A vida já foi muito mais divertida…

A mente humana é capaz de coisas extraordinárias, como produzir vacinas contra doenças e construir verdadeiras inovações tecnológicas capazes de melhorar a vida de pessoas que sofram de limitações físicas. Mas, da mesma forma que a mente humana é usada para o bem, é igualmente usada para fazer o mal. Para destruir, para queimar, para enterrar e para fazer de tudo para que outros não estejam bem, não sejam felizes à sua maneira — muitas vezes apenas por mesquinhez ou mesmo inveja de coisas simples que fazem parte da vida de todos nós.

Há quem não acredite nas denominadas “histórias do Além”, do poder do sobrenatural, em que existe a possibilidade de fazer mal a alguém através de pessoas que possuem o dom de contactar os espíritos e de sentir presenças de almas perdidas que ficaram pela Terra ao invés de seguirem para o Paraíso ou para o Inferno, tendo em conta aquilo que lhes está destinado consoante a vida que viveram enquanto seres vivos e presentes entre os vivos. Há quem desconfie de todas essas capacidades paranormais. Há quem ache tudo uma embaçadela do pior e que essas mesmas pessoas apenas querem enriquecer às custas de outras pessoas crentes em tais capacidades. Pessoas que procuram refúgio, ou uma simples explicação para tudo o que de mal tem acontecido nas suas vidas.

Tenho de confessar que já acreditei menos nessas capacidades do que actualmente acredito. Pois, tal como aquelas pessoas que procuram uma explicação para o que de menos bom tem acontecido nas suas vidas, eu próprio procuro de forma incessante uma elucidação para as coisas negativas que me acontecem. Desde que fui pai que o mundo parece ter-se dividido em duas partes. Uma das partes é a da felicidade de ser pai, de ter uma filha linda que foi gerada por mim e que me pertence e enche os dias e o coração de uma forma inenarrável e que, efectivamente, me transformou numa pessoa melhor e com uma forma de ver o mundo completamente díspar. A outra parte do meu mundo, transformou-se em amargura, infelicidade, incerteza e desilusão constante. Depois de ser pai, tudo o que me tem acontecido de mais negativo, tem a tendência de transformar a paternidade num mundo obscuro e infeliz — o que, na verdade, não corresponde ao que deveria ser a verdade.

Sempre pensei que as coisas acontecem por culpa minha. Sempre tive a percepção de que a infelicidade ou má sorte eram inteiramente culpa minha. Porque sou uma pessoa pessimista ou negativista ­— sendo que nunca saberei diferenciar uma coisa da outra. Mas as coisas negativas acontecem em catadupa na minha vida. O rácio é, mais ou menos, em dez, uma coisa é boa e nove são amarguras da vida. O que me leva a não acreditar muito na felicidade extrema. Nunca somos cem por cento felizes. Isso é algo impossível na minha cabeça. Mas será que a culpa de se sucederem tantas coisas negativas na minha vida é inteiramente minha, ou será que existem pessoas a querer-me mal nesta vida? Será que a inveja, a mesquinhez ou simplesmente a maldade que corre nas veias de algumas pessoas que me rodeiam, fazem com que as coisas negativas façam questão de estarem sempre presentes na minha vida? Será que devo de deixar de parte o cepticismo e acreditar que são mesmo outras pessoas a terem a capacidade de intervir na minha vida e ser elas mesmas a determinar o destino das minhas acções, das minhas decisões e da minha tentativa de ser feliz à minha maneira com as poucas coisas que possuo?

Ou deverei continuar a ignorar tudo isso e seguir em frente…?

Nunca ninguém disse que viver era fácil. Mas também nunca ninguém disse que teria de ser tão intenso, tão desmotivador e repleto de incertezas tentar, simplesmente, viver de forma tranquila e feliz.  De momento sinto-me no meio de uma encruzilhada. De um lado tenho a sensação que, quanto mais importância der às coisas, mais força e hipóteses forneço a quem me queira, efectivamente, mal. Mas, por outro lado, não deveria consultar alguém que me ajudasse a tentar perceber o porquê de tantas doses de negatividade na minha vida?

Não deveria tudo isto ser mais simples, e eu apenas viver sossegado e quase esquecido da sociedade que me rodeia, com a minha família, sendo que é apenas o que queria desta vida — viver de forma pacata e feliz.

Quase a completar 40 anos de idade, a única certeza que tenho é que, de facto, a vida já foi muito mais divertida…