As 20 Melhores Canções Internacionais de 2018

A viragem do calendário equivale sempre a balanços. Pessoais, profissionais, de qualquer espécie. Analisar e compreender o que significou a passagem do ano cessante, enquanto olhamos com esperança para o que está ao virar da esquina.

Aqui tentamos compilar um punhado de canções internacionais que mais nos acompanharam e deram sentido aos últimos doze meses. Passadeira desenrolada, intérpretes a postos. A derradeira marcha de 2018 começa agora:

Ella Mai- “Boo’d Up”- Não é todos os dias que vemos uma londrina a singrar em terras do Tio Sam com uma valente e nostálgica composição R&B noventista, que tantos corações fez derreter por esse Verão fora. Mas estamos em 2018 e a configuração urbana do mainstream assim o permitiu: encantadora no canto, avassaladora na mensagem. Ella Mai veio para ficar.

Troye Sivan- “My My My!”- Logo na aurora do ano, Troye estilhaçava a imagem de youtuber feito estrela pop acidental e cumpria, por fim, o seu desígnio: tremendo tema pop sobre expressão sexual, amor e desejo, “My My My!” é entregue sem inibições, numa celebração da identidade pessoal e artística do seu autor.

Ariana Grande- “No Tears Left to Cry”- Em 2018 poucos alinharam tão bem os acontecimentos da sua vida pessoal com os da vida artística quanto Ariana, aqui a regenerar-se na pista de dança com uma desafiante construção dance pop de batida garage, erguida como monumento aos acontecimentos de Manchester, sobre dar a volta por cima e perseverar perante a tormenta. Lovin’, livin’ and pickin’ it up.

Kendrick Lamar & SZA – “All the Stars”- Já se aperceberam da quantidade de canções internacionais incríveis com que fomos agraciados logo no primeiro trimestre do ano? “All the Stars” é outra que tal a entrar para as contas: uma estrondosa produção com dois dos maiores activos da Top Dawg à solta, a unir os pontos da constelação pop e hip hop e a anunciar ao mundo o sucesso massivo de Black Panther.

Cardi B, Bad Bunny & J Balvin – “I Like It”- Se a casualidade tivesse transformado Cardi numa estrela do dia para noite, o sucesso não teria durado para ver “I Like It” ser aclamado como hit do Verão’18 ex-aequo com “In My Feelings” de Drake. A batida semi-salsa inteiramente trap é um arraso, Balvin e Bunny são uma mais-valia, e o carisma de Cardi tudo vende.

Khalid & Normani- “Love Lies“- Ninguém estava preparado para receber um primeiro single de Normani tão bom. Khalid, como bom filho da nova dinastia R&B, estava lá para apadrinhar. E o resultado foi um chamado match made in heaven. Maravilhosa oferenda R&B incrivelmente madura para dois artistas ainda tão jovens, “Love Lies” foi uma das boas surpresas do ano.

Foster the People- “Sit Next to Me”- Foi vago e passageiro, mas em 2018 Foster y sus muchachos estiveram incrivelmente perto de quebrarem o rótulo de one-hit-wonders com a odisseia pop-funk-psicadélica-celestial de “Sit Next to Me”, com as suas infinitas harmonias à Bee Gees a reporem a fé na campanha de Sacred Hearts Club – e a provar que esta malta está longe de ir ao tapete.

Rosalía- “Malamente”- Tra, tra! Decididamente, Rosalía veio dar início a uma nova dinastia cujos efeitos ainda se farão sentir ao longo do próximo ano. Foi precisamente com a ginga hipnótica de “Malamente”, mutante pop-flamenco-electrónica com estética apurada e carisma imponente a condizer, que o fenómeno começou. Nunca o sentir malmuymalmuymal soube tão bem.

Ciara- “Level Up”- Como mitigar três anos de ausência com uma só canção? Um: pegar num sample de um êxito viral. Dois: construí-lo numa tónica de empoderamento feminino. Três: certificar-se que é nada menos do que um banger. Quatro: levá-lo à vida com ultra-frenética-complexa coreografia. CiCi queen a mostrar à nova geração como se faz.

Sigrid- “Sucker Punch”- Ano após ano, as novas esperanças nórdicas continuam a provar que há qualquer coisa de extraordinário na pop escandinava, uns quantos anos à frente do resto do planeta. “Sucker Punch”, single à prova-de-bala da norueguesa Sigrid, é a melhor montanha-russa sonora de 2018: a verve de uma jovem Avril, lírica trepidante, dinamite sonora e carisma a rodos.

Billie Eilish- “When the Party’s Over”- O tema é infinitamente triste. A sua voz raramente se eleva acima de um sussurro – à margem de dolentes teclas de piano, é a artéria principal sobre o qual este se constrói. Continua a ser assombroso o que uma adolescente de 16 anos e o seu irmão de 21 conseguem esquadrinhar em conjunto. Que o prodígio de Eilish perdure em 2019.

The Brummies feat. Kacey Musgraves- “Drive Away”- O escapismo como pano de fundo, a década de 70 em fita analógica a perder de vista. Como é que um trio debutante do Alabama surge do nada e faz uma das canções internacionais do ano, é um completo mistério. Chamar Kacey Musgraves, borboleta da música country, para adornar “Drive Away” em luxúria rock psicadélica foi só a melhor coisa que poderiam ter feito.

Khalid, Ty Dolla $ign & 6LACK- “OTW“- Poucos debutantes fizeram em 2018 um percurso tão glorioso quanto Khalid, a lançar resmas de singles, na sua maioria de tremenda qualidade. “OTW”, intoxicante pedaço de trap-R&B melódico cultivado nos férteis terrenos dos anos 90 sobre estar lá a qualquer hora para o #crush, só não foi maior porque os seus outros 19 singles não deixaram.

The 1975- “Love It If We Made It”- A modernidade pode ter-nos falhado, mas felizmente que os The 1975 não. Matt Healy e companhia construíram aqui o seu “We Didn’t Start the Fire”, um massivo hino de contestação social de versos cáusticos e melodia maior que a vida, que não deixa de emular um certo sentimento de esperança neste antro de caos e corrupção moral.

Unknown Mortal Orchestra- “Hunnybee”- Pensem no dia de Verão mais perfeito que possa existir. O céu é de um azul límpido e profundo. O sol banha os campos, o mar e a configuração citadina de uma luz resplandecente. O ar é percorrido por uma leve brisa que atravessa os sentidos. E o mundo é um lugar apetecível. “Hunnybee” é porventura a canção mais idílica que Ruban Nielson e companhia fizeram até hoje.

Janet Jackson & Daddy Yankee- “Made for Now“- Quão admirável e comovente é ver uma veterana lendária como Miss Jackson a apontar para novos horizontes sónicos passados 35 anos na indústria? Mais do que a alinhar pelo sabor da temporada, os ritmos quentes afrobeat/reggaeton jubilosos de “Made For Now” fizerem deste mais um momento reluzente da sua discografia.

Sunflower Bean – “Twentytwo”- Mais uma excelente banda a ser liderada por uma rapariga (Julia Cumming, de seu nome) cheia de atitude e verve, que impregna um tema tão encantador construído em torno das pressões e expectativas que a sociedade deposita nas jovens mulheres de uma aura soft rock não destituída de heranças dos Fleetwood Mac. Thank god she won’t go quietly.

Taylor Swift – “Delicate”- Reputation conheceu um (inesperado) ponto final com a electropop aveludada de “Delicate”, mas nem haveria melhor canto de cisne possível. O ciclo do álbum nº6 envolveu ira e devassidão, mas no final o público e a crítica haveriam de ressoar sobretudo com uma das canções internacionais mais vulneráveis e impecavelmente escritas do ano: no fundo, a que nos devolve a boa e velha Taylor.

Camila Cabello- “Never Be The Same”- “Havana” foi a canção que a tornou na estrela pop que haveria de ser, mas há algo de apaixonante na forma como “Never Be The Same” captura uma moldura de afirmação e glória definitiva da sua intérprete. Aliar isso ao poder transformador e epifânico de um amor arrebatador, faz com que se torne numa canção tão mais poderosa.

Ariana Grande- “Thank U, Next”- Tanto há para aplaudir no single que finalmente deu a Ariana a aclamação merecida: a forma como se constrói a partir dos fragmentos da sua conturbada vida pessoal; a benevolência com que recorda o passado e o optimismo com que encara o futuro; a capacidade de congregar as massas num tempo que acaba por definir como seu. Nem poderia haver melhor canção para assinalar este momento.

 

Vamos conservar 2018 por mais umas horas, agradecendo a boa colheita musical que nos trouxe, enquanto nos preparamos para receber outra tão boa ou melhor.

Um feliz ano novo a todos!