Bombeiros coragem

Chama-se Rúben e exerce uma atividade que ajuda a salvar vidas. Na pessoa desse bombeiro, quero agradecer a todos os que contribuem, como ele, para o bem-estar comum.

Tem uma força hercúlea e é voluntarioso, como são todos os bombeiros de um metro e oitenta que diariamente travam uma luta corpo-a-corpo para vencer quaisquer contratempos que afetam o quotidiano de um vulgar cidadão.

Na corporação de bombeiros onde é voluntário, está há tempo suficiente para contar até agora maior número de vitórias do que derrotas e é generoso, mas não cede nas questões de princípio e nunca se viu privado de nenhuma das virtudes do seu caráter, como a lealdade e o senso de justiça.

Alcunharam-no de Mãozinhas aos treze anos, mas para mim continua a ser o Manápulas, por causa das suas mãos disformes. São enormes e nas almofadinhas a pele é mais espessa do que em qualquer outra parte do corpo. Entre os dedos, que têm a força de umas tenazes, tanto pode acariciar uma flor, como facilmente descascar um amendoim ou esmagar uma noz de casca rija, reduzindo-a ao tamanho de uma avelã.

Impressiona a quem o ouve, pelo seu timbre de voz de barítono que é mais percetível nas notas baixas e, por causa dela, enche o peito de orgulho quando refere que chegou a frequentar um curso de verão numa academia de canto. Porém, o mais perto que esteve de atuar perante uma plateia que enchia a Igreja matriz, foi no final da homilia do Padre Eugénio, por ocasião das festas em honra de Nossa Senhora da Graça em Condeixa, quando trocou as voltas à partitura e no meio de uma cantata de Bach não reparou que era o único elemento do coro que, contrariando as indicações do maestro continuava a cantar.

No seu dia-a-dia guia uma ambulância vermelha que está longe de ser um objeto do qual ele não faz parte. Por fora, ela andava sempre de aspeto lavado mas no interior, por causa do asseio, tinha impregnado o cheiro dele acabadinho de sair do duche quando se esmerava e até barbeava e encharcava em água-de-colónia.

Guia-a com a destreza de quem sabe que desse atributo, mais do que de qualquer outro que possua, depende salvar a vida dos que num momento de aflição leva a bordo.

É resistente e com tanta fibra, assemelha-se a um atleta de fundo de quem não se espera que seja veloz, mas que todavia acaba sempre por nos surpreender.

Chama-se Rúben mas podia chamar-se Nuno Dias, Paulo Fernandes ou Fernando Gomes, que são igualmente pessoas de boa índole e presta serviço no quartel de Odivelas, fronteiriço a Lisboa, mas podia estar noutra corporação, onde não destoaria porque valorosos e corajosos como ele, há, felizmente, centenas de bombeiros voluntários e não só neste país.