro sobre o capital emprestado.
Não chega?
Noutros Ordenamentos Jurídicos quando não se consegue pagar, entregam-se as chaves e a dívida fica saldada.
Em Portugal não é assim.
Entregamos o bem. Se este não “valer” o dinheiro que nos emprestaram continuamos a dever o restante.
Ficamos SEM o bem e COM a dívida.
(era altura de inserir aqui um palavrão – mas sou uma senhora)
Já o Estado ao aumentar os impostos, retira-me o poder de cumprir as minhas obrigações para com outras entidades.
Se não cumprir com o Estado fico extremamente vulnerável.
Basta verificar que o ónus da prova se inverte em questões de Direito Fiscal. (para não falar das penhoras automáticas ou do corte imediato de qualquer prestação social)
EU é que tenho de provar que nada devo ao Estado.
Noutras palavras: “primeiro pagas e depois reclamas. Sendo que também pagas para reclamar – só para não te armares em parva”
E o IMI?
O IMI é um imposto (giro) sobre a NOSSA propriedade.
A receita do IMI é dos Municípios (também são Estado não são é Administração Central).
Serve para as Câmaras Municipais fazerem ou pagarem “coisas” .
Senhores Banqueiros e senhor Estado: (repararam? sublinhei as maiúsculas usadas em sinal de respeito)
Eu NÃO AVALIEI A CASA.
Eu NÃO AVALIEI A MINHA “CAPACIDADE DE ESFORÇO”.
De boa-fé até considerava que esse “esforço”, com o tempo, se iria “esbatendo”. Nunca equacionei a possibilidade deste ir “AUMENTANDO”. (lembram-se das expectativas acima citadas?)
Eu CONFIEI NO BANCO E NO ESTADO.
Eu NÃO CONTROLO OS MERCADOS.
PORQUE TEM O RISCO (TODO) DE CORRER POR MINHA CONTA?
Sabem que mais?
Ide-vos para o C”##% pentear macacos!
Porque ele há coisas que uma senhora não diz em público.
AH! já me esquecia:
Quando não tiver dinheiro não pago.
Quero ver o que fazem quando todos fizermos o mesmo.
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