Belmiro de Azevedo e a mão de obra barata

Se há coisa com a qual eu não me identifico com o povo português (uma de muitas coisas com as quais eu não me revejo no Zé tuga ), é falar, bem ou mal, das pessoas depois destas falecerem. Isto de bater as botas não é tão simples quanto parece, não basta morrer e a nossa alma subir para o paraíso ou descer para o inferno, a morte é muito mais complexa, tudo o que fizemos em vida se converte num epitáfio fabuloso ou num pós vida desastroso. É frequente ouvirmos as velhas alcoviteiras dizerem: “Era tão boa pessoa…”, quando na realidade queriam dizer: “Este filho da puta já vai tarde!”, as paginas do facebook enchem-se de homenagens mesmo que nunca tivéssemos ouvido uma única música do gajo, mas como fica cool e algo patriota, nós fazemos, assim como satirizar e criticar a obra que um homem fez durante a sua vida, após a sua morte. Leitores, não confundam a minha veracidade com má disposição, eu sou fá do humor, especialmente o humor sarcástico, o humor é o que, muitas das vezes, nos tira o peso dos dias, mas criticar de uma forma leviana, com fundamentos nefastos, não me parece uma boa forma de dignificar aqueles que contribuíram para o crescimento económico do nosso país.

Belmiro de Azevedo faleceu no dia 29 de Novembro de 2017, tinha 79 anos. Belmiro nasceu em Marco de Canaveses e era o mais velho de oito irmãos, o pai era agricultor e a mãe era costureira, um homem de origem humilde que se tornaria num dos homens mais ricos do Mundo. Belmiro reprovou no primeiro ano lectivo, provando aquilo que afirmo há já algum tempo, nem sempre os alunos com melhores notas serão futuramente os mais bem sucedidos. Mas sucesso estava escrito no seu destino, com uma visão empresarial inovadora e uma gestão motivadora e prudente, Belmiro assumiu a direcção da Sonae e expandiu a sua actividade aos Hipermercados, comunicações e telecomunicações e, posteriormente, atingiu o mercado internacional, com o mercado de retalho especializado ( não sabiam? eu também não, mas fui ver à Wikipedia para não fazer má figura ), quem não se lembra da loucura que foi a abertura do primeiro Continente em Portugal, em Matosinhos? Eram centenas de pessoas que faziam excursões para visitar o primeiro paraíso de consumismo.

Politiquice à parte, Belmiro sempre foi uma pessoa muito directa relativamente aos seus ideias empresariais e opiniões, em 2013 Belmiro afirmou e passo a citar:  “Diz-se que não se deve ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Eu não sei porque não. Porque se não for a mão-de-obra barata não há emprego para ninguém”, na altura, a malta ficou toda indignada e, agora que o empresário foi desta para melhor, a mesma malta e outras tantas, lembraram-se de fazer duras criticas a esta afirmação, a mesma malta que faz compras no Continente dez minutos antes da loja encerrar, apesar de terem estado o dia todo com o cu alapado na cadeira de um café. A mesma malta que se gaba que se for para ir trabalhar para ganhar 557 euros então preferem estar em casa, claro que preferem, isto do rendimento mínimo cair certinho todos os meses sem arrear as costas é uma maravilha. A malta que tanto critica é a malta que anda a saltar de trabalho em trabalho porque sair do quentinho da cama todos os dias bem cedo não é para qualquer um, afinal, alguém tem de pagar os impostos neste país!

Questionado também sobe o aumento do salário mínimo nacional, Belmiro respondeu: “É preciso merecer seja que salário for. Há pessoas que não querem fazer esse esforço”. Os leitores tem a noção de quantos postos de trabalho não são merecidos pelos trabalhadores? Há muitos maus profissionais, a minha área é atendimento ao cliente, se eu tivesse a postura que eu vejo, quase diariamente, muitos trabalhadores terem face aos clientes, eu já tinha sido despedida. Afinal quem é que precisa de quem? As grandes empresas não querem saber se é a Maria ou a Joana que estão no hipermercado x, na secção y, nós, trabalhadores, é que temos de zelar pela nossa empresa, se não tivermos clientes, não vendemos, certo? Então, como vão ser pagos os nossos salários? Belmiro de Azevedo criou mais de cinquenta mil postos de trabalho, considera-te um sortudo se um destes postos de trabalho é teu!

“Os empresários não têm de pedir favores ao Estado (…) é preciso muita paciência e fundos para esperar, porque enquanto nós esperámos os salários foram sempre pagos a tempo.”

Belmiro de Azevedo