As lideranças europeias que valem zero

É impressionante o descaramento do governo alemão, na forma hostil como tenta impor sanções ao não cumprimento do défice, entre os anos de 2013 e 2015. O alegado “mau comportamento” de Portugal, segundo o governo alemão e seus “capangas” holandeses, entre outros, não é outro que não o de o nosso país ter um governo apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda.
É também gritante a forma como a maioria dos media veicula estas informações relacionadas com as ditas sanções a Portugal, pois existe muita desinformação misturada com alegados factos, que afinal não passam de suposições. Diz o relatório saído do último encontro do ECOFIN: “Artigo 1. Portugal não tomou medidas eficazes em resposta à recomendação do Conselho de 2013; Artigo 2. Desta decisão informa-se a República Portuguesa”. Tão somente isto.
Os jornais e demais comentadores já se deleitam em previsões mais ou menos astrológicas, mas há que deixar a astrologia para quem desse assunto percebe. Quem comenta política deve fazê-lo de forma séria e intelectualmente honesta, pois a História inscreverá o nome daqueles que fizeram bem o seu papel (como Marcelo, goste-se ou não das suas considerações, sempre fez comentário político com seriedade…) e a História encarregar-se-à de esquecer aqueles que criaram apenas o boato e a teoria.
Por exemplo, Schauble é o ministro das finanças da Alemanha. Com ele na pasta, a Alemanha experimentou o acerto das contas públicas e a criação do superavite comercial e financeiro do erário público alemão. Porém, a História pode afastá-lo dos livros de História Concisa, se Schauble prosseguir nesse caminho de comentador político e criador de boato. Como de resto se verificou com Cameron, que se demitiu do cargo de primeiro-ministro britânico, em consequência da vitória do Brexit, resultado que foi de um boato criador de instabilidade política: a alegada vontade dos britânicos em sair da União Europeia (UE). Vontade essa relativa e muito pouco óbvia, mas expressa em 52% dos votos contabilizados no referendo.
Sanções zero? Se esse for o resultado, então respeito zero pelos líderes da Comissão Europeia e ECOFIN. Portugal é apenas um de muitos países da zona euro que falharam o défice, e não pode ser mais uma vez cobaia de experiências neoliberais na UE. Sanções zero são sanções à mesma, e conduzem a UE em direcção a um zero de solidariedade.