Domingo de Páscoa, flores lindas pelo chão, á entrada das casas, o sino que se ouve, as campainhas a tocar, senhores vestidos de branco ou com faixas vermelhas que erguem uma cruz beijada e enfeitada com flores, foguetes anunciar Aleluia! Aleluia! Domingo de acordar fugaz, amêndoas de todas as cores e sabores, uma nota num envelope para entregar aos senhores do compasso, ovos pintados, o pão de ló, a regueifa, a garrafa do vinho do Porto, familiares que se encontram, afilhados que recebem o seu folar! É o retracto de um Domingo de Páscoa antigo com perfume a flores de primavera.
Toda a gente aspira por uma Páscoa…um tempo de ovos e amêndoas doces, um tempo de libertação de um cativeiro imposto e estranho, muitas vezes difícil de ser entendido!
Páscoa, sinónimo de felicidade, fertilidade, longevidade, saúde, festa que simboliza a nossa passagem, a divisória que nos separa do mistério das coisas a que chamamos Vida!
Será este o conceito de Domingo de Páscoa para todos, ou pelo contrário, será mais um dia com sabor a amêndoa amarga? Infelizmente gostaria de colorir somente este dia, com tons suaves e doces, mas não consigo, não por motivos pessoais, porque felizmente ainda tenho o privilégio de reviver intensamente todo um retrato de uma Páscoa na sua plenitude, mas porque tive hoje mais uma vez que lutar contra a tristeza enorme de ver pessoas que não conseguem partilhar este dia com os seus familiares, estou a falar de idosos que pela lei da natureza se encontram numa fase de transição nesta passagem e que sentem na pele a ausência de um carinho doce do seu filho ou familiar, alguém que lhes possa mostrar um dia diferente, alguém que lhes faça reviver todo o encanto que já sentiram em outros Domingos de Páscoa.
É tão triste ver somente um suspiro ao olhar a porta de entrada ainda com alguma esperança… e aos poucos as horas vão passando, a hora do almoço chega, e a certeza que irá ser um Domingo igual aos outros permanece. É desolador receber abraços que carregam somente mágoas e ressentimentos, frases cheias de emoção, que nos obrigam a dizer palavras improvisadas de conforto (justificando sempre a favor das famílias), porque nem mesmo nós muitas vezes estamos a contar com tal abandono. Não quero com isto condenar os familiares destas pessoas, ninguém deve julgar seja o que for, gostaria somente de apelar a uma maior sensibilidade, porque quem lida com estes seres diariamente capta toda esta carência.
A uma determinada fase, passamos a ver a vida como uma amêndoa amarga envolta num papel dourado, precisamos de alguém que nos separe o papel e nos mostre que a oportunidade deste encontro entre a vida e a morte não deve ser agonizado a toda a hora, mais do que máquinas, precisamos de humanidade, mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será violenta ou melhor será sempre uma amêndoa amarga.
Quem este ano ainda não foi a tempo de contribuir para a doçura de uma vida, deve começar a pensar nisto…falo com base num testemunho de hoje que me deixou com a lágrima no canto do olho…mais parecendo um dia de inverno que um dia de Páscoa.
Mais activamente, ou não, o meu desejo é que nunca se esqueçam de aproveitar este tempo para relembrar valores fundamentais como o perdão, a tolerância e a capacidade de olharmos e darmos mais pelos outros!
Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa
A pascoa nao e igual para todos realmente
Pra mim ja foi assim, com compasso, flores no chao, foguetes, tudo isso em ambiente das aldeias
Hoje em dia nao, nao gosto desta epoca, lembra-me coisas muito tristes k me aconteceu na epoca da pascoa
Mas vivo bem com isso, faco por deitar pa canto
Mas se existe algo k me revolta, k me deixa mesmo triste e saber que tem velhinhos que sentem a solidao, k nao conseguem ter os familiares a dar-lhes atencao, nao aguento….
Com isto nao estou nem de perto nem de longe a crticar seja quem for pois ninguem sabe o porque k isto acontece,
Agora realmente pessoal isto so me lembra de uma coisa muito importante , vamos aproveitar todos os bons momentos da vida, pois a qualquer momento podemos nao os ter, ou porque somos velhos, ou porque nao temos ninguem ou ate porque ja nao sentimos
Tou entalada maria aida mas dou te os parabens pois sei que ficas triste por saber que a pascoa nao e boa para todos e isso so mostra a boa pessoa k es
Bela, também eu tenho lembranças menos positivas desta época, sabes tão bem quanto eu, no entanto acho que a isso devo a minha fé, a certeza que o sofrimento nos leva a um caminho eterno em que a nossa fé nunca pode ser abalada … a Páscoa começou a ter para mim ainda mais signficado, o verdadeiro significado da Ressureição, sem isso não me assumo como cristã na sua totalidade.
Mesmo sem a presença fisica de algumas pessoas que um dia viveram este dia a meu lado,de uma forma muito intensa(uma delas é o meu sobrinho)quero que onde quer que estejam sintam muito orgulho por darmos continuidade e acreditarmos no verdadeiro significado desta época.
Relativamente aos idosos, é sufocante contar algumas passagens que este dia me obriga a viver…resta-me a certeza que fiz o meu melhor,não conseguindo substituir ninguém, tentei que as “amendoas amargas” pudessem ter o sabor pelo menos de alguma doçura.
Espero que já não estejas entalada, gosto mais de te ver rir….beijinhos para ti, és uma pessoa especial…mais palavras para quê!
Olá Aida!
Religião à parte, há uma coisa que me preocupa muitíssimo!
Eu sei que são dias “diferentes” mas… não se pode matar a solidão, não se pode dar carinho e amor apenas nos dias festivos.
Assim como não se pode escolher a família que se tem!
Não estou aqui para julgar ninguém – Quem sou eu para julgar quem quer que seja!
Gostava, apenas, de voltar a dizer uma coisa: bem haja pelo trabalho que faz, pela dedicação, pela atenção e carinho que dá a quem não tem mais ninguém…
Laura,vou-me repetir e dizer o que disse há São Bastos, que bom seria que a Páscoa não fosse um dia! Mas…independentemente da religião, sabemos que esta realidade nos assombra, o abandono, o esquecimeto durante o ano já custa, nestes dias tem um acréscimo muito elevado e é com esta dor que os dias vão somando as amendoas amargas.
beijinhos
Para mim, efectivamente a Páscoa nos dias que correm tem pouca importância, mas sei que os idosos recordam-a com saúde e alguns com bastante tristeza pela solidão em que se encontram.
Mas o mais triste ainda é essa solidão permanente, porque lembrarem-se dos idosos unicamente no dia de Páscoa, não tem qualquer sentido pois estes continuam a viver numa solidão permanente!
Gostei da tua crónica que mais uma vez aborda a amargura da vida que nos rodeia!
São, sempre ouvimos dizer:…que bom seria se o Natal não fosse um dia…! Neste caso é, … que bom seria que a Páscoa não fosse um dia! Mas na realidade sabemos que é nestes dias que a ausencia das familias é mais notável, quer queiramos quer não são dias vividos com outra intensidade, e os idosos valorizam de uma forma uncia.
Entristece saber que não só nas instituições mas por todo o mundo, sao estes seres que ficam sempre “esquecidos”, parecendo não ter mais o direito de partilharem a alegria com a familia.
Beijinos, espero que para o ano tu também me digas, que Adoras…a Pascoa, senti um certa tristeza na forma como vives a mesma, Beijinhos amiga
* Quando digo saúde queria dizer saudade
Em época de Pascoa ou de Natal, nos tempos que correm, é inevitavel que o meu pensamento não vá, não tanto para os velhinhos solitários, que claro precisam de ajuda e acompanhamento permanente. Meu pensamento vai mais e com muita tristeza de fundo, para aqueles que já tiveram uma mesa farta, tradicional de Pascoa e hoje nem chega a ser um dia igual aos outros, um almoço de domingo igual aos outros, e sim um dia ainda mais triste que os outros, por tantas razões que nos escurece a alma só de pensar. Sentimo-nos impotentes diante de certas situações, pois falta-nos a varinha de condão para garantir que no domingo de Pascoa e no Natal todos tenham uma mesa pelo menos um pouco mais especial.
Vamos por isso, cada um de nós, olhar um pouquinho para o que se passa do nosso lado, não de forma passiva e condescendente, mas fazendo a nossa parte para que Pascoa e Natal sejam sempre pelo menos sinónimos de solidariedade, entreajuda e claro renascimento.
Mas para não terminar minha reflexão e partilha de forma tão tristonha, vou dizer que mais na época de Pascoa do que de Natal o meu pensamento remete sempre, nem que seja um pouquinho aqui e ali, aos meus tempos de infância. Aquilo sim era Pascoa. Incrível como até éramos felizes com menos…. O que inevitavelmente me levaria já a conjecturar sobre o fundamento da felicidade, se é ter pouco mas com a sensação de garantia, daí a agradável liberdade, ou ter mais mas um medo iminente mas intrínseco, nem que seja inconsciente, de perder de uma hora para a outra, uma falta de garantia….
Resumindo, é impossivel nos tempos que correm olhar para a nossa felicidade, para mesas bonitas, tapetes floridos, sem imaginar por breves segundos que sejam o que falta na época de Pascoa a tantas pessoas….
Fátima, adorei o seu comentário, eu quando me refiro aos idosos é porque foi o tema escolhido na minha rubrica para as cronicas (salvo raras excecoes), no entanto sou da opinião que partilha e acima de tudo devemos refletir e ponderar mesmo sobre o fundamento da felicidade, como diz e muito bem, não querendo conjeturar sobre isto, de uma coisa temos a certeza, muitas vezes somos felizes com pouco…saudades da pascoa de infancia onde tinhamos uma roupa nova para estriar, as amendoas lisa cores e coisas simples mas que nos enchiam a alma.
beijinhos
Para quem vive intensamente e em espírito de união, amor,e entrega aos outros, quer na Pascoa quer em qualquer outro dia do ano, custa aceitar tanta amêndoa amarga na velhice..
Parabéns mais uma vez..
Sem duvida Fernanda Fernandes, custa aceitar esta dura realidade, embora eu sinta que cada vez mais cedo as pessoas sentem que as amendoas amargas são fruto do espirito e entrega mesmo, vivemos num mundo muito stressado e consumista, onde o tempo voa e fica tanto por fazer.Beijinhos e obrigada pela carinhosa mensagem maninha!
Parabens a cronica esta fantastica.
Infelizmente para muitos a pascoa foi repleta destes momentos que descreves,e que a mim tambem me deixam profundamente triste.
Espero que muitos leiam a tua crónica e que reflitam sobre o assunto e que passem a proceder de outra forma.
Esta realidade é profundamente triste.
Sofia, obrigada pelo teu comentario e reflexao, tu também vives parte desta realidade, sabes bem dar o valor, resta que muitas pessoas mudem a sua forma de olharpara a velhice.
beijinhos