Até a afabilidade tem limites! – Teresa Isabel Silva

Uma das maiores características do povo português é a afabilidade. Somos naturalmente afáveis e acolhedores. Aliás temos sempre tendência de o sermos para os desconhecidos e para as pessoas que mal conhecemos só para ilustrar a nossa boa simpatia.

A afabilidade é para os portugueses tanto ou mais importante do que a educação. A linha que separa a afabilidade e a cortesia normal, da educação é invisível.

Somos tão afáveis que muitas vezes a pessoa receptora se sente constrangida. Vejamos bem, um aperto de mão é cortesia, dizer bom dia enquanto se aperta a mão da pessoa é educação, e tudo bem se acabarmos por aqui. Mas acontece é que muitas pessoas decidem acrescentar à afabilidade algo mais, e logo soltam um abraço apertado ou caloroso como se a pessoa abordada fosse sua amiga de longas décadas.

Outra coisa que me irrita seriamente nestes comportamentos sociais, são os sorrisos. Tudo bem soltar um sorriso de simpatia ou de apreço, mas quando se mostram os dentes todos, deixa de ser uma situação cordial, para passar a ser uma situação constrangedora para a pessoa abordada, que deste modo fica a saber se o interlocutor tem ou não uma saúde oral correcta.

Seja como for esta situação de sorrir com os dentes todos de fora não é tão má quando se tem uma dentição bonita, mas quando a cavidade bocal e dentária se assemelha a uma montanha russa em obras, aí sim, passamos do constrangedor para o desconforto total.
Mas não existem sorrisos sem pancadinhas nas costas! Aquele momento em que interlocutor se ri para nós como se fossemos os mais íntimos amigos e depois ainda dá aquela palmadinha nas costas. As pessoas querem tanto fazer boa figura, que nem vêem que no meu caso estão a dar palmadinhas nas costas a uma mulher.


Falamos das palmadinhas nas costas em situação mais cordial, mas se for um reencontro com um antigo colega de escola, essas palmadas exageram e ás vezes podem mesmo lançar uma pessoa ao chão! (e este é um dos motivos pelos quais algumas bocas parecem montanhas russas)

É por isso que muitos encontros ou reencontros sociais correm mal. O que acontece é que este hábitos se transmitem mais rápido que um boato. Depois as pessoas queixam-se de que as pessoas têm uma falsa simpatia. Pudera! Depois de lidar com situações idênticas ás que eu descrevi em cima qualquer um já abraça e sorri para alguém com medo de sofrer represálias.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas