“…A Aeróbica dos Neurónios…” – Aida Fernandes

Comemorou-se no passado dia 21 de Setembro, o dia dos doentes com alzheimer! Na sequência das cronicas anteriores e como o tema alzheimer é quase na sua totalidade evidenciado na terceira idade, logo me passou pela cabeça escrever mais um pouco sobre este assunto. Existe a Alzheimer Portugal, uma associação que já conta com alguns anos de trabalho, promove a qualidade de vida dos doentes, familiares e cuidadores. Será que a maioria da população tem conhecimento desta associação? Não me parece! Constatei essa realidade há bem pouco tempo. Afinal comemora-se o dia do Alzheimer, mas o que se sabe sobre isto! Muitos irão dizer,-não serve para nada saber destas coisas, outros possivelmente vão achar uma mais valia para um dia que precisem! Eu pessoalmente acho que os primeiros, até um certo ponto podem ter a sua razão, mas se pensarmos um pouco, nunca é demais estar informado, nunca é demais projectar um acontecimento que nos pode bater à porta.

Neste sentido o meu apelo vai não somente para esta sensibilização, no sentido de um conhecimento mais profundo das coisas, dos dias que se comemoram, como também para uma paragem…olhar o que nos rodeia, ver a miséria em que milhares destes doentes ainda vivem. Li à momentos num post que há idosos a trabalhar á noite para terem um complemento, para poderem pagar as despesas do doente a seu cargo…não é surpresa, mas dá que pensar!
Há no entanto idosos que mesmo com esta doença, vão conseguindo usufruir de uma qualidade de vida digna. Até na doença se verificam grandes disparidades, mas que se pode fazer?

No passado sábado (dia mundial de alzheimer), tive a coincidência de fazer uma viagem de Chaves até Santo Tirso, acompanhada de um doente com esta patologia! Sabem qual foi o resultado! Uma viagem tranquila, porque ele simplesmente se remeteu ao seu terno sorriso e a poucas palavras! Um homem com apenas 72 anos, com uma história de vida comum, que passou por uma vida no estrangeiro, ganhando muito dinheiro para sustentar a família. Vínhamos do passeio dos idosos, passeio que a câmara municipal oferece anualmente a todos os idosos e reformados do concelho.
Eu pensei, que irá na cabeça deste homem…será que ele se apercebe que veio a um passeio destes…e atrevida como sou nesta matéria, perguntei! A resposta foi a seguinte,-eu não sei onde estou, mas já estive no estrangeiro! Também vinha assim de autocarro! Já estive ali com varias pessoas mas não me lembro quem são, para a próxima que cá vier vou falar com elas novamente, pode ser que me lembre!

Depois de o ouvir, só me lembrava de uma explicação que obtive sobre esta patologia, onde a neuropsicóloga para explicar melhor o conceito de alzheimer se referia a um exemplo, o da caixinha que temos no cérebro. Se a caixa tem um buraco (Alzheimer), toda a informação sai e varre-se totalmente, se ainda não tem buraco mas está toda desarrumada, aí ainda vale a pena tentar explorar, ate que o doente se lembre dos fatos.

De certeza que este meu companheiro de viagem ainda não se apercebeu que na caixinha dele já existe um buraco, e que por mais que tente já não vai conseguir lembrar-se de nada.

É uma realidade triste mas existente e em grande percentagem.
Comemorar este dia, junto de cerca de 5000 idosos se calhar foi algo que me marcou, em primeiro porque não é num só dia que estes seres devem ser lembrados, como não é num só dia que existe alzhmeir nem passeios. Toda esta envolvência deverá existir o ano inteiro, perto da realidade, perto de quem lida com estas pessoas e nos podem ajudar a entender melhor o que é uma patologia e como a devemos encarar.

Ouvi o triste comentário de alguém…trazer pessoas para os passeios que estão constantemente a ir á casa de banho…que horror! Pois bem, a realidade dos idosos é mesmo esta, quer seja doentes de alzheimer ou não, e se alguém pensa o contrário, deve acompanhar bem de perto para valorizar.

Comemorar o dia sim, passear neste dia sim, mas com a noção de que não sendo todos iguais, somos todos seres humanos, com necessidades e carências. Aproveitar estes dias comemorativos para expormos as nossas dificuldades ou sabedoria, comemorar porque assim é a essência da palavra.

Há uma certeza que fica, pelo menos pelo que os estudos afirmam, devemos ao longo da nossa vida contribuir de uma forma ativa na “Aeróbica dos Neurónios”, para assim termos a plena consciência que fizemos o que estava ao nosso alcance.
Começar aos 14 aos 41 aos 71 anos…mas ir treinando…sabe-se que o cérebro tem a capacidade de crescer e mudar o padrão das suas conexões, portanto, numa sociedade cada vez mais rotineira e facilitada se não ativarmos o cérebro, podemos correr o risco de o limitar. Reduzir o esforço intelectual não é sinonimo de uma mais valia, todos os dias devemos manter a cabeça a trabalhar, criar…a memória deve ser exercitada, com boas lembranças…

Só assim, conseguimos que o nosso “tal buraco” nunca abra a ponto de deixar passar toda a informação.
Para concluir, posso dizer que ainda há pessoas que não sabem quantos cérebros temos…verdade…verdadinha! Mas há uma coisa que algumas sabem…que têm uma consulta de “rotunda” para tratar do cérebro da cabeça!…se contasse esta história certamente iriam adorar, mas não vai ser hoje…porque assim, vou obrigar os leitores a fazer a “Aeróbica dos Neurónios”, imaginar o que poderá sair de tal consulta de “rotunda”!

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A última Etapa