As más notas escolares e a importância da palavra não – parte 2

  • Os trabalhos de casa

Sei que há muitos pais que não concordam que, as crianças e adolescentes além das seis / oito horas de horário escolar obrigatório, ainda tragam deveres para fazerem em casa, porque isso implica a redução dos seus tempos livres, inclusive estar com os pais. Eu não sou contra os trabalhos de casa, acho que é necessário numa rotina escolar prolongar o estudo da matéria que é dada diariamente, isso resulta em trabalhos de casa, que não devem ser transformados em bicho-papão, é um método de aprendizagem individual também, têm de ser feitos, ponto. Afinal, estudar nunca matou ninguém nem provoca danos, não estudar é que provoca danos, principalmente burrice.

  • A moda da hiperatividade

Há uns anos atrás houve a moda do pé chato, os Doutores diziam que a criança tinha o pé raso, as mães aflitas gastavam rios de dinheiro em botinhas próprias para moldar o pé, botinhas essas que não custavam menos de setenta euros. Há uns anos atrás, quase todas as crianças tinham esse problema, hoje já não se ouve falar no assunto. Este é um dos muitos exemplos. Actualmente, quase todas as crianças são hiperativas, ou sofrem de dislexia ou têm transtorno de ansiedade, tornou-se na moda infantil actual. Eu não sou medica é um facto, mas sou mãe, se eu fosse a dar importância a todas as barbaridades que me dizem, neste momento o meu filho Salvador, de cinco anos, estava atafulhado de medicação para a hiperatividade. Porquê? Porque é um miúdo normal, cheio de energia e de imaginação. É grave o que se passa pais, em Portugal mais de cinquenta por cento das crianças e adolescentes tomam medicação para os problemas que referi em cima. Medicação que tem efeitos secundários que se tornarão bem visíveis a longo prazo. Medicação essa que é totalmente desnecessária. Afinal, os pais querem um miúdo cheio de energia ou um miúdo parado no tempo? São crianças! Não têm que ter o comportamento de um adulto! Os pais não têm paciência para os aturar. Senta-te na cadeira, anda aqui, não andes para a frente da mãe, põe-te direito na mesa, eu sei o que isso é, estas frases são a minha rotina diária, é stressante? Muito. Mas nós geramos crianças, não robôs! Estamos a educar uma geração dependente de químicos!

  • Obrigar é educar

Para mim obrigar é educar, hoje e sempre, não faço todas as vontades aos meus filhos, não estou a educar uns putos caprichosos com a mania do quero, posso e mando. Digo-lhe muitas vezes, agora que começa a fase da estupidez ( 9 anos, já me tinham dito ): Meu caro, quando tiveres a tua casa e pagares as tuas contas fazes o que bem entenderes, enquanto viveres debaixo do tecto da mãe, há horários e regras para deitar, acordar, comer e brincar, ponto. Não estás bem? Pede o livro de reclamações! Continuem a dar os améns todos às vossas crianças, o menino não quer comer a sopa, não come, o menino não quer comer fruta, não come, o menino quer batatas fritas todos os dias, ele come, o menino não quer jantar com os pais e quer ir para o quarto, pode ir, o menino quer estar com o telemóvel à mesa, pode estar, o menino não gosta da comida que a mãe está a cozinhar, não faz mal, a mãe faz outra só para vossa excelência, o menino não quer lavar os dentes, não lava até caírem os dentes, o menino não quer estudar porque não gosta da escola, não estuda, o menino não quer ir para a universidade, não vai, o menino quer gastar o dinheiro que tem no mealheiro numa merda qualquer só porque sim, ele pode, o menino não quer praticar nenhum desporto, não pratica, o menino quer o jogo xpto da playstation que custa 60 euros, o pai dá, o menino não quer as sapatilhas da feira que custam 15 euros mas quer as da nike que custam 90 euros, não faz mal, a mãe não têm dinheiro mas arranja, o menino quando crescer não vai querer fazer nada da vida, não faz mal, foi assim que os pais o educaram, facilitismo e não obrigatoriedade, os pais agora que se amanhem e sustentem o filho para o resto das suas vidas! Ao ritmo das birras a que se assiste de miúdos que já têm idade para se comportarem, teremos uma geração de putos mimalhos incapazes de se tornarem independentes financeiramente, e até nas coisas mais básicas como dobrar umas meias e cozinhar um arroz, que vergonha! Será a geração das Paris Hilton e dos Donald Trump!

  • Trolha ou Doutor

Disseram-me um dia que, não importava se o filho, no futuro, fosse trolha ou doutor, desde que fosse feliz. Em parte eu concordo, todos os pais querem a felicidade plena dos seus filhos, independentemente das suas escolhas, mas há uma questão pertinente que não devemos descuidar. Futuramente, o meu filho até pode ser trolha ou limpar sanitas, mas isso não invalida que ele tenha uma formação académica. Ele pode tirar uma licenciatura numa área e nunca trabalhar na mesma, mas só o facto de ele se licenciar, tirar um mestrado, conhecer outros países e outras culturas, outras pessoas e outras gentes, sair do pequeno mundinho onde está inserido, já lhe uma enorme vantagem e infinitas capacidades do que um chavalo que foi até ao 12º ano a muito custo. Portanto, meus caros, quando se trata de formação escolar e académica, mais nunca é de menos!

  • Educar para a vida

Essa historia de que os bebés vêm da cegonha ou que Jesus ralha quando eles se portam mal, nunca fez parte do meu vocabulário de mãe. O Pai Natal, a fada dos dentes, os monstros debaixo da cama ainda vá que não vá, mas é preciso ensinar às crianças as coisas exactamente como elas são. Quando eles me perguntam o que é a guerra, obviamente que não lhes vou mostrar imagens chocantes de pessoas sem braços e miúdos a chorar de fome no meio da lama, mas tento lhes incutir o máximo de informação possível, mesmo que seja um pouco penosa de ouvir. Quando expliquei aos meus filhos, após eles me perguntarem,  como é que os bebés iam parar á barriga da mãe e como nasciam, eles ficaram um pouco enojados, ainda ouvi uns blarghs e uns ai que nojo, mas prefiro ter filhos informados do que uns filhos totos.

Eu sou mãe, não sou a amiga, se fosse amiga dizia que sim a tudo enquanto lhes dava uma palmadinha nas costas, como sou mãe, digo que não muitas vezes, enquanto lhes dou umas palmadas no rabo. Não posso preparar os meus filhos para um futuro de conto de fadas, se o que lhes espera, nesta geração, é o inferno da vida real.

” Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”

Arthur Lewis