Bem melhor que sexo!

Bem sei que atribuir um título deste calibre a esta crónica, pode revelar-se muito prejudicial para o meu bem-estar – pois pode alguma ninfomaníaca revoltada com esta crónica atacar-me na rua e violar-me de todas as formas possíveis e imaginárias. O que, visto por outro prisma, até que nem podia ser mau de todo, desde que fosse uma ninfomaníaca que não tivesse lido o livro “As Cinquentas Sombras de Grey”. Caso contrário, estaria bem tramado…

Bom, ao longo dos anos tenho ouvido algumas pessoas afirmarem que não há nada melhor neste mundo do que o sexo. E, verdade seja dita, eu também pensava que não havia nada melhor do que isso. O sexo é bom. O sexo é maravilhoso. O sexo é libertador. O sexo afasta o stress e, por conseguinte, afasta a probabilidade de se vir a sofrer de depressão. Mas, meus amigos, o sexo não é a melhor coisa do mundo. Pelo menos, ao que respeita a alguns momentos mais aflitivos da vida. Momentos esses que, ao se passar por eles, nunca nos lembramos de que o sexo é a melhor coisa da vida.

Antes que o leitor pense “este gajo deve ser apanhado do clima, só pode! Nesta vida, nada é melhor que o sexo!”, eu passo imediatamente a expor uma situação por que passei recentemente, e que, para mim, vir-me livre dessa mesma situação foi melhor do que uma longa e louca noite de sexo desenfreado.

O meu sobrinho mais novo fez recentemente 2 anos de vida. É sempre uma alegria quando os petizes, ainda tão novinhos, celebram os seus aniversários – pois fazem-no sempre com uma alegria contagiante. A minha irmã decidiu elaborar todo um magnifico jantar para assim juntar toda a família nesta celebração tão importante.

A noite começou em grande, com um excelente paté de atum como entrada enquanto um belíssimo arroz de marisco se apurava e apressava para vir para a mesa. Sei bem que, com um arroz de marisco, deve-se beber um belo e fresquinho vinho verde, mas eu e a minha irmã decidimos alterar a tradição e envergar pela elaboração de dois jarros de sangria de vinho tinto – pois somos dois fanáticos de tal iguaria. E foi uma escolha acertada, visto que o arroz de marisco parece ter adorado a companhia da sangria, acabando por dois jarros de sangria desaparecerem por completo, em poucos minutos.

Após a ingestão do arroz de marisco – bem acompanhado pela sangria – eis que chega aquela altura de um jantar, em que toda a gente desespera pela sobremesa. Para a mesa veio uma bela, saborosa e caseira mousse de chocolate. Se pensava que a sobremesa iria ficar por ali, pois que estava bem enganado, porque a seguir surge um estrondoso doce de ovos. Apesar de um pouco enjoado, não podia fazer a desfeita de rejeitar uma sobremesa feita pela minha irmã, propositadamente para celebrar o 2º aniversário do seu petiz mais novo. Não me fiz rogado, e avancei para o doce de ovos. Estava, de facto, tremendamente delicioso.

Foi nesta altura que pensei: “Bom, é melhor parar por aqui, porque ainda falta o bolo de aniversário…”

Pois que foi bem pensado, mas algo impossível de acontecer. Pois, logo de seguida, surge na mesa um belíssimo bolo de bolacha caseiro, feito pela minha irmã – que, por sinal, é uma especialidade dela. Tentei esquivar-me ao bolo de bolacha, mas as palavras “maninho, tens de provar o bolo de bolacha, porque foi feito pela mana!”, não me deram alternativa senão embarcar pela ingestão de mais uma sobremesa. Nesta altura, só me passava pela cabeça o facto de ainda ter de passar pela ingestão do bolo de aniversário, pois que aí é que não podia esquivar-me de forma alguma, visto que faz parte da celebração de um aniversário – ainda para mais, do meu sobrinho de 2 anos.

E eis que essa altura chegou e lá tive de fazer aquela típica expressão de contentamento pelo facto de o bolo de aniversário estar a saber-me tão bem que estaria perto de chegar ao céu e tocar nas nuvens — que, curiosamente, é a sensação que se tem quando se pratica o amorrrrrrr e se chega ao momento de êxtase supremo. Mas, na verdade, eu já nem conseguia cheirar o bolo, quando mais saboreá-lo depois de tudo o que já tinha comido naquela noite. Mas lá fiz o esforço…

Chegou a altura de se abrir os presentes, e foi nesse instante, no preciso momento em que o meu sobrinho abria a minha prenda, que eu pensei: “Ah, RAIOS MA PARTAM… que esta prenda foi uma má ideia…” Pois, dado o extremo prazer e paixão que o “puto” com 2 anos já demonstra por futebol, optei por oferecer-lhe um Puff enorme em forma de bola de futebol. Tudo muito giro e tal, mas quem teve de encher o raça do Puff fui eu e a minha irmã. A dada altura, depois de milhares de sopradas para dentro do Puff, senti a minha cabeça a andar à roda. E como se não bastasse essa sensação estranha, eis que começa uma verdadeira revolução a formar-se nos meus intestinos. E aqui começou a fase de aflição…

Toda aquela mistura de sobremesas, sangria, paté de atum e arroz de marisco, provocara uma verdadeira revolução dentro dos meus intestinos, e tenho a certeza que fora o arroz de marisco a provocar tudo – pois as sobremesas, paté de atum e sangria, pareciam-me malta que se podiam dar muito bem uns com os outros. Mas o arroz de marisco não. Esse tinha cara de revolucionário…

A seguir vieram as cólicas. As terríveis cólicas que nos levam a dar pulos, de cada vez que uma dela surge em força. Tentei esconder ao máximo o que se estava a passar, até que não consegui aguentar mais e dirigi-me em agonia em direcção ao WC. Mas, para mal dos meus pecados, estava ocupada… Esperei, esperei… até que decidi voltar para junto dos convivas, enquanto esperava que o WC estivesse livre. 10 minutos mais tarde, decidi voltar a tentar a minha sorte, mas o WC continuava ocupado.

Para ajudar a intensificar ainda mais aquele drama, eis que os meus dois sobrinhos começam a rodear-me. Um queria que eu brincasse com ele e com o Puff que lhe tinha oferecido e que quase me secou um pulmão, enquanto o outro queria que eu visse um filme de animação com ele. E eu só queria o raça do WC… mas ele continuava ocupado! MEU DEUS! MAS QUEM É QUE ESTARIA NO WC HÁ DUAS HORAS! MAS QUEM!

O mundo conspirava contra mim, naquele instante. De repente, vejo-me rodeado pelos meus dois sobrinhos cada um a puxar-me para si. Olho para os meus familiares ostentando uma cara de desespero, numa tentativa desenfreada de que alguém compreendesse a minha agonia e me salvasse daquele desespero – retirando assim os petizes de ao pé de mim, e igualmente retirando a pessoa que estava no WC a impedir que o alívio chegasse até mim.

O desespero tomou conta de mim. Virei costas, berrei alto um “ATÉ AMANHÃ!” para que todos ouvissem, abri a porta e desatei a fugir em direcção a casa. Por sorte, a minha casa fica apenas a um quarteirão da casa da minha irmã, e rapidamente cheguei a casa. Foi quando cheguei à porta de casa, que me lembrei que me tinha esquecido das chaves de casa, na casa da minha irmã. Comecei a hiperventilar… Achei que iria desfalecer ali, à porta de casa. Por sorte, a minha namorada deu pelo sucedido, e surgiu logo atrás de mim com as chaves de casa. Nem tive tempo de lhe agradecer tal facto, retirando-lhe de uma forma algo brusca as chaves da mão, abrindo a porta, e correndo – foi mais a andar apressado, visto que correr naquelas condições era totalmente impossível! – em direcção ao WC!

Foi nesse instante, no momento em que toda aquela revolução interior que tinha como epicentro os meus intestinos, se esvoaçava num sentimento de puro alívio, que eu constatei que, sim senhor: ISTO É BEM MELHOR QUE SEXO, PORRA!

Até para a semana, malta catita…