Aquele que criou Hollywood – Bruno Neves

Poucas coisas na vida são mais revoltantes do que ver o nosso mérito entregue a outros, ou simplesmente não nos ser entregue. E é este mesmo o tema desta semana, se bem que aplicado a Hollywood. E se não fosse George Hurrell Hollywood não seria o que é hoje. “Quem?” Pois, agora a primeira frase deste texto faz sentido não é?

Nasceu em 1904 em Cincinnati e em 1925 concluiu os seus estudos de pintura e arte gráficas no Chicago Art Institute.

Hurrell conheceu então o pintor paisagista Edgar Alwin Payne, que ficou admirador dos seus trabalhos e o incentivou a mudar-se para a Califórnia. Por lá, Hurrell começou a experimentar a fotografia, tornando-se íntimo do jet set local. Não demorou muito para abandonar de vez o interesse pela pintura.

Ainda em Laguna Beach, Hurrell foi apresentado a Florence Barnes, uma rica e famosa aviadora da época, que viria a ser uma das suas primeiras clientes. Em 1927, Hurrell abriu o seu primeiro estúdio fotográfico, em LA. Em 1928, a sua carreira foi impulsionada quando Barnes o apresentou a Ramon Novarro, um dos maiores astros do cinema mudo da época. Novarro autorizou Hurrell a tirar algumas fotografias suas, e o resultado das fotos foi tão bom que chegaram a ser publicadas no jornal “Los Angeles Times”.

Novarro ficou tão satisfeito com as fotografias que as mostrou á sua colega de estúdio Norma Shearer. Ela, por sua vez, estava empenhada em mudar a sua imagem para ganhar o papel principal do filme “A Divorciada”, de 1930. Shearer pediu a Hurrell para fotografá-la e o resultado final foi tão satisfatório que ao mostrar as fotos ao seu marido, Irving Thalberg (executivo do MGM) ele decidiu contratá-lo como chefe do departamento de fotografia.

Em 1932, George Hurrell deixou a MGM. Mas entretanto já se tinha tornado num dos mais prestigiados fotógrafos da indústria cinematográfica. Abriu um novo estúdio em Sunset Boulevard, trabalhando como freelancer para a maioria dos estúdios. Durante a década de 30, Hurrell fotografou todas as novas estrelas contratadas pela MGM.

George Hurrell foi o criador de um estilo de fotografia, com avanços que foram imitados por uma legião de profissionais. O impacto do seu trabalho foi tão forte que pode-se mesmo dizer que Hurrell concebeu a própria imagem glamourosa de Hollywood. No começo dos anos 30, os Estados Unidos viviam a Grande Depressão. As pessoas precisavam de magia, precisavam de ter ídolos para venerar e precisavam de histórias para se distrair das suas próprias histórias. E Hollywood deu-lhes tudo isso. Hurrell contribuiu assim para a criação da imagem daquelas que ficariam conhecidas como “divas inalcançáveis”.

Com a II Guerra Mundial, George Hurrell deixou Hollywood para servir na First Motion Picture Unit, da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, elaborando filmes de propaganda. Quando retornou a Hollywood percebeu que o seu estilo de fotografia tinha caído em desuso.

Em 1965, a inclusão de algumas das suas fotografias numa exposição, causou um repentino revivalismo pelo seu trabalho. Pelo restante dos anos 60 e 70, continuou a trabalhar como freelancer em diversas produções e fotografou inúmeras celebridades. Acabou por se reformar oficialmente em 1976, mas continuou a trabalhar até bem perto de sua morte.

Acabou por falecer, vítima de um cancro, em 1992, aos 82 anos de idade. Á beira da morte, quando os seus médicos vieram dar-lhe a notícia de que talvez tivesse somente mais um dia de vida, Hurrell respondeu: “Bem, a festa acabou. Está na hora de ir para casa.”

É certo que teve a sua quota-parte de sucesso mas não deixa de ser injusto que a esmagadora maioria nunca tenha sequer ouvido falar dele e do seu trabalho.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
Visite o blog do autor: aqui