Até Sempre Maria Barroso – 1925-2015

Faleceu hoje, com 90 anos de idade (no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa) Maria de Jesus Simões Barroso Soares, mais conhecida como Maria Barroso. Apesar de ser mulher de Mário Soares sempre foi uma figura pública com opinião própria e conhecida por ser a Dra. Maria Barroso e nunca por ser apenas a mulher de Mário Soares.

Maria de Jesus Simões Barroso Soares nasceu Fuseta, em Olhão, a 2 de Maio de 1925. Filha de Alfredo José Barroso, um Oficial do Exército e de sua mulher Maria da Encarnação Simões era ainda neta paterna de José Barroso de Sousa e de sua mulher Maria de Jesus e neta materna de Manuel Maria dos Santos e de sua mulher Maria da Rainha Santa. Era também tia paterna do político Alfredo Barroso e tia materna do cineasta Mário Barroso e do cirurgião Eduardo Barroso.

Foi aluna dos liceus D. Filipa de Lencastre e Pedro Nunes, em Lisboa. Estudou Arte Dramática, na Escola de Teatro do Conservatório Nacional, no ano de 1943 e licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951. Foi atriz na companhia de teatro Rey Colaço-Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II, onde se estreou em 1944, na peça “Aparências”, de Jacinto Benavente (sob a direcção de Palmira Bastos). No cinema, teve participações em filmes de Paulo Rocha (1966 – “Mudar de Vida”) e Manoel de Oliveira (1985 – “Le Soulier de Satin”, 1979 – “Amor de Perdição”, 1975 – “Benilde ou a Virgem Mãe”). E como Professora, foi diretora do Colégio Moderno. Esteve proibida de exercer a docência, tanto no ensino público como privado, durante o Estado Novo.

Maria Barroso
Maria Barroso a discursar num comício do PS, em Portimão, no verão de 1974

Em 1969 foi candidata a deputada pela Oposição Democrática e participou no III Congresso daquela organização em 1973, em Aveiro, sendo a única mulher a intervir na sessão de abertura. No mesmo ano esteve em Bad Münstereifel aquando a fundação do Partido Socialista. Foi eleita deputada à Assembleia da República, pelos círculos de Santarém, Porto e Algarve, nas legislativas iniciadas em 1976, 1979, 1980 e 1983.

Na faculdade conheceu Mário Soares, com o qual se casou quando ele se encontrava preso por motivos políticos. Enquanto primeira-dama de Portugal (1986–1996) interveio nos países de língua portuguesa. Em 1990 criou o movimento Emergência Moçambique, outorgando, no ano seguinte, e a escritura da Associação para o Estudo e Prevenção da Violência. Em 1995 presidiu à abertura do ciclo de realizações do Ano Internacional de Luta contra o racismo, a xenofobia, o antissemitismo e a exclusão social. Depois de deixar o Palácio de Belém, em 1997, presidiu à Cruz Vermelha Portuguesa, cargo que exerceu até 2003. É ainda sócia-fundadora do Conselho de Administração da ONGD Pro Dignitate – Fundação de Direitos Humanos desde 1994, e da Fundação Aristides de Sousa Mendes.

Foi distinguida com o título de Doutora Honoris Causa pelo Lesley University a 23 de Maio de 1994, pela Universidade de Aveiro a 16 de Dezembro de 1996 e pela Universidade de Lisboa a 3 de Novembro de 1999. É Professora Honorária da Sociedade de Estudos Internacionais de Madrid. E recebeu igualmente a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade a 7 de Março de 1997.

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Juntamente com o seu legado ficam connosco os seus ideais e a sua constante luta politica para alcançarmos uma sociedade mais justa para todos. Uma mulher muito culta, que nunca teve receio de expor as suas opiniões mesmo perante uma feroz ditadura.

Até sempre Maria Barroso.