As novelas politicas e a instabilidade – João Cerveira

Todos repararam decerto na nova novela da suposta crise interna na liderança do PS. Basta haver alguém dos chamados vultos do partido (seja ele qual for) com uma opinião diferente do líder que os jornais e outros media fazem logo parecer uma crise interna para vender mais uns exemplares.
Foi (ou está a ser) assim com Seguro, foi com Manuela Ferreira Leite no PSD (celebre pela afirmação “interrupção da democracia”), foi assim com Ribeiro e Castro no CDS e não tão distante, aquando da sucessão de Louça no Bloco. No  PCP não me recordo ter acontecido, pois a sucessão é quase dinástica. A única vez que me lembro de algo semelhante ter acontecido com os comunistas foi quando surgiu o movimento dos renovadores no partido, que rapidamente foram expulsos do mesmo (decisão, ironicamente falando, muito democrática).
E, posto isto, chegamos a uma conclusão: todos eles – com a ajuda dos media – são grandes argumentistas, escreveriam (ou escrevem) grandes novelas, conseguem afastar a nossa atenção do que (de mal) andam a fazer, mas, em suma, de governação entendem muito pouco.
E muitos de vós dirão “mas que raio, não encontras nada de bom na governação?” Ao que eu responderei, claro que sim. Nem mesmo o Passos Coelho é de todo inútil, tem várias medidas de aplaudir. O problema maior é que aquelas que ele toma de forma leviana e errada, têm suplantado todas as que toma certas. Metaforicamente falando, é impossível arrancar do chão vários hectares de vinha e querer que ele ainda dê uvas, poucos meses depois. E é isso que estamos a fazer. Com medidas de técnicos que, na teoria sabem o que fazem, mas na prática, como a experiência revelou várias vezes, as suas teorias têm efeitos perversos irreversíveis, estamos a prejudicar o que de bom temos e a agudizar o que de mal temos.
Reformas? Sim, mas com o intuito de aumentar a eficácia do Estado Social, garante da democracia e liberdade. Não para acabar com o Estado Social e mostrar um “balancete bonito” aos senhores do FMI, mesmo com a população com a corda ao pescoço.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…