Cada Macaco No Seu Galho…

“Cada macaco no seu galho”, ora aqui está uma frase que passou, recentemente, a fazer mais sentido na minha vida. Porque, de facto, essa é uma dura realidade que se deveria seguir à risca. Lamentavelmente, eu sou uma das pessoas que opta por não o fazer. E, por isso, deveria deslocar-me até uma Sex Shop, adquirir uma chibata em promoção, e chibatear-me violentamente até aprender a estar no meu lugar. Mas isso deve ser coisa para doer e deixar marca, e então acho que a melhor decisão é ficar quietinho no meu canto.

“Raios, Ricardito, o que se passa contigo, rapaz? Por que razão queres tu chibatear-te a ti próprio, que nem um doido varrido?”, pergunta o leitor, já um pouco excitado com a ideia, porque viu recentemente o filme “As 50 Sombras de Grey”, e sempre que ouve falar em chibatas recorda-se imediatamente da Dakota Johnson em pelota, com o seu rabiosque a ser alvo de verdascadas de meia-noite. E eu repondo: “Primeiro porque também vi o filme “50 Sombras de Grey”, e depois de ver a Dakota Johnson a ser alvo de chibatadas, estou sempre a arranjar todo o tipo de desculpas para ter essas imagens de regresso ao meu cérebro. E também, porque sou uma besta incurável que, uma vez mais, foi alvo de chacota por parte da minha médica da família.”

Nos últimos tempos tenho passado por uma fase em que minha saúde decidiu pregar-me alguns sustos. O que me levou ao encontro da minha médica de família para que ela me passasse alguns exames para fazer, para assim se tentar descobrir o que se passa comigo. Ou melhor, para se tentar descobrir o que se passa com alguns do meus órgãos internos – que ultimamente parecem terem-se unido para me pregar alguns sustos. Depois de alguns exames aos pulmões e coração, assim como a medição durante 24 horas da minha tensão arterial, lá chegou o dia em que fui mostrar o resultado dos exames à minha médica de família, sem antes ­­­­– nas horas antecedentes à da consulta – ter aberto o resultado dos exames e pesquisado que nem um doido o que queria dizer metade dos termos médicos que lá estavam e que, para um leigo como eu nos assuntos da medicina, pareciam palavras chinesas misturadas com um cheirinho a russo. E, quando dei por mim, estava a ler coisas terríveis que envolviam as palavras cancro, leucemia, tumores, e etc. Quando desliguei o computador, minutos antes de ir para a consulta com a minha médica de família, eu estava quase a ter um ataque cardíaco. “Bolas, eu estou a morrer, caramba!”, recordo-me de ter pensado várias vezes a caminho do Centro de Saúde.

Foram minutos de espera terríveis na sala de espera, enquanto esperava que o som de uma voz a dizer o meu nome, fosse expelido pelo altifalante que se encontrava na parede. Respirei fundo, levantei-me da cadeira e lá fui ao encontro da minha médica de família, que me aguardava com uma cara de quem estava a ter um dia terrível. Se ela estava assim, então eu devia estar com uma cara de morte, pois o meu dia estava a ser exactamente assim: um dia de morte. Sabe, caro leitor, um daqueles dias em que não nos apetece levantar da cama e andamos o dia inteiro com mau-feitio, olheiras e com a sensação que o nosso fim se está a aproximar? (Hum, não serão estes os sintomas inerentes a um estado de depressão?)

A médica começou por examinar os relatórios dos meus exames. Primeiro, o da Tensão Arterial. Ao fim de uns segundos, ela diz: “Ah, a tensão está dentro do normal, apesar de ter aqui uns picos elevados durante o dia. Mas em repouso absoluto, ou seja, quando o Ricardo está a dormir, ela está sempre bem. Por isso, está tudo bem.” Ao que eu respondo imediatamente, e sem pensar: “Está boa? Mas eu tenho aí picos muitos elevados durante o dia! Mas de noite está boa… Isso quer dizer que o meu mal é apenas e só um: o facto de estar acordado? Eu devia estar sempre a dormir para a minha tensão arterial estar em condições?” Ao que a doutora esboça um sorriso, claramente em sinal de gozo. A seguir, ela pega no relatório do exame ao coração, e passados alguns segundos diz: “Ah, o coração está muito bom. Tudo a funcionar na perfeição! Com o coração não precisa de se preocupar…” Ao que eu respondo, armado em chico-esperto: “Ah, sim… Esse está bem preenchido já vai para 14 anos, Doutora. Está saudável, de certeza!” Ao que a doutora, responde com uma calma perturbadora: “Ah, parabéns para si.” Aqui, não percebi se estava realmente a ser felicitado, ou alvo de sarcasmo por parte da médica. A doutora coloca o relatório do exame ao coração de lado, e começa a ver o relatório do exame aos pulmões. E passados alguns segundos, diz: “Hum… os pulmões estão… Hum, o Ricardo fuma?” Ao que eu respondi negativamente apenas com um abanar de cabeça, sentindo-me completamente aterrorizado pela pergunta. Se ela estava a perguntar aquilo, é porque estava algo de muito errado com os meus pulmões… A médica continuou: “Ah, então está tudo bem. Ricardo, não se preocupe, está tudo bem. Agora, você devia era emagrecer um pouco…” E eu respondi: “Mas, doutora… você já viu as imagens do raio-x aos meus pulmões, que estão no CD que vem com o relatório?!” Ela diz que não, porque tem o leitor de DVD avariado. Eu apresso-me a mostrar-lhe uma foto que tirei com o telemóvel ao raio-x, e começo a balbuciar perguntas sem nexo: “Doutora! Veja aqui! Olhe bem! Está a ver esta mancha branca enorme no meu pulmão esquerdo?! Isto é mau, não é? Eu estou a morrer, não estou? Isto é o quê? Cancro? Um tumor? Algo de muito mau, com toda a certeza! Com o tamanho que a mancha branca tem, isto tem de ser algo mau! Eu vou desta para melhor, não vou doutora? Quantos meses tenho de vida? Aliás, quantas semanas?! É melhor eu começar a pensar já no testamento, certo? Isto, com este tamanho todo, deve ser maligno de certeza! Eu vou morrer! Por Deus, eu vou morrer, doutora!” Ao que a doutora, com uma calma incompreensível, mas natural de quem já passou diversas vezes por esta situação, retruca: “Sim, você vai morrer. Eu vou morrer. Todos nós morremos, Ricardo. Mas o Ricardo não vai morrer já, disso tenho eu a certeza…” Ao que eu, completamente espantado, digo: “Mas, doutora, a mancha branca… Esta enorme mancha branca… Isto é mau… Tenho a certeza que isto é mau…” A doutora, levanta-se da cadeira e coloca-se ao meu lado e diz, de uma forma bastante suave: “Ricardo, tenha calma… Eu não sei bem como dizer isto, mas… Ricardo, sabe o que é essa enorme mancha branca a apanhar parte do seu pulmão esquerdo? É a imagem do seu coração…”

Eu fiquei de boca aberta. Durante largos segundos não consegui dizer nada. Senti-me a pessoa mais estúpida do mundo. A Doutora voltou a sentar-se e desatou a rir… Eu, completamente aparvalhado, apenas consegui dizer: “Doutora, perdoe-me… Eu sou uma besta…” Ao que a doutora disse: “Não Ricardo. Você não é uma besta… Mas, olhe, nunca ouviu dizer que ‘cada macaco no seu galho?’ Eu é que sou a médica aqui e não você…”

Não consegui dizer mais nada. Baixei a cabeça e abandonei a sala sem proferir uma palavra. A caminho de casa passei por uma Sex Shop e adquiri uma chibata…

Vou agora penitenciar-me por ser uma besta! Espero que isto não deixe muitas marcas no corpo, porque senão vou ser alvo de chacota durante a minha próxima aula de natação…

Até para a semana, malta catita…