Afinal o Milagre era Possível!

Pedindo desculpa aos caríssimos leitores pelo atraso na minha crónica semanal, que teve a intenção de aguardar o final da fase de grupos do Mundial, para fazer um comentário fundamentado e afirmar que afinal o milagre era possível!

Como cristão crente que sou, acredito em milagres. Mas não acredito nos milagres dos homens, porque esses, não existem. O Homem apenas consegue fazer aquilo para o que tem capacidades. Embora as capacidades humanas estejam em perpétuo desenvolvimento. Acredito  sim nos milagres divinos e santos, esses sim é a própria ciência que confirma a sua existência, não é necessário ser-se crente.

No entanto, quando falo aqui em milagre, faço-o repetindo apenas o vocabulário usado pela comunicação social de um modo geral, desde o final do jogo EUA-Portugal, que terminou com um frustrante 2-2, após um primeiro desaire da seleção portuguesa no seu jogo inaugural com a Alemanha, por contundentes, mas aceitáveis 4-0.

O que aqui questiono hoje é a singeleza com que a nossa comunicação social portuguesa, ela própria, que cria (não se sabe por que razões, mas suspeito que seja por razões económicas) a expetativa errada na opinião pública, que a nossa seleção era uma candidata ao título. Falou-se, comentou-se, encheu-se as pessoas de ilusões, quando nós todos – os portugueses que acompanhamos com atenção e emoção a nossa seleção – há muito sabemos que não somos os melhores do mundo, apesar de termos o a sorte de contar na nossa turma com o melhor jogador do mundo na atualidade.

Insuflados pela “estrondosa” qualificação obtida contra a Suécia no “play-off”, os jornalistas não souberam ser realistas nem na altura pré-mundial, nem durante a fase de grupos. No primeiro período, exageraram nos prognósticos e possibilidades da seleção. No segundo período, não souberam manter a chama do povo acesa, porque começou o rol de críticas e dúvidas, críticas estas que certamente chegaram aos ouvidos das hostes da comitiva e com certeza também aos jogadores.

Não querendo com isto afirmar que a fraca prestação da seleção se deveu à comunicação, obviamente. O que de certeza que quero afirmar é que existiu – como muitas vezes existe – uma generalizada tomada de posições não coerentes, tentando de imediato rebuscar “bodes expiatórios” para o pseudo fracasso.

Analisando agora um pouco os resultados desportivos que é isso que conta, em vez de se irem buscar razões, pois essas cabe aos responsáveis refletirem e analisarem, na minha modesta opinião, Portugal entrou para o primeiro jogo com a Alemanha com receio em demasia e, mais uma vez, curvados perante o gigante. Não soubemos ser Davides à frente dos Golias e deixa-mo-nos mais uma vez envolver em tricas dentro de campo, completamente desnecessárias e que nos foram prejudiciais. Percebeu-se desde o primeiro jogo, que a arbitragem de um modo geral iria beneficiar os “grandes”: assim aconteceu com um penalti a favor do Brasil, depois outro a favor da Espanha… e por aí fora… até que chegou outro a favor da Alemanha, sem que tenha marcado qualquer penalti a favor da nossa seleção, quando tivemos dois ou três casos que o mereciam. O madrugador penalti e primeiro golo da Alemanha e a expulsão de Pepe, a par de uma apatia a jogar que há muito não víamos, conduziu-nos a um contundente 4-0 em nosso desfavor.

Após muitos falatórios escusados pelo meio, principalmente da comunicação social, entrámos para o jogo com os EUA bem melhor, disputámos bem o jogo e, sinceramente, não merecíamos o empate, na minha opinião, mas a vitória. Mais uma vez, falta de fortuna e de jeito.

Para o jogo com o Gana, partimos na situação do falado “milagre” que tinha de acontecer. Porém, os astros estavam do nosso lado, pois a Alemanha fez o que precisávamos: venceu os EUA, apesar das suspeitas que já existiam no ar, e nós jogámos muito bem, tivemos as oportunidades necessárias para marcar os 5 ou 6 golos necessários, mas mais uma vez o infortúnio e a falta de jeito não nos ajudou, ficando apenas por uns insuficientes 2-1. No final colocam-se algumas questões: será que o Varela não deveria ter entrado de início, jogando o Cristiano ao centro do ataque em vez do Éder? É que nos 10 ou 12 remates que Portugal fez enquadrados com a baliza, 50% deles aconteceram após a entrada do Varela… Precisaríamos talvez de mais 15 ou 20 minutos, se as pernas aguentassem, para atingir o score necessário à passagem aos oitavos. Pareceu-me ser esta a única lacuna existente neste jogo, mediante as escassas opções que existiam no banco. De salientar ainda que, dos 23 jogadores convocados, apenas 2 não jogaram no mundial – possivelmente caso único entre as seleções presente no torneio – o que denota os problemas que as inesperadas e inexplicáveis lesões proporcionaram. Assim, Paulo Bento teve enormes dificuldades em ser fiel ao seu melhor e predileto “onze”, tendo existido em todos os jogos inúmeras substituições não por motivos táticos, mas por motivos de saúde.

Resta-nos afirmar que este não foi o pior mundial de sempre de Portugal e ainda que há um conjunto de jovens jogadores nos quais deveremos apostar para futuro e dar descanso a alguns dos atuais, que já detém alguma idade próximo da reforma futebolística e por isso deverá ser aproveitado o novo ciclo – a iniciar já em Setembro com os primeiros jogos de qualificação para o Europeu de 2016 – para reciclar a equipa.

Por último, há ainda que agradecer a estes jogadores o seu esforço e empenho na defesa das cores nacionais, incentivá-los e apoia-los e referir que o nosso Capitão Cristiano não tem, infelizmente, uma seleção à altura dos seus pergaminhos. Mas como não temos outros, temos estes, paciência, é com estes que temos de ir à luta.

Bem haja Cristiano, bem haja Paulo Bento, bem haja Seleção de Portugal!