A Vuelta a España

Olá de novo caro/a leitor/a! Lembra-se de eu lhe dizer na crónica sobre o Tour de France, que voltava para a Vuelta? Pois bem, aqui estou eu de volta, para lhe falar sobre a Volta à Espanha em Bicicleta. Este ano a Vuelta tem ainda mais emoção, dado que os favoritos à vitória no Tour vão também à Vuelta, incluindo o vencedor deste ano, Chris Froome. Porém a grande ausência é Alberto Contador, que foi o vencedor da edição passada da Vuelta. Ou seja, vamos ter uma Vuelta cheia de emoção, ou pelo menos é o que se espera, dado que no Tour presumia-se que iria ser uma das melhores edições e acabou por ser menos entusiasmante do que era, inicialmente, previsto.

A Vuelta a España é a terceira grande competição de ciclismo do ano, a seguir ao Giro d’Italia e ao Tour de France. Foi no ano de 1935, que a Vuelta começou, inspirando-se no sucesso que o Tour e o Giro tinham, contudo devido à Guerra Civil espanhola e à Segunda Guerra Mundial a corrida foi muitas vezes impedida de se realizar e, só a partir de 1955 é que a corrida começou a ser feita anualmente. Ao longo do tempo a corrida foi ganhando importância, sendo hoje uma das quatro competições mais importantes de ciclismo (Giro, Tour, Vuelta e Mundial).

A primeira edição contou com 50 corredores, que tinham de percorrer mais de 3,400 quilómetros ao longo de 14 etapas. Inicialmente, a corrida era realizada em finais de Abril, com algumas edições a decorrer em Junho nos anos 40, porém, devido à concorrência do Giro a competição acabou por mudar de data. Esta mudança apenas em 1995, quando se começou a realizar em Setembro. Tal como o Tour e o Giro, a Vuelta foi impulsionada por um jornal que patrocinava a corrida, o Informaciones, que chegou a organizar algumas vezes a competição. Na primeira edição da Vuelta, a competição foi animada e com um grande duelo entre dois corredores: um belga, Gustaaf Deloor e um espanhol, Mariano Cañardo. O grande vencedor foi o belga, seguido, lá está, pelo espanhol. E o/a caro/a leitor/a não adivinha quem venceu a segunda edição! Foi, nada mais nada menos que ……. o vencedor da primeira edição, Gustaf Deloor. Mas esta vitória foi ainda mais importante, dado que o belga envergou a camisola vermelha (a de líder da prova), desde o primeiro dia. Impressionante, não acha?

Capa da Informaciones - Primeira Vuelta
Capa da Informaciones – Primeira Vuelta

Nos anos 60, a competição começou a ganhar mais importância, dada a presença de estrelas internacionais na Vuelta e com os feitos que estes conseguiam fazer. Em 1963, o francês Jacques Anquetil tornou-se o primeiro corredor a conseguir ganhar as três grandes voltas (Giro, Tour, Vuelta) no mesmo ano. Passados 5 anos foi a vez do italiano, Felice Gimondi conseguir o mesmo feito. Como o/a caro/a leitor/a deve imaginar é dos feitos mais difíceis de realizar no ciclismo, até pela pouco tempo que separa

Tal como no Tour, existem diferentes classificações em disputa pelos vários corredores. Essas classificações são definidas através de camisolas de diferentes cores. Na Vuelta, a camisola mais importante é a vermelha, quem a envergar é o líder da classificação geral. Segue-se a camisola verde, a dos pontos, quem usar esta lidera a classificação dos sprinters. Depois vem a classificação da montanha, cujo líder veste uma camisola branca com bolas azuis. Na Vuelta não existe uma camisola da classificação da juventude, contudo, existe uma outra que premeia a regularidade dos corredores, que é a classificação combinada, tendo em conta as três últimas etapas, cujo líder enverga uma camisola branca. Existe depois uma classificação por equipas, que se obtém pela soma dos tempos dos três primeiros corredores de cada equipa a passar a meta.

Há ainda prémios a atribuir a cada etapa. O prémio para o vencedor da etapa e o prémio da combatividade. Enquanto o primeiro é fácil perceber o que premeia, o segundo já não é bem assim. Trata-se de um prémio decidido pelos telespectadores e é atribuído ao ciclista que foi o mais combativo da etapa.

A Vuelta deste ano tem 21 etapas, sendo que a 14ª etapa é a mais longa com 215 km de extensão e a etapa mais curta é a 1ª etapa, com apenas 7,4 km, sendo que esta é uma etapa de contra-relógio por equipas. O total de quilómetros percorridos pelos ciclistas que terminem a Vuelta será de 3357,7 km, o que é imenso se pensarmos a quantidade de dias seguidos que passam a pedalar, sobre condições atmosféricas diversas. Na edição de 2015, teremos 6 etapas planas, 13 etapas de média e alta montanha, uma etapa de contra-relógio por equipas e uma etapa de contra-relógio individual.

Mapa da Vuelta
Mapa da Vuelta

Quanto às etapas, destaco na primeira semana (22/08 a 31/08), a terceira etapa, que tem uma contagem de montanha de primeira categoria (alta montanha) a meio da etapa. Esta montanha é duríssima com inclinação quase sempre superior ou igual a 7% de inclinação, chegando a ter ao 10 quilómetro da subida, 15% de inclinação. Destaco também a sétima etapa, que vai colocar os corredores a terminar numa contagem de primeira categoria, que tem cerca de 1550 metros de altitude, com algumas partes da subida com 8,5% de inclinação e chega no fim dessa subida aos 14% de inclinação. Na 9ª etapa, embora seja uma etapa fácil na sua maioria plana tem pela frente duas montanhas, uma de segunda categoria (ao quilómetro 126) e outra de primeira categoria. Na 10ª etapa, quase no fim da etapa há uma contagem de segunda categoria que pode fazer estragos na classificação geral, sobretudo porque é a etapa que antecede o dia de descanso.

Na segunda semana da Vuelta (02/09 a 07/09), a 11ª etapa será provavelmente a mais dura de todas, com não uma, não duas, não três, mas quatro(!) contagens de primeira categoria, uma de segunda e uma de categoria especial (mais dura que a de primeira categoria e, dá o dobro dos pontos de uma contagem de primeira) a meio da etapa. Será sem dúvida a etapa que poderá deixar muitos corredores de fora e espero bem que haja ataques por parte dos ciclistas favoritos nesta etapa. Outras etapas a acompanhar serão a 14ª e a 15ª, que irão ter duas contagens de montanha, uma de primeira categoria e outra de categoria especial, na 14ª etapa e uma de segunda categoria e outra de primeira, na 15ª etapa. Sendo que esta última contagem começa a pouco mais de 200 metros de altitude e acaba a quase 1250 metros de altitude, passando por contagens de 10%, 11%, 13,33%, 11,43% e 13,12% de inclinação.

Na terceira semana da Vuelta (09/09 a 13/09) destaco apenas a penúltima etapa, a 20ª, que terá quatro contagens de primeira categoria, o que é bastante cansativo para quem já percorreu 19 etapas com muita montanha, será interessante ver quem subirá ao pódio com o prémio da montanha que ficará finalizado neste dia.

Os favoritos nesta Vuelta serão sobretudo Chris Froome (Sky), Vincenzo Nibali, Fabio Aru, Mikel Landa (sendo que estes últimos três são da mesma equipa, a Astana), Alejandro Valverde, Nairo Quintana (ambos da Movistar), Tejay Van Ganderen, Samuel Sanchez (ambos da equipa BMC) e Joaquin Rodriguez (Katusha). A minha aposta para vencedor cai sobre três ciclistas: Froome, Landa e Valverde, sendo que Rodriguez e Sanchez correm por fora e podem, porventura,  vir a ser as surpresas desta 70ª edição.

Mikel Landa
Mikel Landa

Mas há também ciclistas portugueses nesta edição da Vuelta, porém infelizmente nenhum deles luta pela classificação geral, no entanto isto não significa que não iremos ver os nossos ciclistas a dar cartas noutras classificações ou até ficarem bem colocados. No ano passado, André Cardoso (Cannondale-Garmin) ficou na 25ª posição, é o exemplo de que quem sabe se não veremos ciclistas portugueses a fazerem brilharetes. Neste ano os ciclistas portugueses em prova são: André Cardoso pela Cannondale-Garmin, Tiago Machado pela Katusha, Sérgio Paulinho pela Tinkoff-Saxo, Nélson Oliveira pela Lampre-Merida e José Gonçalves e Ricardo Vilela pela Caja Rural. Será interessante ver o que conseguem fazer numa Vuelta tão dura como esta.

André Cardoso
André Cardoso

Para finalizar deixo-lhe uma curiosidade. A Vuelta começou apenas por duas vezes fora de território espanhol. Em 1997 e 2009. Em 1997, a Vuelta começou em Lisboa e em 2009, foi na Holanda, na cidade de Assen. Vamos ver como vai ser esta Vuelta e quem envergará a camisola vermelha, quando no dia 13 de Setembro terminar a 70ª edição da Volta à Espanha em bicicleta.