Ai O Meu Homem! Alguém O Acuda! – Carla Vieira

Há algum tempo atrás comecei a ouvir uma música na rádio sempre que me apanhava dentro de um qualquer transporte. Na minha honesta opinião, é uma música parva e serve apenas para mostrar ao mundo não só a inaptidão da indústria musical mas também o estado em que a nossa sociedade está, que alguma alminha menos constrangida se acha no direito de celebrar a sua própria incompetência.

De que música é que eu estou a falar? Pois claro, da “grande” (sarcasmo) música do Miguel Araújo, “Os Maridos das Outras”.

Não sei quem este homem é nem a mim me compete saber, mas quem quer que seja sofre do mesmo distúrbio emocional que a nossa querida Margarida Rebelo Pinto, a coitada que se acha no direito de falar mal das “gordinhas” só para o leitor se aperceber que uma dessas lhe roubou ou o homem, ou a última fatia de pizza.

Só que, obviamente, a este ninguém lhe roubou o homem; talvez um homem tenha roubado a sua mulher, ou outra anormalidade qualquer que não se devia partilhar com o resto da humanidade.

A letra é toda ela uma amálgama de “woe is me sou tão mal-entendido porque tenho um pénis” contrastando com uma mentira terrível que é “as mulheres são umas putas”. Na verdade é só isto que se apanha da música inteira e nada mais. Não é o antónimo de uma canção de amor, é apenas, como diria talvez Freud, “mother issues” e a necessidade rápida de uma visita a um psicólogo.

Os homens são lixo, as mulheres nunca atentam às necessidades dos maridos, mas quando fofocam há sempre aquela pseudo-competição de “o meu marido é melhor do que o teu” o que cria uma espiral descendente de “o marido daquela faz-lhe isto, por que é que tu não fazes?”, como se o mundo girasse desta forma e não doutra.

Além de que cá para mim, eu que leio muito nas entrelinhas de quem é covarde o suficiente para as usar em vez de ser directo como as pessoas normais, há aqui um cheiro a traição-barra-adultério que eu não gosto nada. Não da parte dos homens (coitadinhos, tão inocentes), mas sim da parte das mulheres que claro, dita a natureza querem procurar o melhor parceiro possível, o alfa, e volta e meia é o marido da amiga e “pumba na Irina”.

Bravo, meu caro senhor, merecia um óscar ou um pulitzer só pela martelada de inspiração que se lhe deu ao escrever, compor ou apenas cantar esta belíssima pérola musical. Claramente um génio.

Caro conhecedor das subtis regras que traçam a natureza das pessoas detentoras de vaginas, sugiro-lhe ouvir a nhanha que cantou e uma desculpa ao público, ou talvez uma desmentira, porque se você não consegue satisfazer a sua senhora, isso é lá consigo; nós não precisamos de mais ódio e estereótipos que façam com que os homens se achem na indigna ideia de nos tratarem abaixo de cão, obrigada.



Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente