As Trevas Adiante – Parte 1

Disclaimer: este texto constitui uma fanfic, da categoria fantástica. O autor, e o site Mais Opinião, declaram não deter quaisquer direitos sobre as obras de JRR Tolkien, no qual o mesmo se baseia.

Eu sou da geração à qual tudo havia sido prometido. Sou da geração mais informada e inteligente de sempre. A nós foi-nos dito que a tecnologia tudo nos faria alcançar. A nossa arrogância era de uma extraordinária leveza. Muito típica da nossa espécie, diga-se. Com ela criámos as grandes obras arquitectónicas, domámos os mares, conquistámos os céus, explorámos o Espaço. Apenas nos esquecemos da Natureza.

Como sempre, haviamos tentado conquistar aquilo que não devia ser conquistado. Tudo em prol dos avanços. Para isto, os fogos da indústria acenderam-se, consumindo as florestas e dilacerando os seres que nelas habitavam. Em nome do progresso extreminámos, assassinámos o que nos rodeava. E eu não fui a honrosa excessão. Enleado pela arrogância alheia, pelo meu desejo de grandeza, pela necessidade de significado, aprendi os métodos do conhecimento biológico que apelidamos de ciência. A minha especialização levou a que eu me tornasse um conhecedor daquilo que eu julgava ser a matéria. Foi necessário um acidente para perceber o quão ignorante era a mente desta personagem que eu sou, e que agora vos narra esta estória.

É irónico, de facto. Foi aquele trágico acidente, naquele laboratório, que me fez perceber o real fundamento físico do plano em que habito. As guerras que esventraram o planeta. Mas foi aquele momento que me fez avançar perante a estranheza daquilo que ninguém ousou estudar. Por vezes… Penso estar louco. Por vezes penso que a dor da perda que eu próprio causei, me levou ao um estado de insanidade permanentemente diletante, enquanto a minha mente vagueia, perguntando-me se algum dia os voltarei a ver.

E no entanto, nada disso tem importância no grande plano das Coisas. Aqui estou eu. Observando o resultado da destruição que a minha espécie havia causado à maior floresta que havíamos conhecido. A Amazónia era um pálido reflexo do que outrora havia sido. Queimada. Consumida. Ainda se agarrava aos réstios de esperança que as promessas eleitorais de um Governo corrupto permitiam transparecer, num país outrora belo e potencialmente próspero, agora… Um mero pião da oligopolaridade económica.

A nossa espécie tem destas coisas… Sempre que uma catástrofe sucede, arranjamos forma de recuperar e voltar mais fortes do que nunca. O problema nunca foi a nossa imaginação, mas sim o facto de extravazar a nossa natureza. E agora… É o próprio ar que carece aos nossos pulmões, gerando uma competição por um recurso que nunca pensámos vir a escassear. Oh… Somos engenhosos. Sobretudo, no que toca à escravização de nós mesmos.

Apenas posso reconhecer as trevas adiante de todos nós.

Mas… Tenho que me concentrar na minha própria pequenez. No facto de que precisamos de encontrar os indivíduos que habitam esta mera clareira. A nossa tecnologia é extraordinária ao ponto de captar dois humanóides, ali presentes. Nada pára os fogos da indústria. Lembra-te disso, Dante.

E no entanto… Não consigo deixar de transparecer o meu sentimento de desconforto. Sei que a ajuda que presto aos senhores da guerra é errada, mas que a minha pequenez, associada à circunstância da sobrevivência da espécie deste inverno que chegou e não mais se retirou, nada mais é do que um sintoma de uma doença maior. Mas eu não a sei diagnosticar… Mas ele continua. Assola os meus sonhos. Aquele homem, com as suas belas vestes condizentes com a sua barba e cabelo cor de neve, longos como os de um cantor de heavy metal, sorrindo para mim. Que direito tem ele a apaziguar a alma de um naturalista falhado?

Quando acordo… Penso sempre ver, à distância, um homem de cabelo dourado, de olhar penetrante como uma águia. Quase que posso jurar que me olha nos olhos, como se inquirindo estivesse. Mas eu não tenho respostas. A minha mente está demasiado ofuscada pelo bréu que é o Mundo. Mas aquele velho… Aquele simples velho… Acalma-me, como se de uma dose cavalar de Prozac se tratasse.

Mais um dia se passou. Amanhã iremos, finalmente, entrar na floresta. Algo me diz que esta noite aquele simpático velhote não irá mais ser tão simpático… Mithrandir, diz-me a minha mente. Como se tal nome fizesse sentido, apesar de ressoar por entre as minhas sinapses, uma memória perdida, num computador há muito destruído por um programador demasiado zeloso.

Imiscuo-me nas trevas e, agora, apenas espero pelo melhor. Amanhã… Veremos o que o futuro, e este tal de Mithrandir, me reservam.