Asneiras e palavrões – Bruno Neves

Quem não gosta de dizer uma boa asneira? Vamos lá ser sinceros: a verdade é que todos nós gostamos. Novos e menos novos. Homens e senhoras. Todos têm momentos em que deixam a vergonha e a timidez de lado e lançam o belo do palavrão. E é este o tema desta semana.

A verdade é que a sociedade em geral não está preparada para abraçar a beleza dos palavrões, como tal por vezes é necessário guardá-lo apenas para nós ou quanto muito dizê-lo o mais baixo possível para evitar ferir susceptibilidades. E talvez seja melhor assim, a verdade é essa. Mas todos nós passamos por várias fases em relação aos palavrões.

Em crianças não fazemos a mínima ideia do real significado dos palavrões. Dizemos porque ouvimos alguém dizer. Pode ter sido um colega de escola/infantário, um tio afastado numa reunião de família numa das épocas festivas ou até mesmo o pai ou a mãe num momento de distracção. Mas com certeza que o ouvimos em algum lado porque não seria possível aprendermos sozinhos (quer dizer e daí tal já não é bem verdade dado o acesso à internet acontecer cada vez mais cedo e quase sempre…sem a supervisão necessária). E acima de tudo dizemos um palavrão porque percebemos que isso faz os adultos rir. Podem até ralhar connosco, mas antes riram-se a bom rir. E fazer os adultos rir é a principal missão das crianças, todos nós o sabemos. Logo se se riram é porque não faz mal dizer, é uma espécie de piada, certo? Nem por isso.

Quando chegamos a adolescentes tudo muda, pelo menos em certos momentos. Entre amigos e pessoas da nossa confiança e da nossa idade (ou perto disso), é o chamado “vale tudo”. Não adianta esconder: todos nós dizemos ou dissemos toda a espécie de palavrões e asneiras quando estamos entre amigos. E desde que todos os envolvidos o aceitem não há mal nenhum nisso, obviamente. Mas entre a família continua tudo na mesma, dado que mesmo que exista abertura para tal é simplesmente estranho dizermos um palavrão quando estamos ao lado do nosso pai.

Em adultos passamos a ter uma maior liberdade neste aspecto. Não é o “vale tudo” que temos com os amigos, mas também não é o “tolerância zero” da infância. É um meio-termo que ambos aceitamos. Em tempos idos não me era sequer permitido dizer um “fogo” que logo ouvia a reprimenda (sendo que eu emendava rapidamente o mesmo para um “gaita” que para os meus pais já era aceitável). Hoje em dia em certos e determinados contextos já solto o meu palavrão. Não é gratuito, como no círculo de amigos, mas vai acontecendo espaçadamente. E embora saiba que a minha mãe não gosta de o ouvir também sei que hoje em dia já o aceita. É, no fundo, uma declaração que todos cá em casa assinamos sem saber e que me declara oficialmente como um adulto.

Mas podemos também pensar nas asneiras que encontramos nas músicas, por exemplo. Qual o maior e melhor exemplo da aceitação que um palavrão pode ter numa música portuguesa? Claro que só pode ser a música “Chico Fininho” do grande e inigualável Rui Veloso. É um dos raros casos em que jovens e idosos aceitam e adoram uma música que na sua letra contem um palavrão.

Eu confesso que gosto particularmente dos impropérios antigos como por exemplo: “macacos me mordam”, “chiça penico” ou mesmo o bom e velhinho “apre”. Não ofendem, não castigam e ao mesmo tempo divertem e dispõem bem quem os ouve (se bem que é muito provável que os mais novos não os conheçam de todo).

Para os mais novos digo o seguinte: digam os vossos palavrões à vontade…desde que certas pessoas não os oiçam claro está. Desde que compreendam que os mesmos não devem ser ditos a toda hora e que o respeito deve imperar sempre, obviamente.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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