As putas vieram de Marte

Definição de puta num dicionário da língua portuguesa:

“Substantivo feminino, mulher que se prostitui, meretriz, prostituta, rameira. Mulher que tem relações com muitos homens.”

Definição de puta na Wikipédia:

“Na mitologia romana, de acordo com Arnóbio, Puta é uma deusa menor da agricultura, que preside a poda das árvores.

De acordo com uma versão, a etimologia do seu nome viria do latim, e seu significado literal seria “poda”. Os festivais em honra a esta deusa celebravam a poda das árvores e, durante estes dias, as suas sacerdotisas manifestavam-se exercendo um bacanal sagrado (durante o qual se prostituíam) honrando a deusa, o que explicaria o significado corrente do termo “puta” e suas variações nas línguas românicas.”

Eu desconhecia o significado de puta, fui pesquisar e o que encontrei foi muito curioso. Não é fascinante como uma só palavra pode ter varias interpretações? Na sociedade actual puta é uma mulher que vende o corpo a troco de dinheiro, na mitologia romana puta era uma deusa menor, ambas as definições estão associadas a sexo, mas a primeira interpreta de forma depreciativa e a segunda de forma valorativa. E deste modo constatei duas coisas: Primeiro, as pessoas vêm a mesma palavra e a mesma situação de diferentes maneiras, consoante as suas experiências de vida, boas e más, a sua personalidade, e o modo como se encontram psicologicamente no dia em que são interceptados com alguma questão/situação. Segundo, quanto mais velha fico mais valorizo a minha opinião…

Eu nunca me prostitui, nunca fui para a cama com ninguém por dinheiro, mas desconheço o dia de amanhã, eu e toda a gente, e a frase “desta água não beberei” não consta no meu dicionário pessoal. A prostituição não me incomoda absolutamente nada, é uma profissão como outra qualquer, eu saio de casa de manhã cedo para vender pratos do dia, a prostituta sai ao final da tarde para vender outros tipos de pratos, que não inclui arroz nem salada. Há muita prostituição camuflada, a mulher divorciada que não consegue sustentar os filhos com o ordenado mínimo que ganha nas limpezas, a universitária que não consegue pagar as propinas, a avó que está a ajudar os netos, a amiga que só queria experimentar e acabou por ficar mais uns tempos, todas as razões são legitimas. Suponho que a prostituta de rua seja mais difícil de gerir do que uma acompanhante de luxo, pagar vinte euros por uma queca é um absurdo, pagar quinhentos euros por uma noite de luxo com jacuzzi e massagem já soa a valor justo. Vendermos o corpo numa pensão rasca e com lençóis sujos não é de todo excitante, mas darmos uma queca num hotel cinco estrelas em lençóis acetinados pierre cardin, talvez nos assole o corpo. Mas em ambos os casos há uma semelhança: o javardo que paga para ter sexo. Os homens, quando pagam, acham que estão no direito de usufruir de todo o nosso corpo, comem mas sem comerem nada, porque há um corpo mas não há uma alma naquela cama. Mas o homem gosta, manda no ser inferior que está a trabalhar só para ele, pagou, alivia a tensão e o tesão, amanhã é outro dia e sexta-feira é dia de ir às putas. Sabem leitores, falam tanto nas putas, homens e mulheres tanto as desdenham, mas as putas estão a trabalhar, deve ser muito triste ter de pagar para ter sexo, deve ser desolador ter de pagar para ter o corpo quente de uma mulher encostado a nós, deve ser desconfortável chegar a casa e não receber uma mensagem a dizer: foi tão bom, amanhã repetimos. Afinal, quem é o ser inferior e dependente?

Outra questão oportuna é a segunda definição de puta que encontrei na Internet, puta é uma mulher que tem relações com muitos homens. Uau! Não sei se rio ou se choro, bater palmas é que não. Provavelmente uma das frases mais machistas que já li, sabem o que é mais surpreendente leitores? É que já a ouvi uma centena de vezes. Eu sou mulher e tenho sexo com quem eu quiser e me apetecer, o corpo é meu, a alma também, os sentimentos idem aspas, nem Deus, nem o Papa, nem ninguém têm de julgar as minhas vontades. Se hoje estou na tua cama e amanhã estou na cama de outro, é porque eu quero e eu faço o que eu quero. Se sou viciada em sexo e não me contento com um parceiro o problema é meu, querem saber, é um problema que me sabe muito bem. Uma mulher que tenha sexo com cinquenta ou cem homens é tão boa e correcta como uma mulher que em toda a sua vida só tenha tido um parceiro sexual, qual das duas foi e é mais feliz? As duas muito provavelmente. Um homem que tenha tido varias parceiras é um garanhão, deve ser um comilão na cama, deve durar horas e horas, na realidade só sabe dar rapidinhas, mas não faz mal, no caso de um homem a reputação sexual é sempre a seu favor mesmo que a realidade seja bem diferente. No caso de uma mulher, ter reputação, seja ela boa ou má, é o suficiente para acabar com a nossa vida social e pessoal. Mas quem somos nós para definirmos a reputação de uma pessoa com base na sua sexualidade? Não somos nada! Dar opinião é válido, criticar é mau, julgar é nocivo para a saúde mental de quem o faz. Putas, vacas, deusas, meretrizes, vadias, safadas e prostitutas…vieram todas de Marte, as santas de onde vieram?