Atributos e Predicados – O Bullying como estrangeirismo

  “Por vezes é-nos difícil perceber a forma como poderemos fazer frente aos outros e sentirmo-nos bem, mas essa é uma capacidade que todos nós temos e que, por algum motivo, nalgum momento, foi-nos retirada.”   portalbullying.com.pt

    Foi há uns prováveis dez anos atrás, quando uma onda de inexplicáveis suicídios adolescentes começou a assolar a Europa, que nos chegou o termo Bullying. O estrangeirismo da palavra confere-lhe um ar actualíssimo! Quase parece coisa do século vinte e um!

   Francamente, chateia-me dizer “Eu sofri de Bullying”. Soa-me mal! Soa-me a uma doença contagiosa, ou algo do género. Mas sim, eu sofri de Bullying. E a minha mãe também sofreu de Bullying, embora não saiba provavelmente o que a palavra sequer significa.

   Eu sei, agora, que o conceito abrange todo o tipo de violência física ou psicológica perpetrada de forma repetida sobre criança ou adolescente dentro do ambiente escolar. E sei que marca, que humilha, que dói. Sei que mais do que os insultos e o que vem depois, dói a inércia. A nossa própria inércia.

   O Bullying é só um nome estranho da língua inglesa, dado a uma espécie de comportamento, se assim lhe poder chamar. Tinha de ser apelidado, como todos os outros fenómenos do mundo. Mas não tem origem e provavelmente, não tem fim. Não se molda, não cresce, não diminui. O que se molda, e cresce, e diminui, é a mente dos que agridem, as razões que os fazem agredir. Lembro-me que, muitas vezes, no meio da humilhação, tolhida de medo e vergonha, me perguntava porquê. Que prazer teriam eles? Qual seria a razão?

   Hoje há televisão, portais de esclarecimento, professores atentos e até a Escola Segura! E há quarenta anos atrás quando a minha mãe e os seus quatro irmãos eram agredidos pelos colegas por pertencerem á família mais pobre da terra?

  Esta crónica é para eles e para todos da sua geração, assim como posteriores.

Grata pelo desabafo.

Crónica de Ana Rita Ventura
Atributos e Predicados