Ao Estudante que chega a “Terras de Menina e Moça”

Para ti, leitor do Ideias e Opiniões.

Escrevo sem formalidade aparente porque não me quero distanciar.

Escrevo-te no mesmo patamar.

De certo tomaste conta que escrevi “estudante” com letra maiúscula. Não o tomes como um erro. À letra maiúscula acresce-lhe a responsabilidade.

Passarás de estudante para ser Estudante. Apelido de estudante àqueles tempos em que, no final de um dia de aulas chegamos ao conforto daquele que sempre foi o nosso lar, onde temos o jantar pronto, a roupa lavada e engomada, quiçá a cama feita (porque, com a pressa nos esquecemos de fazer antes de sair para a escola). É estudante aquele que conhece os trilhos até casa porque desde tenra idade são os que contorna.

A verdadeira aventura começa em setembro!

Ai passarás a ser Estudante.

Adicionamos-lhe um certo brilho nos olhos inicial para aquilo que é novo; uma certa necessidade de descoberta, de conhecer, de passear, de ver. Como será viver na capital? – É a pergunta que começa a abundar os pensamentos.

Começas pela procura de quarto ou casa e aí já estás no meio de um labirinto: serão muitas as ofertas (segundo as caraterísticas que procurares) e o difícil é escolher. Talvez te diga que o ideal é pensares no fator “boa localização + distância do local de estudo”. Por outro lado, é controverso porque, se procurares algo perto do local onde estudas certamente os preços serão altos, porque acresce-se a comodidade de estares perto. Noutra perspetiva, poderás querer ter a experiência de partilhar casa com outro alguém (ou outros), e aí apenas terás que pensar no respeito por um espaço que é de todos e o qual tem de cuidar para vos proporcionar igualmente uma boa convivência. Em terceiro lugar, e talvez a maior procura, será uma residência de estudantes. E porque não? Talvez tenhas oportunidade de conhecer tantas pessoas diferentes, quanto iguais a ti, de cursos semelhantes ou totalmente opostos.

Adicionamos-lhe uma das principais descobertas para muitos, que é a simples tarefa de andar de transportes públicos. E aqui entra-se num mundo novo: ao olhos do estudante que vem de fora, ser Estudante em Lisboa é saber lidar com: carregar o passe, esperar pelos transportes públicos porque têm horas determinadas, contornar a ansiedade dos atrasos dos mesmos, passar por cima da frustração de estar com pressa e um elevador estar avariado ou as escadas rolantes paradas. E nunca nos esqueceremos da primeira vez que não saímos na paragem de metro que era suposto porque segue-se um “E agora?”.

Ser Estudante é chegar a casa, a noite já se faz notar, estará escuro e não estará lá aquela pessoa a quem dizemos “Boa noite”. Quanto muito, irás ligar porque há novidades para contar, fizeste mais umas quantas descobertas, ultrapassaste umas quantas dificuldades e ainda sentes a necessidade de partilhar tudo isso com quem te conhece decor.

Depois disso, ainda abres as marmitas que trouxeste de casa, porque ainda as há e sabe bem comer comida daquela que conheces desde sempre com sabores familiares. Depois terás que começar a cozinhar e começas com a sopa da praxe à qual não soubeste pôr o sal certo e está insonsa, mas vais comer orgulhosamente, porque foi a primeira que fizeste.

A próxima aventura é teres que meter uma máquina de roupa a lavar. São demasiados botões numa máquina quando tu só queres uma coisa: lavar a roupa. Vais acabar por ligar à pessoa que te conhece de cor e irás seguir instruções. Numa próxima vez já o farás sozinho porque aprendeste.

Segue-se a limpeza da casa (que coisa chata!). Mas sim, tem de ser feita e senão o fizeres ninguém o fará por ti. E não adianta meteres tudo para dentro de gavetas! Não estarás a tentar iludir a pessoa que te conhece de cor, e a ti também não te iludes: se abrires a gaveta estará lá tudo desarrumado, tal como foste tu a deixar.

Dentro do teu ambiente universitário, quanto às aulas (e o teu ambiente universitário, não se regirá apenas por isso, mas também), tal como no teu percurso escolar até então, terás umas que gostas mais, outras que gostas menos. O que importa é perceberes que nem sempre tudo pode ser do teu agrado, mas isso não quer dizer que não tenhas que trabalhar com o mesmo empenho para todas.

 

Por fim, quero-te falar das pessoas que conheces. Amigos, dir-me-ás tu. E eu dirte-ei que não sabes. Não saberás. Entras na faculdade e são muitos os rostos novos e nenhum te é familiar. Procuras inserir-te, ou terás a atividade de praxe (se assim o entenderes) que te ajudará nesse sentido, conhecer o colega do lado. A pergunta habitual é conhecida “de onde és?”. Abarcas contigo a curiosidade de saber o quão distante ou não a pessoa vive da tua terra de origem. Outras vezes não irás perguntar porque o sotaque irá denunciar a pessoa. Acabas por soltar um sorriso e pensar “seremos bons amigos?”.

O único pensamento que te deve assombrar inicialmente é “estamos aqui todos para o mesmo”. Nesse sentido não há diferenças. As que houverem, se tiverem que ser ultrapassadas para travares uma boa amizade, serão.

À quinta ou mesmo ao fim de semana, porque não descontraíres? Também será ai que a diversão acontece, que te podes divertir com as pessoas que conheces. Serão aqueles momentos de descontração em que apenas te pedem uma coisa (e também deverás pedir a ti mesmo): diverte-te!

 

Lembra-te disto: Tens muito a aprender em Terras de Menina e Moça, mas é proporcional àquilo que trazes contigo para ensinar.

Fora isto, o tempo universitário será um tempo de alegrias, tristezas, stresses, vitórias. Mas acima de tudo será um tempo teu e que tens de aproveitar por ti e para ti!

Acredita em mim quando te digo que Lisboa te fará crescer!