Acerca de “Um conto de Natal” – Lúcia Reixa Silva

Todos notamos que quando se aproxima o Natal, quando andamos pelas ruas, quando tentamos ao fim de semana ir comprar qualquer coisa a um centro comercial…enfim…começamos a ver uma multidão em determinados locais, filas de trânsito para entrar em estacionamentos de zonas comerciais e um sem número de situações que nos vão dando conta de que o Natal se aproxima…

A magia do Natal para alguns é uma evidência clara, onde luzes e sininhos, enfeites e presentinhos, vão fazendo esquecer a crise, o pior que se passou neste útimo ano, as zangas familiares, os conflitos…porque é Natal (pois claro!)!

Para mim pessoalmente nada disso importa ou muda porque é Natal…e neste sentido, o lado mais efémero do Natal não me diz muito…

Sempre admirei a obra de Charles Dickens (Portsmouth, 7 de Fevereiro de 1812 — 9 de Junho de 1870), bem conhecida de todos nós “Conto de Natal”…Este brilhante conto transporta-nos para uma magia de Natal diferente…em vez de termos anjos, Pai Natal, renas e outras entidades relativas ao Natal, temos três espíritos – fantasmas para alguns – que transportam Mr. Scrooge para o seu Passado, Presente e Futuro, sob uma perspectiva até então desconhecida para o próprio e que o fazem reflectir e ponderar nas suas acções e sentimentos de uma forma absolutamente devastadora…

Devastadora para a sua personalidade e carácter até então, mas magnífica para o “gerar um novo Eu”, mais empenhado no Mundo e no Outro, mais altruísta, mais generoso.

Este efeito “Mr. Scrooge”, como lhe chamo, é de resto a única magia que conheço de Natal, na verdade, e esta sim, deveria ser possível para muita gente, durante o ano todo!

É o conto de Natal, para mim, de eleição.

Existem versões várias de filmes, e a Disney tem versões de animação para as crianças, fantásticas, umas com os personagens reencarnados em figuras conhecidas de todos nós – quem não associa de imediato o ”velho tio Patinhas” ao personagem do conto de Charles Dickens? – outras são ilustrações menos conhecidas do público, mais igualmente fantásticas.

Para os mais pequenos e para os maiores, existem versões adequadas, que nos transportam para este maravilhoso conto de Natal, válido pela mensagem em si mesma, e valioso na sua escrita irreprensível, se lermos a obra original (ainda que traduzida).

Para quem não gosta do vão e do efémero que o Natal traz consigo, e consegue pensar em todos os que não têm ninguém nestes dias, ou todos os que passam fome, este Conto dá-nos de facto alguma magia, se pensarmos e reflectirmos sobre ele…

As figuras de Charles Dickens são obviamente muito “exageradas”, como deve ser numa obra literária com esta profundidade e dimensão, mas a verdade é que muitas vezes encontramos pessoas destas pelas ruas ou até mais perto de nós…Muitas vezes percebemos que a avareza e egoísmo primam nuns, e provavelmente também já passou por nós uma ou outra vez…

Mesmo que assim não seja, este conto remete para a reflexão acerca de nós mesmos e dos nosso sentimentos mais ocultos, os nossos medos mais profundos. Também alerta para a urgência de uma sociedade mais justa, mais generosa e solidária, e esta urgência é intemporal…

Recomendo para este Natal a leitura da obra original, mesmo que seja mais uma vez…É um conto fantástico, escrito de forma brilhante, e que contém nele toda uma dimensão do Homem nos seus sentimentos e medos mais profundos (sim, porque Mr. Scrooge só muda pelo medo…não é uma livre reflexão, mas um confronto com os seus medos ocultos…digo eu…)

Boas leituras!

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Crónica de Lúcia Reixa Silva
De Alpha a Omega