Assédio sexual não é sedução

Antes de contar a minha historia, uma historia tão semelhante a milhares de historias de milhares de mulheres em todo o mundo, eu vou transcrever o que está escrito no dicionário referente a assédio sexual e sedução:
Assédio sexual: é um tipo de coerção de carácter sexual, praticada geralmente por uma pessoa em posição hierárquica superior em relação a um subordinado; é toda a forma de avanço sexual não consensual.
Sedução: é o ato de seduzir ou de ser seduzido, de fascinar, encantar.
Vistas as diferenças colossais entre ambas ( para quem ainda tem dúvidas ou prefere as ter ), numa semana, aliás, nos últimos quatro meses em que o assédio sexual tem estado na ordem dos dias, eu vou contar a minha historia, da qual não guardo nenhuma mágoa nem tenho qualquer espécie de trauma, simplesmente é mais um relato pessoal no meio de tantas narrações de famosas e anónimas, ficou apenas a certeza de que me orgulho em ser mulher…eu tinha 19 anos quando aconteceu, o “homem do poder” , com idade para ser meu avô, cujo órgão genital devia fervilhar na minha presença jovem e fresca, cujas tentativas de simpatia forjada sempre que subíamos ao palco não resultaram, assediou-me, em pleno camarim, varias vezes, algumas vezes com pessoas por perto, para que estas vissem o poder que ele tinha sobre uma miúda, daí até oferecer-me dinheiro “para me dar prazer”, como dizia ele, foi num ápice. Deve ser excitante para um filho da puta achar que pode ter o que deseja, especialmente se for uma miúda, mas sabem que mais leitores? Não pode! Não me venham com falsas ideias de liberdade e de sedução, beijos roubados e toques no joelho, o que aconteceu foi uma autêntica merda, não fui a primeira vitima mas espero ter sido a última, de todas as vezes que eu era assediada, pelos vistos no mundo do entretenimento é um acto recorrente e é uma atitude aceitável pelos artistas ( lembro-me de alguém dizer: aceita o dinheiro, ele paga bem e só te faz umas cócegas…), eu sentia-me completamente enojada, enfurecida, magoada. Não aconteceu nada de mais, pensam vocês leitores, e aí é que está o grande problema, eu fui assediada mas a sociedade acha que não se passou nada de mais e,  por isso, vozes de burros a afirmarem que os últimos acontecimentos em Hollywood são apenas histerismo feminino colectivo não me impressionam, todos estes crimes contra as mulheres acontecem porque existe uma aceitação da sociedade.
Catherine Deneuve e mais 99 mulheres ligadas ao entretenimento e às artes francesas, redigiram uma carta aberta onde defendiam, passo a citar: ” Liberdade de Importunar, Indispensável à Liberdade Sexual (…) a violação é um crime. Mas o flirt insistente ou inconveniente não é um delito, nem o galanteio é uma agressão machista (…), existe um novo “puritanismo” transformado em “caça às bruxas” com consequências sérias: homens têm sido punidos sumariamente, forçados a sair dos seus empregos, quando tudo o que fizeram foi tocar no joelho de alguém ou tentar roubar um beijo, (…) a liberdade sexual só será total se os homens forem também eles “livres de importunar” uma mulher “.
Portanto, em pleno século vinte e um, há quem partilhe da opinião de que importunar uma mulher é perfeitamente normal! Não há qualquer problema em flirtar, seduzir, chatear, assediar, coloca-se tudo no mesmo saco e damos o nome de liberdade, se a mulher gosta ou não gosta problema dela, já que é uma feminista histérica e oportunista, os seus sentimentos e opiniões não são relevantes.
Posso não ter muitas certezas nesta vida, mas há duas das quais jamais abdicarei: primeiro, a educação que dou aos meus filhos – ensinar que uma mulher tem de ser respeitada e amada, a segunda, nunca calarei a minha voz, nunca!
Como disse Oprah no emocionante discurso nos Globos de Ouro: ” O tempo deles acabou!”