Amor: Quem Não Vê, Não Sente. – Carla Vieira

Ah, sim. Com certeza já ouviram falar das relações à distância, certo? Não? Eu explico. Estamos agora na época das novas tecnologias, em que os computadores cada vez mais ditam as novas regras sociais; somos convidados pelo facebook, conversamos pelo twitter e dizemos onde estamos ao postar no FourSquare. Existimos mais num ecrã do que na nossa própria realidade e cada vez mais deixamos de ser seres sociais para sermos avatares. Isto até pode nem parecer preocupante para vocês, embora a mim me dê arrepios. Passemos à frente.

Então, o que são relações “à distância”? Este nome é apenas uma maneira mais aceitável de se dizer “relação online”, pura e simplesmente. O termo LDR (Long-Distance Relationship) é o que os coitadinhos usam quando não querem ver a realidade a bater-lhes nos olhos de maneira desconfortável: a verdade de que estão basicamente a namorar com um computador.

Já conheci (e uso o pretérito porque não me dou com gente assim) algumas pessoas que realmente sim, acham que podem estar em Portugal e namorar com pessoas que estão na China, com certeza. Ai porque o amor supera tudo e apaixonaram-se ao primeiro clique (percebem, porque não pode ser à primeira vista, seria demasiado cliché), e a distância deixa de existir porque podem falar pelo skype. Falar e… Outras coisas.


Não entendo como é que as pessoas acham que isto é realmente algo possível e aconselhável. Passa-me completamente ao lado que em vez de irem laurear o rabo, os adolescentes de hoje prefiram ficar colados ao ecrã a queixarem-se de que não conseguem encontrar ninguém e depois metem-se nesta aventura de se apaixonarem por… Exactamente pelo quê? Eu pessoalmente ainda não consegui descobrir. Pelas palavras que tal pessoa escreve? Pelo xis tempo que essa pessoa está online e por isso é acessível? Por serem criaturas de outra cultura? Pela hora local? Ajudem-me lá, porque:

Palavras, leva-as o vento. Simplesmente na internet posso ser aquilo que me der na real gana e ninguém vai perceber, porque é a internet. Tempo online? Valha-me a nossa, que quanto mais tempo uma pessoa me aparece online, menos respeito tenho por ela. E vida social? E amigos? Está a zeros porque tem sempre a carola coladinha ao computador. Outras culturas? Até percebo que sejam interessantes, mas continuo a defender que ir viajar é muito melhor de que andar aos pinotes comigo própria a pensar num italiano ou inglês qualquer. E as horas locais, em nada ajudam. Não concebo alguém a ter uma vida saudável e depois ficar a noite toda acordado porque tem de ficar à espera que a alma gémea acorde.

Eu posso ser desconfiada, mas vamos lá a ver, existem tantos casos de encontros que correm mal! Desculpem-me lá se não sou liberal com a informação que dou, mas também julgo pela negativa quem me dá acesso a tudo o se pode chamar de pessoal. Não é a primeira vez (nem vai ser a última) que eu consigo descobrir carradas de informação sobre alguém sem essa pessoa se aperceber. Coisas como: nome completo, escola ou faculdade, morada e coisas que tais que tenho em minha posse pela simples ajuda do Google e de alguém que não soube fechar a matraca. E não, pesquisar coisas no Google não é ilegal. Temos a real pena se alguém me deu as ferramentas necessárias para que eu consiga coleccionar informação adicional. É só para vos mostrar que realmente o cuidado nunca é pouco, e se eu (a naba dos computadores) consigo descobrir onde vocês moram, outras pessoas conseguem pior.

Os computadores com ligação à internet até nos podem trazer benefícios como uma constante ligação a pessoas do outro lado do mundo, mas acho que em algum instante nos começamos a esquecer da realidade das coisas: nós não nos podemos apaixonar por um ecrã. E quando isso acontece, geralmente acaba da mesma maneira: acabando, porque coisas assim não duram para sempre.

Tirem as vossas conclusões à vontade, mas eu continuo na mesma. Porque somos sete biliões de pessoas no planeta, cada um de nós quando sai à rua encontra centenas de outras pessoas. Não precisamos de nos refugiar em sociedades online quando temos a nossa própria sociedade logo à nossa porta à espera de nos receber, e montes de pessoas por quem nos podemos apaixonar, e não só: abraçar, beijar, acarinhar.

O Amor não é “dizer que faz”. O Amor é fazer.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente