Altruísmo ou egoísmo? – Laura Paiva

No fundo todos os homens são bons e generosos.

Há algo que desperta, nos seres vivos, o seu instinto de protecção e auxílio aos seus semelhantes quando estes se encontram numa situação de fraqueza ou fragilidade.

Esta não é uma capacidade exclusiva dos seres humanos mas poderemos dizer que a educação e a sociedade, em que nos integramos, têm uma forte influência no nosso comportamento.

O altruísmo, como oposto ao egoísmo, é um acto de pura bondade para com outro ser vivo. Não se espera nada em troca, nem mesmo o reconhecimento, mas é algo que faz bem a quem o pratica – sentimo-nos úteis e a nossa vida toma outra dimensão.

É por esta razão que não percebo. Por muito que tente (e tentei com força suficiente), não consigo perceber.

Dar sangue é ou não um acto de bondade para com quem precisa?
Eu, que lamentavelmente nunca fui autorizada a dá-lo, considero que sim. Como tal, fiquei muito surpreendida com as notícias recentes que dão conta da diminuição das dádivas motivada pela anulação das regalias que beneficiavam os dadores. Se está errado ou não que lhas tivessem atribuído, não sei; se as razões dessa anulação são válidas ou não, não sei.
Mas, agora, tenho legitimidade para pensar que alguns dadores só o eram para benefício próprio… e isso tem um nome – egoísmo!

A polémica instalou-se no início deste ano mas estaremos nós ao corrente de todos os factos?
A isenção mantém-se caso o dador tenha efectuado duas dádivas nos últimos doze meses… Duas dádivas, no espaço de um ano, será pedir muito?

…”A legislação em vigor prevê, no artigo 4.º, a isenção do pagamento de taxas moderadoras para os Dadores Benévolos de Sangue, nas prestações em cuidados de saúde primários (Centros de Saúde).

No que diz respeito aos critérios para atribuição de isenção aos Dadores de Sangue, as Circulares Normativas da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), com os N.ºs 36 e 8, de 28 de Dezembro de 2011 e 19 Janeiro de 2012, respetivamente, explicitam que os Dadores de Sangue podem beneficiar da isenção do pagamento de taxas moderadoras nas seguintes condições: se tiverem efetuado mais de 30 dádivas na vida ou se tiverem duas dádivas nos últimos 12 meses, incluindo os candidatos à dádiva impedidos temporária ou definitivamente de dar sangue desde que tenham efetuado 10 ou mais dádivas válidas…”

Instituto Português do Sangue e da Transplantação

http://ipsangue.org/ipsangue2011/index.php?option=com_content&view=article&id=111:alteracao-legal-na-isencao-das-taxas-moderadoras-para-dadores-de-sangue

Há muitos anos atrás, fui transfundida em mais do que uma ocasião – daí surgiu o interesse em me tornar dadora de sangue. Dou graças por ter existido alguém, bondoso e de bem, que tornou possível contornar, ainda que temporariamente, o meu problema de saúde. Ainda bem que há 30 anos atrás a noção de altruísmo era outra…



Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos