Atropelei… um telemóvel! – Laura Paiva

Eu atropelei um telemóvel!

Tenho carta de condução desde 3 de Janeiro de 1991 e nunca, mas mesmo nunca, pensei ser possível atropelar um telemóvel – primeiro porque em 1991 não existiam (pelo menos não como os conhecemos hoje)  e depois porque não é coisa que ande por aí a atravessar as ruas.

Sempre que vou conduzir, assalta-me a possibilidade de poder atropelar alguém ou algum animal mas agora apavora-me a memória de já ter atropelado um telemóvel.

Naquele dia, numa movimentada estrada de 2 vias em hora de ponta, o semáforo para os peões ficou vermelho mas um grupinho de jovens adolescentes ainda atravessou a correr o que, obviamente, me fez arrancar muito lentamente. Mal os vi fora do meu alcance, acelerei e eis que sinto um pequeno solavanco e ouço “crac”… Olho pelo retrovisor e vejo uma das jovens a apanhar os restos mortais de um, outrora, lindo e robusto telemóvel enquanto as outras deitavam as mãos à cabeça. Mesmo com um grande hospital do outro lado da estrada, já nada havia a fazer pelo engenho. A morte foi instantânea e o óbito declarado com um simples olhar.

Profissionalmente, já fiz milhares de quilómetros sem nunca ter tido um acidente de qualquer tipo.
As minhas vertigens já me fizeram ter ataques de pânico, na subida do Marão – escusado será dizer que ia sozinha e não tinha berma para encostar, em segurança.
Já tive alguns furos – resolvidos ou com ajuda de amigos na troca do pneu ou recorrendo a um (bendito) spray tapa-furos.
Uma vez, tinha a certeza que o carro estava avariado pois, além de não andar, deitava imenso fumo, pelo cano de escape, mas afinal fora só eu que me esquecera de o abastecer…
Já cometi algumas (pequenas, pequeníssimas) infracções – uma delas logo no dia seguinte a ter feito o exame de condução. Com pouca prática em me movimentar no meio da cidade e muito receio de perder de vista o carro que seguia, passei um semáforo com o vermelhito acabadinho de cair.
Só tive, até hoje, uma única multa (julgo que em 1991) por falta de palas nos pneus traseiros do meu bólide. Tinham rasgado, acabando por cair e de nada me valeu mostrar ao agente as novas, que já tinham sido compradas e seriam colocadas no Sábado seguinte. É verdade… a sério! Há muitos anos atrás eram obrigatórias.
Conduzo qualquer coisa desde que tenha, no mínimo, 4 rodas ainda que agora tenha a consciência que basta uma delas para atropelar um telemóvel.

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos