Bolachas Quê? Quais? – Carla Vieira

Vocês podem-se perguntar por que é que vos venho falar de comida outra vez. Bem, podem perguntar, mas a questão de eu responder fica por aí. Não sei. No entanto acho importante haver um diálogo aberto e honesto acerca de algumas comidas, e sensatamente as Bolachas Maria são uma delas.

Comecemos pelo princípio: já todos nós comemos estas bolachas. Ou muitas, ou poucas, com Nutella, com queijo, com manteiga, a acompanhar uma banana ou duas ou até empapadas em leite quente antes de dormir. Dúvidas até agora? Nenhuma? Porreiro.

Ora estas bolachas são especiais. Eu quando era pequena costumava achar que as bolachas de água e sal é que tinham a sua própria categoria bolachal, mas depressa me desenganei. Na verdade se calhar só pensava isso porque comia das bolachas Vieira e como é o meu nome dava-lhes um saborzinho especial, mas passemos à frente.

Portanto, as Bolachas Maria. Todos nós já as comemos, todos sabemos quais são essas. A questão é: gostamos delas?

NÃO.

Claro que quando éramos pequenos gostávamos. Porquê? Porque éramos burros. E como burros que éramos, os papázinhos enfiavam-nos aquilo nas goelas em jeito de snack e nós ficávamos todos contentes da vida. Depois ficamos mais espertalhões e era ver-nos dizer “compra destas” e “não compres bolachas Maria” mas caramba, que elas nos vinham parar à dispensa vinham. Como pragas. Baratinhas e inconspícuas, lá apareciam elas de repente sem darmos conta e pimbas, alguém tinha de acabar com elas… Geralmente depois de se acabar com as outras marcas todas, não é?

E é assim que se chega à brilhante conclusão de que elas continuam a ser compradas porque alguém as come. Nós não compramos coisas que não comemos, isso é um desperdício. Então algum motivo existe para elas se enfiarem de fininho nas nossas vidas. E qual é?

Na verdade é muito simples. Eu, por exemplo, já comi muita coisa a qual não gostei. E então quando tenho fome, não paro por nada. Vão vegetais, vai sopa, vai peixe, vai tudo. E claro, quando tenho fome a meio da tarde e o armário está vazio, então aí… Como as bolachas que restam. As Maria. As filhas da mãe das Maria. Pior pior, é que me sabem mesmo bem! E não sou só eu, porque quando dá a fome a alguém onde eu trabalho, aguentam até não poderem mais e depois é vê-los a abrirem um pacotinho dessas bolachas da praxe, ou das Torradas também, que suponho eu sejam as primas bronzeadas aqui das meninas Maria.

Sumariza-se assim: as bolachas Maria são o equivalente a comer cartão prensado debaixo de uma sola de sapato, a não ser que se tenha mesmo muita fome e nenhuma alternativa; aí sim, são um autêntico caviar. As Torradas já não têm essa sorte. Desculpem lá mas não há quem as salve.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente