Amigos, Amigos, Convocatórias À Parte

Começo o texto com muito pouca “tranquilidade”. Faço-o porque saiu a convocatória para o amigável contra os Camarões, aquela que acaba por ser uma das últimas oportunidades para experiências e o nosso estimado selecionador voltou a fazer das suas. Sabemos que é uma pessoa tranquila, já a maioria dos portugueses, nos quais me incluo, vai perdendo a sua tranquilidade a passos largos.

Comecemos pelo início e falemos da baliza. Se a não-convocação de Rui Patrício acaba por ser normal, visto querer dar oportunidade a outros assumindo que Patrício é intocável, a não-convocação de Ricardo assume contornos ridículos. Neste momento Ricardo Nunes é o guarda-redes português em melhor forma, sem a mínima dúvida. Garante pontos, faz defesas enormes e ainda comanda a sua equipa. Nem qualquer um dos três convocados está melhor, nem faz mais falta. O único ponto onde Eduardo pode ser mais forte que Ricardo é à mesa.

Na defesa o cenário não é menos grave. Paulo Bento não deve ver a Premier League, uma vez que semana após semana José Fonte continua a provar o seu enorme valor e a mostrar que merece, pelo menos, uma oportunidade. Os compadrios sempre tiveram presentes na sociedade portuguesa, mas algo vai muito mal quando se convocam 4 laterais e o Ricardo Costa (não falo no Rolando que até vem merecendo a chamada) e não se fala, sequer, no José Fonte. O que precisa de fazer mais? Marcar golos todas as semanas? A presença de José Fonte no Brasil é uma carta fora do baralho, o que se torna uma tremenda injustiça para o central dos Saints.

Se a convocação de Wiliam Carvalho vem sendo cada vez mais um dado adquirido e uma escolha acertada, a ausência de Adrien é um daqueles casos que nem Poirot num dos seus melhores dias conseguiria desvendar. Até André Martins, companheiro de Adrien no meio-campo leonino, teve mais oportunidades que o luso-francês, mesmo não as merecendo. Adrien é claramente uma peça que acrescentaria qualidade ao meio-campo português, o número 23 do Sporting tem feito uma época soberba e reclama por oportunidades que tardam em ser dadas. De referir ainda que o ciclo de Meireles na seleção já acabou há muito. É só mais um fetiche do mister. O outro desta vez não foi convocado, e ainda bem. Não faz sentido nenhum ter Micael no lote.

Por fim a ponta da flecha. O ataque. Apesar da agradável surpresa que foi a chamada de Rafa Silva à seleção, nem tudo são rosas e os espinhos são bastantes. Com a lesão de Postiga surge o velho problema que assombra qualquer português desde a altura de Pedro Pauleta, então e agora? Então, agora convoca-se o Edinho. Sim, o Edinho, aquele jogador portentoso que sempre que é chamado nos surpreende com as suas exibições extraordinárias e mortíferas. Muito se diz do nível de uma seleção que tem o Edinho como backup. Falta ainda falar da surpresa Ivan Cavaleiro, que fez mais de metade da época e dos jogos na Segunda Liga e que de influente na equipa A do Benfica não tem nada mas mesmo assim é convocado. Ao menos não se lembrou de convocar o Licá, menos mal.

Se falamos muitas vezes num país com fundo térmico liderado pelos tachos, o futebol português, e em particular a seleção portuguesa, são exemplos bem claros disso mesmo. O futuro é bom, é risonho e prometedor, agora é necessário saber geri-lo, saber manuseá-lo. Faltam mais oportunidades a jovens jogadores, falta não apostar sempre nos amigos. Amigos, amigos, convocatória à parte, enquanto não se parar com os compadrios, a seleção não vai a lado nenhum e continuaremos a ser o país do quase.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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