Acabar com o cansaço

No outro dia queixei-me. Disse que estava cansada. É recorrente responderem-me a isto com algo do género: “cansada de quê? Não fazes nada”. Mesmo sendo obrigada a concordar com isto na maior parte das vezes, há dias em que ando realmente cansada. Nem eu sei porquê, mas acontece. Mas como se não bastasse a resposta “torta”, sugeriram-me como cura para o meu cansaço-quase-crónico uma ida ao shopping. Pois está claro que sim.

Evidentemente que respondi de forma irónica. Ando sempre de mãos dadas com a ironia em todos os momentos da minha vida e gosto de pensar que fazemos um casal bonito. Atrevi-me a aprofundar a questão: “vou ao shopping fazer o quê?” E é nesses momentos que entra sempre um estudo qualquer, conduzido por uma universidade situada onde Judas perdeu as botas. “Li uma notícia acerca de um estudo que comprovava que comprar roupa aliviava o stress, a fadiga e aumentava a boa disposição”.

Eu odeio fazer compras. As únicas lojas que me fazem perder a noção do tempo e que não me cansam de todo não vendem roupa. Vendem computadores, livros, câmaras fotográficas ou telemóveis. E raramente compro lá alguma coisa, mas é sempre nessas lojas onde gosto de andar.

Sou prática quando vou comprar roupa. E, apesar de já ter tido menos vaidade nas coisas que visto, ainda opto pelo conforto. Quando entro numa loja sei exactamente o que quero e não perco muito tempo a olhar para o lado. Sinto-me sufocada. Irrito-me imediatamente com as pessoas que não saem da frente das prateleiras para me deixarem pegar no par de calças que quero. Fico logo com “os azeites” quando apanho “caga-tacos” à minha frente que não sabem para onde ir.

Ir a shoppings não alivia stress nenhum. Pelo menos no meu caso. Penso em shoppings e ouço gritos de crianças que preferiam estar na praia ou em casa a ver o Disney Channel. Ouço-me a praguejar quando a minha hora de entrada no trabalho está mais próxima e não arranjo estacionamento. Ouço uma amiga minha a abrir a cortina do provador enquanto me queixo e a dizer-me “oh, ninguém vê”. Acima de tudo, ouço-me a dizer: “mas esta gente não tem mais nada que fazer quando está um dia tão bonito lá fora?”

Quando estou cansada não gosto de ficar sempre por casa. Gosto de passear. Mas prefiro pegar no carro e ir dar uma volta do que ficar “presa” num centro comercial onde nem as moscas têm espaço para voar. Aquele estudo deve ter sido feito dentro de um shopping, certamente. E apesar de acreditar que esses passeios ajudem algumas pessoas a relaxar, os meus amigos deviam conhecer-me suficientemente bem para saber que isso só serve para me pôr de mau-humor. E outra coisa que me põe de mau-humor são essas sugestões ligeiramente descabidas.