BBC: Universidade Selvagem, parte 1 – O nascimento da lagarta

Escreve quem pode, não quem quer.

Escreve quem vive, ao longo dos anos, por entre as veredas de uma instituição, observando, com a atenção de quem vê o Dr. House, num desses “legais” downloads (ou então, nas excelentes horas de prime time, de uma das televisões portuguesas, que são as 3horas da manhã, numa clara menção ao noctivaguíssimo desprezo pelas horas de sono e desleixo pelo estudo de uma qualquer disciplina, demasiado complicada para ser realizada para mais do que com nota 10… Ou 16, para quem sonha com tais objetivos).

Escreve quem vive, não quem leu.

Ou, por outras palavras, daqueles que pela porta de entrada se infiltraram, receosos dos pequenos roedores praxísticos, dos necrófagos que zelam pela segurança de uma extensíssima população (extensamente diminuta), dos ataques à libertinagem na biblioteca, mas, acima de tudo, do topo da cadeia alimentar, os leões da savana ISCTEiana, os tubarões da Cidade do Pátio 1: os professores (ou potenciais professores, porque antes de os conhecerem, os estudantes tendem a assumir que todas as pessoas acima de x idade, ou com começos de calvície, serão seus futuros professores).

Por lá ficaram similares pessoas. Após uma triunfantemente embaraçosa entrada pelos corredores, que os levaram a perderem o Norte, o Sul, o Este e o Oeste (antes de repararem nas designações das salas), esbarrando na simpática padronização das introduções sociais a um novo ciclo, foram estas as principais questões de integração em destaque, aquando da impossibilidade de um qualquer destaque.

Escreve quem procrastinou, não quem lutou.

Procrastinação. A acusação de uma sociedade que olhou desconsolada para quem uma vida estudantil decidiu assumir. O que é a vida estudantil? Restringe-se à excelência bibliotecária. À resolução do exercício e da particular dedicação curricular. Nada que tenha que ver com a necessidade da dedicação social, criação do network, ou do refreamento necessário do neurónio. Porque quem por lá não andou, teve direito, os sortudos dos preguiçosos que cobraram a propina aos pais ou ao Estado (porque não existe quem o faça do fundo dos seus bolsos…), renderam-se a uma vida de produtividade: que se sacrifiquem! Sacrifiquem o bem estar, a saúde, a quantidade de enxaquecas e úlceras que irão sofrer ao longo de uma vida. Sacrificados foram estes mamíferos, que de tanto o serem, não só tiveram que abdicar dos seus passes sociais e das significativas quantidades de álcool ingeridas, como perderam a sua espécie: passaram de mamíferos a pouco mais do que terráqueos, sem espécie (situam-se, agora, num limbo impossível de classificação, tudo porque o Estado lançara um Decreto-Lei, que implicava a não classificação desta espécie, por medo da realização de uma nova descoberta científica).

Escreve quem se submeteu, não quem morreu em batalha.

Porque a escrita era permitida a quem havia sido admitido por entre as posições privilegiadas do socialmente aceite. Porque o desvio, por mais que insignificante, nada mais era do que a desassociação do empreendedor que se havia desapegado do amor ideológico da Escola, da Universidade.

E assim nasce a lagarta. Cega de engenho, demasiado gorda para correr, sebando à sua volta, na expetativa… De um dia se juntar às borboletas, que por ela voavam.

Não percam o próximo artigo… Porque o Ministro Crato… Perde (o que, em parte, ajuda a explicar os resultados das suas políticas).

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