Assobios justificados, perante pobreza exibicional

A Liga Portuguesa começou há poucas semanas, e a polémica já anda no ar. E de que maneira. Se nos escusarmos a comentar a sms trocadas; os casos de polícia de Bruno de Carvalho e os quilos e quilos de farinha que alguém ligado ao Benfica transportava no carro, então resta-nos apenas aquilo que não enche jornais: o jogo em si. Nessa área em específico, já vamos com 3 jornadas disputadas, e as coisas não estão nada bem para o lado dos grandes.

Após uma jornada terrível, em que tanto Benfica, com uma derrota frente ao Arouca; o F.C.Porto, com um empate na Madeira frente ao Marítimo; e o Sporting, que empatou a uma bola, e Alvalade, frente ao Paços de Ferreira; tivemos a 3ª e a mais recente ronda de jogos da Liga NOS. Que não passou muito ao lado das outras, pelo menos, no que toca ao agrado dos adeptos. Nesta ronda todos os grandes ganharam, contudo, isso não parece ser suficiente para os respectivos tribunais, tanto o do Dragão, como o da Luz. O único a ter atenuante é o Sporting. Tanto pelo facto do seu futebol ser o com mais qualidade, como pelo facto de ter jogado fora de casa e a cabeça dos seus adeptos estar toda centrada em teorias da conspiração relacionadas com as arbitragens.

No fim do jogo frente ao Estoril, que o Porto até acabou por ganhar por duas bolas a zero, os adeptos demonstraram o seu desagrado para com a equipa mas, sobretudo, para com o seu treinador. Lopetegui saiu do “tribunal do Dragão” com as orelhas a arder e com os ouvidos quase a rebentar. Percebem-se os assobios; entendem-se os apupos e compreendem-se as críticas. O futebol que o Porto tem apresentado, é para lá de medíocre. Nunca consegue ser assertivo nas suas acções ofensivas, é demasiado permeável na sua defesa e o seu meio-campo tem a criatividade de uma batata. É imperdoável que com a matéria-prima da qual dispõe o Basco, a única coisa que consiga retirar, seja a miséria que é. O Estoril este por cima em vários momentos do jogo e podia ter marcado por inúmeras vezes. A aposta em Brahimi a criativo, no inicio, coincidiu com o melhor momento da equipa portista. No entanto, Lopetegui voltou a ter vontade de ver o terreno lavrado, dessa forma, optou pelo tradicional meio-campo de tractores e homens defensivos. Espera-se mais de uma equipa grande, espera-se mais de um treinador que tem tanta qualidade ao seu dispor, espera-se mais de um clube cujo orçamento era de…90 milhões. Não é aceitável a falta de ideias gritantes que reina no reino do Dragão. O principal culpado é Jule Lopetegui, claro está. Quando um timoneiro tem ovos e não sabe faz omoletes, algo está mal. O “tribunal do Dragão” não perdoa, e o veredicto está dado. Ou as coisas melhoram, e muito, daqui em diante; ou o treinador dos azuis e brancos não terá vida facilitada.

Quem também não está em muito melhores lençois, é Rui Vitória. O treinador que herdou um pesado fardo de 6 anos da era Jesus, tarda em convencer. Aliás, a cada jogo cada vez convence menos. Mesmo os que sempre estiveram do seu lado e o apoiaram incondicionalmente, começam a perder a paciência. O Benfica ainda não marcou em nenhuma 1ª parte. Isto aliado a todos os jogos ganhos nos últimos minutos, quando já reina o desespero e até Gaitán já é defesa-esquerdo – mesmo assim muito melhor que Eliseu -, algo vai mal. E a realidade é que não vai mal, está. A equipa está muito idêntica à do ano passado, dessa forma, não se pode apontar o dedo aos jogadores e dizer que não estão adaptados ou que sentem a pressão. Isso não é verdade. O único jogador que poderia acusar a pressão, Nélson Semedo, tem sido dos melhores da equipa. Estranho. Seria muito mais sui generis caso os adeptos não tivessem visto a miserável pré-época realizada pelos encarnados. Os indicadores estavam lá, só não viu quem não quis. Rui Vitória não tem estofo para treinar um grande. Está perdido, não sabe o que fazer e não consegue encontrar soluções. O Benfica tem tido alguma sorte porque tem conseguido virar os jogos nos últimos minutos, mas essa estrelinha não dura sempre. A derrota com o Arouca foi o “reality check” que os adeptos precisavam. A partir desse momento, já estão cientes das dificuldades que o emblema da Luz atravessa. E são muitas. Tendo percebido a situação, também já foram capazes de demonstrar todo o seu desagrado para com a equipa e o seu treinador. Nem mesmo puxando pela equipa a mesma é capaz de produzir, é, no mínimo, frustrante. O “tribunal da Luz” ainda não lançou o veredicto final. O facto de ser bi-campeão atrasa a decisão, mas mais um deslize, e o martelo vai bater na mesa.  Não há acutilância, domínio, clarividência. É tudo feito em esforço, com sorte e no último suspiro. O futebol é pouco vistoso e nada eficaz. A defesa treme que nem varas verdes e tem em Júlio César, o porto de abrigo. O meio-campo do Benfica não funciona e Mitroglou ainda não começou a carburar. A juntar a isto ainda há os investimentos totalmente falhados em Taarabt – que foi convidado para apresentar o Preço Certo -, e Cárcela – que foi apanhado a vender meias na Feira de Carcavelos. O clube Bi-campeão, não pode falhar desta maneira. Tem de ser mais assertivo. Contudo, a falha maior foi na contratação do homem que está no banco. Rui, de Vitória, só mesmo o nome.

Assim vai o sombrio reino de Benfica e Porto. Com o Sporting à perna caso Jesus deslize também. Os adeptos estão a começar a ficar insatisfeitos com tamanha displicência e falta de qualidade. Os investimentos foram suficientemente grandes para se esperar mais. Mais e melhor produção. Não estão previstos sinais de grandes melhorias, mas as próximas jornadas serão determinantes. Rui Vitória e Julen Lopetegui bem que podem rezar a todos os santinhos, que na hora da justiça futebolística, só algo divino os salvará. Não percam o próximo episódio, porque eles, também não.