A viajar é que nós estamos bem – Bruno Neves

Viajar e conhecer o mundo são provavelmente os sonhos de meio mundo. E não é apenas uma expressão, é literalmente verdade. Perguntem a qualquer cidadão comum o que faria se ganhasse o primeiro prémio do Euromilhões e certamente que uma das três primeiras opções é “viajar”. Ponham os cintos de segurança e a pastilha no canto da boca porque viajar é o tema desta semana.

O conceito de viajar vai mudando consoante vamos envelhecendo. Quando somos crianças quase tudo é considerado viajar. Pode ser só uma ida ao supermercado para fazer umas pequenas compras, contudo para nós é muito mais do que isso! Não é “só” uma ida ao supermercado! Não senhor, muito pelo contrário! É um dos pontos altos do nosso dia! Vai la estar imensa gente (e até pode ser que encontremos algum dos nossos amigos) e toda a gente sabe que uma ida ao supermercado é uma oportunidade para ver e rever o corredor dos brinquedos ou das revistas e jornais.

Quando somos adolescentes viajar passa a ser igual a percorrer grandes distâncias. As idas ao supermercado deixam de contar para esta equação, contudo as visitas a familiares (e não têm necessariamente de ser familiares distantes, basta que não os vejamos todas as semanas, por exemplo) ainda podem ser consideradas. Visitar familiares é fantástico, principalmente se existirem outros adolescentes mais ou menos da nossa idade. Mais uma vez viajar é sinónimo de brincadeira, momentos de descontracção e alheamento da vida do dia-a-dia.

A partir do momento em que somos jovens adultos tudo muda, e para sempre. Viajar passa a ser aquela coisa que apenas fazemos nas férias (isto partindo do principio que temos férias, algo que não é assim tão certo quanto isso nos dias que correm). E férias apenas acontecem uma vez por ano (ou duas, se optar por dividi-las) como tal tudo o resto não é considerado “viajar”. As visitas aos familiares passam a ser encaradas como uma rotina e nada mais do que isso. Obviamente que nos divertimos e descontraímos, mas já não é a mesma coisa. Apreciamos coisas diferentes: por exemplo uma boa conversa (algo que em crianças achávamos ser uma seca).

Quando chegamos à velhice acredito que tudo mude novamente. Porque nessa idade, por norma, já estamos completamente estabelecidos e grandes viagens já não fazem parte da nossa rotina diária (e muitas vezes nem anual). Como tal uma viagem para visitar a família pode ser novamente encarada da mesma forma de anteriormente. É como se o ciclo se fechasse. Mas este é apenas o ponto de vista de um jovem, posso até estar errado. Quando lá chegar digo-vos se tinha razão ou não, combinado? Ainda bem que concordam.

Tirem-me só uma dúvida: porque é que as pessoas dão mais valor a um qualquer destino de férias no estrangeiro do que em Portugal? É certo que actualmente muito poucos são aqueles que têm capacidade financeira para passarem férias no estrangeiro, mas na minha opinião é um crime não conhecer devidamente o nosso próprio país. De que serve conhecer a Tailândia se nunca foram sequer ao Alentejo? É apenas um exemplo, mas não duvidem que boa parte daqueles que viajam para o estrangeiro desconhecem profundamente o país onde nasceram. Chamem-me antiquado, mas quem me tira Portugal tira-me tudo!

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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