As 30 Melhores Canções de 2016

Todos os anos a história se repete. Passamos em retrospectiva os recortes musicais dos últimos 12 meses, para depois nos dedicarmos a uma árdua, e nem sempre pacífica, tarefa de eleger os melhores dos melhores.

A lista abaixo não pretende ser mais do que uma celebração da colheita de 2016 – dos intérpretes e das canções que marcaram o ano que agora finda. Vamos então percorrê-la!

Primeiro as Internacionais:

The Weeknd feat. Daft Punk- “Starboy”- Porque a última coisa que precisávamos para idolatrar ainda mais Abel Tesfaye era que colaborasse com os icónicos robots franceses. Insinuante e hipnótico, bebe o melhor dos dois mundos para criar um monstruoso híbrido synth-R&B que nos esmaga a cada audição.

Beyoncé feat. Kendrick Lamar- “Freedom”- Poucas canções em 2016 soaram maiores que a vida como esta. Encontro da realeza pop e do hip hop para uma comunhão blues rock/gospel, “Freedom” é o momento em que a luta interna de Lemonade é canalizada em torno da comunidade afro-americana. Contra a opressão e pela igualdade, marcharemos.

Rihanna- “Kiss It Better”- Momento de ouro do não consensual Anti, é o “Purple Rain” de Rihanna ou, se preferirem, um “Dance for You” tão ou mais inebriante – de qualquer das formas, não fica mais criticamente aclamada do que isto. Foi mágico sucumbir ao seu encanto.

Ariana Grande- “Dangerous Woman”- Foi preciso um semi-deslize chamado “Focus” para Miss Grande fazer valer o apelido e entregar-nos a canção mais madura e impressionante do seu percurso, numa das mais estrondosas tour de force vocais que a pop acolheu em 2016.

Mac Miller feat Anderson .Paak- “Dang!”- Waaaaait! Mac Miller e o seu The Divine Feminine foram uma das surpresas deste último trimestre do ano, com o pegadiço “Dang!” a coroar o quarto álbum do rapper de Pittsburgh. O charme lírico de Miller, o groove funky inescapável e a sedutora brisa vocal de um Anderson .Paak também em ano de glória, ajudam a explicar o porquê.

Calvin Harris feat. Rihanna- “This Is What You Came For”- A EDM é um lugar pouco imaginativo em 2016 mas, felizmente para nós, ainda bastante aditivo. Não foi definitivamente para isto que revisitámos o duo todo-poderoso que nos deu “We Found Love”, mas ainda assim houve fascínio de sobra para a sequela. O Verão não se conta sem ela.

Justin Timberlake- “Can’t Stop the Feeling”- Falando de decepções desculpáveis, JT deu-nos a maior delas este ano. O “Happy” da estação Primavera/Verão 2016 pouco fez pela evolução artística do seu autor, mas poliu o seu título de Príncipe da Pop. Autêntica dose de vitamina D, coloca-nos sempre de sorriso no rosto. E não poderemos realmente culpá-lo por isso, certo?

Dua Lipa- “Be the One”- O que há de tão estupendo no single de estreia de Dua Lipa é a sua influência balcã mergulhada em tão vívida e esfuziante construção synthpop. É o tipo de aroma encontrado em certas canções eurovisivas que o mainstream não chega a receber. “Be The One” tem isso e uma intérprete imensa, maior que a vida – e talvez por isso soe tão especial.

Flume feat. Kai- “Never Be Like You”- 2016 foi o ano de afirmação do wonder kid australiano no mainstream, muito por culpa deste “Never Be Like You”, pedaço alienígena de trap, R&B e future bass que parece ter saído directamente de 2036 e que o colocou definitivamente no mapa do mercado norte-americano. Barulhinho bom!

Chance the Rapper- “No Problem”- Raras são as ocasiões em que o hip hop consegue produzir autênticas feel good songs. “No Problem” no fundo também não o é – antes um atestado à resiliência da feliz independência de Chance – mas que de alguma forma o coro gospel transforma em pedaço luminoso. Não dá para não dançar!

Angel Olsen- “Sister”- Indiscutível musa alternativa do ano, Angel Olsen deu-nos não só um dos melhores discos dos últimos doze meses como também uma das canções mestras. Magnífica prosa sobre a procura de uma versão mais nova, destemida e esperançosa de nós mesmos, “Sister” é entregue com variados graus de comoção e dolentes solos de guitarra, em sete dos mais incríveis minutos ao serviço da música em 2016.

Clean Bandit feat Sean Paul & Anne Marie- “Rockabye”- O trio britânico sabia ao que ia quando lançou este torpedo dancehall com a vocalista em ascensão Anne-Marie e o sempre-imprescindível-nestas-andanças-tropicais Sean Paul. Versar sobre a árdua vida das mães solteiras foi o derradeiro clique emocional. Bravo, malta.

Metronomy feat. Robyn- “Hang Me Out to Dry”- Um dos momentos que mais atesta a vitalidade do quarteto britânico em Summer 08 é este compelativo dueto com a instituição da pop sueca que é Robyn, para um pulsante e algo melancólico número synthpop que captura a névoa de Twin Peaks.

Zara Larsson- “Lush Life”- O primeiro grande êxito mundial da nova potência da pop made in Sweden data de 2015, mas só chegou até nós em 2016, daí ser legítimo elegê-la como uma das melhores do ano que agora finda. Nada mais do que uma excelente canção electropop, “Lush Life” apanhou-nos ao primeiro segundo e nunca mais nos largou – rima com sol, diversão, palmeiras e piña colada. Ahh, um brinde a essa vida dispendiosa.

Sia feat. Sean Paul- “Cheap Thrills”- Antes de ser vilipendiada pelo replay exaustivo e de longa-duração, “Cheap Thrills” era um belíssimo exemplar de reggae pop a que o acréscimo de Sean Paul veio tornar ainda mais autêntico. Deu calor ao Inverno, luz à Primavera, ritmo ao Verão e só teve ordem de repouso no Outono, quando “The Greatest” a veio render. Não houve em 2016 outro hit tão económico e incansável.

Radiohead- “Burn the Witch”- Triunfante cartão-de-visita de A Moon Shaped Pool, “Burn the Witch” devolveu os Radiohead ao topo da liga alternativa. Uma melodia messiânica maior que a vida envolve versos acusatórios contra o abuso de poder, enquanto uma fantástica progressão de cordas, veloz e mortífera, nos conduz pela tenebrosa narrativa.

James Blake feat Bon Iver- “I Need a Forest Fire”- Cinco anos depois, o par de “Fall Creek Boys Choir” voltou a unir-se para uma encantatória e reflexiva balada pop electrónica com balanço R&B, de digitalismos mil e harmonias sem fim, a prolongar a química e o assombro do primeiro encontro.

Ariana Grande- “Into You”- Novamente assistida pelo artífice Max Martin, o segundo single de Dangerous Woman devolveu-a à pista de dança com intenções carnais e efeitos arrasadores, ainda que não tenha cumprido todo o seu potencial comercial. Pura dinamite.

Anohni- “Drone Bomb Me”- Nada pode ser mais triste do que ouvir uma criança a clamar pela morte da mesma forma que viu a sua família ser-lhe tirada. É o perturbador exercício de crítica e reflexão a que Anohni se propõe num dos momentos mais fortes de Hopelessness, electrónica avant garde comandada pela sua voz sempre tão arterial e emotiva.

Snakehips feat. Zayn- “Cruel”- Esqueçam “Pillowtalk”, “Like I Would” ou “It’s You”. O primeiro desertor a solo dos One Direction fez-se credível com esta aliança com o duo de produtores britânico Snakehips, também já a pedirem uma maior aclamação crítica e comercial. É por aqui o caminho, Zayn.

E agora as Nacionais:

Mishlawi- “All Night”- Num ano em que a cultura urbana lá fora voltou a estar no centro do mainstream, Portugal assistiu ao nascimento de um novo valor nos domínios do hip hop e R&B que se arrisca a ser o mais próximo que estaremos de ter um Drake luso. “All Night” soa a clássico que continuaremos a ouvir daqui a dez anos. #lit #dopeashell

Octa Push feat. Cachupa Psicadélica & João Gomes- “Gaia Cósmica”- Bruno e Leonardo continuam a espalhar a lusofonia no mais recente Língua, de onde este “Gaia Cósmica” será o ponto alto. Afrobeat e tropicalismo entregues em crioulo, música que embala o corpo e convida a divagações astrais.

Gisela João- “Labirinto Ou Não Foi Nada”- Engraçado como G.I. Jo puxou um “Beyoncé” da cartola e nos fez chegar Nua sem aviso prévio. Como sempre, como dantes, isto é, com a mesma entrega maior que a vida, aquela voz gutural que manuseia palavras como cristais e a entoar um poema lindo. Depois, há um trabalho magnífico ao nível da instrumentação. Bravo, Gisela!

Nice Weather For Ducks- “Marigold”- Que os ares de Leiria são propícios ao desenvolvimento de novos talentos, já o sabíamos. Que os NWFD se tornariam num valor seguro da música portuguesa, também. “Marigold” é um belo exemplar de indie rock com aroma tropical, a prolongar o charme da estreia de 2012 – tudo certo, portanto.

peixe : avião- “Miragem”- Peso Morto fez-se tardar, mas chegou nos passos de “Quebra” e deste turbulento “Miragem”, desde logo a conduzir o ouvinte por um dos melhores discos alternativos do ano. Shoegaze e krautrock em agitados diálogos entre guitarra e bateria, envoltos numa neblina industrial que têm sabido desenhar com mestria.

Golden Slumbers- “New Messiah”- O ano fica também marcado pelo sólido debute das irmãs Falcão, que atesta a maturidade e fortalecimento da sonoridade folk praticada no EP I Found the Key (2014), agora por caminhos mais eléctricos e bravios, bem demonstrado pelo catita single de avanço, “New Messiah”. Só não lhes chamem fofinhas.

You Can’t Win, Charlie Brown- “Above the Wall”- Nunca os YCWCB me soaram tão bem como com este “Above The Wall”, agitado e portentoso pedaço de electro-rock, que se move num ror de teclados, guitarras e baterias em tela 8-bit. O vídeo, esse, é um dos bombons visuais do ano.

First Breath After Coma feat. Noiserv- “Umbrae”- Dificilmente existirá este ano outro trabalho audiovisual em solo nacional tão magnífico quanto este. Conhecê-lo é mergulhar nas artérias da canção, camada a camada, rumo ao seu doloroso núcleo. Post rock expansivo embalado pela voz imersiva de Noiserv e ilustrado pela brilhante performance de Rui Paixão.

Best Youth- “Fanatic”- Para nosso gáudio, Ed Gonçalves e Catarina Salinas continuaram a pisar crateras lunares em 2016. A sedutora e lenta combustão de “Fanatic” recordou-nos que o encanto de Highway Moon não se esgota com o passar do tempo. Dream pop celestial de veludo.

Noiserv- “Vinte e Três”- Noiserv desconstruído é tão compelativo quanto Noiserv munido da sua fascinante complexidade – uma das lições a reter da cartilha musical de 2016. Em português, ao piano e com a concisão que sempre o assiste, “Vinte e Três” ressoa no ouvinte, convidando-o a ficar cativo ao universo bolinha de sabão que David Santos tão bem sabe criar.