As casas não emigram

Lembro-me a forma como os meus pais sonhavam com a casa própria, a casa onde hoje vivo, foi um sonho deles e construída por eles, já que o trabalho do meu pai era fazer casas ou seja, ajudava realizar sonhos. A casa é um sonho que sempre acabava por ficar para trás, é a lei da vida e o normal seria serem ocupadas por outras pessoas ou transformadas em outro sonho que alguém possa ter. Mas na minha aldeia há muitas casas silenciosas, onde antes havia risos e gente a falar, hoje há um silêncio que nos magoa, um silencio que ameaça a nossa identidade. Aqui toda a gente se conhece, por isso a dor é maior. É como ver fotos de alguém que já não está cá… Caminhar por entre as ruas de casas vazias é solidão maior, muitas delas estão abandonadas outras fechadas com uma quase certeza de que nunca ninguém vai abrir a porta e morar ali. Os filhos de estas casas foram procurar uma vida melhor em outros lugares e os pais delas ou estão num lar ou morreram, deixando o seu sonho para trás e como as casas não emigram, ficam em silêncio, abandonadas e quando as casas são abandonadas até começarem a cair, as ruas ficam desertas e a aldeia morre.

A decadência das coisas começaram, quando uma juventude instruída sonha com uma vida muito melhor, como a que a televisão amostra. Depois há a falta de emprego nos meios pequenos e os que cá, são insertos e com o estado cada vez mais distante, os poucos que ainda resistem acabarão por ir embora. Já lhes tiram as crianças usando a promessa de um ensino melhor, que na verdade é pior. Com a saúde cada vez mais longe e precária, a comunicação paga a ouro. Já ninguém quer viver aqui, só os que não têm alternativas e os que ainda amam e lutam por a sua terra, pelos seus sonhos e o sonhos dos seus pais.

Como as casas não podem emigrar, acabam por ficarem abandonadas e ser para os filhos uma espécie de uma herança maldita. Pois viverem aqui está fora de questão, comprar ninguém compra e ficam com um pedaço de passado que não sabem o que fazer com ele e ainda lhes dá prejuízo. As casas são tratadas como um idoso incomodo, são abandonadas e quando passo por elas sinto a morte mesmo ali e o mais triste é que eu faço parte de tudo isto! Também eu estou a ficar abandonado…

A minha aldeia ainda tem uma centenas de pessoas, só me pergunto até quando?