Arejar os monos reais – Teresa Isabel Reis

Tenho andado a pregoar, tipo santa, sobre as limpezas virtuais, mas a verdade é que a minha vida está cheia de monos e eu ainda nem me livrei da princesa que é a minha avó.
Também ainda não consegui que a minha mãe se livrasse daquele biblot horroroso que alguma tia lhe deve ter dado ainda na época dos dinossauros.
E ainda não consegui que o meu pai mandasse para o sucateiro uma série de relíquias que estão na garagem e que eu nem sei para que servem.
Cheguei á triste conclusão que cá em casa muita coisa se resume ás relíquias… Coisas, a maioria obsoleta ou sem utilidade visível, que vão ficando por cá, tudo porque, conquistaram o seu lugar aqui ao longo dos anos.

Não posso falar de relicários sem mencionar o meu avô, esse guarda tudo, de uma maneira inexplicável, fazendo um bunker de tralha como se até o trapo mais roto e velho nos fosse salvar de um apocalipse iminente.
Haja paciência, e que Deus me dê muita, para eu entender o motivo pelo qual certas pessoas guardam aquele desodorizante para carro gasto cujo único cheiro que tem é o do mofo.
É que já basta a quantidade de documentos, facturas e papelada para o IRS que se acumula nas gavetas como se eles se reproduzissem quando ninguém está a ver.

E como se não bastasse, existe sempre azar crónico de uma dona de casa que se quer ver livre dos monos. Sempre que vou arrumar rezo baixinho para que acidentalmente aquele prato, que sobreviveu a tudo o que é catástrofes me fuja das mãos em direcção ao chão e se parta em mil bocadinhos. Mas qual quê?! Consigo sempre ter um verdadeiro acidente, com o prato novo de um conjunto todo catita que acabei de adquirir.

Outra coisa que me irrita nos monos é que, eles passam de moda muito rapidamente. Por esse solene e muito sério motivo, não entendo porque motivo, é que a minha avó e a minha mãe aos pouco já encheram uma arca gigante de coisas que dito por elas “são para o meu enxoval”. Estou cansada de pregoar que não me vou casar de um dia para o outro e que já tenho ali uma quantidade de panos da loiça que vão durar toda a minha vida de casada e com sorte ainda outros tantos para a velhice e para o pós morte.
O pior desse dito “enxoval” é que ele dura uma vida inteira, junta-se a isso as peças de decoração que toda a gente teima em dar, mesmo sem saber se nós gostamos de ter aquilo em nossa casa, e temos uma casa não decorada ao nosso gosto, que está a acompanhar uma moda que já é obsoleta e depois andamos toda a vida a rezar para deixar o mono cair ao chão só para nos vermos livre dele.

Juro aqui perante todos, que se acordar um dia de manhã e vir que a minha casa são só monos de loiça oferecidos por alguém com muito mau gosto, vou pegar na vassoura e dar cabo deles um a um… Afinal de contas sempre tive o sonho de jogar golfe e basebol com coisas delicadas.
Mono que é mono não parte, fica ali anos inteiros a observar-nos e a criticar a nossa falta de vontade de acabar com eles… São peças de loiças sim, mas tem vontade própria e se for necessário vivem mais do que nós.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas