Balões e Martelos – Carla Vieira

O São João é uma festa tipicamente Tripeira. É o “nosso” feriado, o “nosso” dia, aquelas vinte e quatro horas em que podemos martelar pessoas e enfiar alhos-porros na boca de transeuntes sem que levemos com um valente murro na cara.

Sendo sincera, o São João é o feriado que eu mais gosto. Nem o Natal se lhe compara. Aprecio o cheirinho a sardinhas, a confraternização leve de grupos de famílias a fazerem churrasco no jardim e o leve aroma a queimado que vem das costeletas e salsichas. Sabe bem poder comer coisas boas e típicas da tradição Portuguesa e depois ficar sentado a ouvir o riso de outras famílias enquanto a noite vai descendo e a brisa afaga o calor de Verão.

A paisagem mais bonita para mim é a dos balões de São João a preencher o céu durante a noite. Acho-os bonitos o suficiente para serem a única coisa que realmente aprecio contando com todas as outras festividades. Há um simbolismo muito bonito entre o fogo-de-artifício e os balões a passear no ar: a intimidade das pequenas bolas de ar contrastadas com o espectáculo brilhante e fugaz do fogo-de-artifício. Adoro ver os balões subir pelo céu acima usando apenas ar quente e tornarem-se pequenas estrelas no céu negro. Não sou grande apreciadora do fogo-de-artifício; faz demasiado barulho e é um prazer repentino e fugaz para os sentidos.

No entanto, também tenho prazer em saber que este feriado não é festejado por todo o país: torna-se algo mais pessoal e íntimo, cria uma aura de familiaridade com todas

as pessoas a quem nós damos com o martelo e ouvimos um “obrigado” e somos retribuídos com uma macetada carinhosa enquanto passeamos na rua.

Podem dizer o que quiserem sobre o Natal ser uma festa de família e estarem todos juntos, mas para mim o festejo ideal é mesmo o São João.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente