Caixas prioritárias nunca mais!!

Hoje trago-lhe uma história traumática. Um episódio da minha vida tão marcante, tão negro, tão terrífico, que só de me lembrar dá-me vontade de me encolher a um canto, agarrado aos joelhos, repetindo incessantemente as seguintes palavras: «Caixas prioritárias nunca mais… Caixas prioritárias nunca mais…». Quer saber porquê?! Então fique por aí…

Na passada 6ª feira fui a uma grande superfície comercial (que não irei revelar o nome, visto que o Pingo Doce não me paga para tal…) e, após efectuar as minhas compras, dirigi-me até à caixa para pagar. E foi aí que o terror começou… Filas e filas infindáveis de pessoas consumiam as poucas caixas abertas. Mas eis que, num laivo de sorte, encontrei uma caixa com apenas 2 pessoas à minha frente. Maravilha, pensei eu… (Mas não podia estar mais enganado…) Assim que me pus naquela fila, aproximou-se logo de mim uma senhora cigana, com a sua filha de 6 anos ao colo, e diz-me: “Aiii, eu tenho prioridadi! É que esta caixa é prioritáriaaa! E eu tenho a menina ao colooo…” – E lá acabei por ter de a deixar passar à minha frente. (Apesar de ter a perfeita noção que aquela miúda estava bem longe de ser um bebé de colo. Muito pelo contrário, o mais provável era ela própria vir a ter um bebé seu dentro de 4 ou 5 anos…o mais tardar!)

De seguida, aproxima-se de mim uma grávida (com a barriga, de grávida, mais pequena que já vi na vida) e diz-me: “Olhe, eu preciso de passar à frente. É que sabe, eu estou grávida!” – Respirei fundo, acalmei-me e disse, “Ok, minha senhora. Faça favor…” – Quando no fundo, no fundo, a resposta que latejava na ponta da minha língua era qualquer coisa como: “Ai, sim?! A menina está grávida? E de quanto tempo? 2h30, não?! Isso lá é barriga que se apresente?! Você devia era ter vergonha na cara. Se for preciso anda por aí, a ‘bater perna’ a tarde inteira, mas Deus a livre de ter de esperar 20 minutos na caixa do supermercado, para pagar uma caixa de preservativos (sim, preservativos! Agora, porque raio é que uma grávida precisa de uma caixa de preservativos? Isso já é um mistério para mim…) e uma lata de chantily. Olhe que sinceramente! Fique a menina sabendo que a minha barriga está bem maior que a sua. E a quantidade de gazes que estão lá dentro, desejosos por sair, são bem mais perigosos se ‘nascerem antes do tempo’ do que o seu bebé!” – Mas pronto, graças às minhas aulas de auto-controlo, consegui ficar calado e acabei por deixar a “prenhe” passar-me à frente…

Pouco depois lá chegou a minha vez de ser atendido. Compras no tapete, carteira na mão e sorriso na cara, para cumprimentar a senhora simpática da caixa. Mas eis que, vinda do nada, aparece uma idosa a dizer que vai passar à minha frente pois tem prioridade! Inspirei e expirei mais 6 ou 7 vezes e disse à senhora que podia passar, até porque ela apenas trazia 2 bocados de toucinho na mão e uma baguete debaixo do braço…

Quando nesse preciso instante, aparece o Zé! (E quem é o Zé?! – perguntará o leitor) O Zé é nada mais, nada menos, que o marido desta tão adorável senhora… Que, só por acaso, até vinha com um carrinho cheio de compras… (E aí saltou-me a tampa!) Virei-me para a velha e disse: “Olhe se não se importa eu vou pagar as minhas compras e a senhora é atendida depois, ok?! Até porque a caixa é apenas prioritária para grávidas, deficientes e pessoas com bebés ao colo…E não para pessoas com mais de 80 anos e muito tempo livre para gastar!” Mas, para azar dos azares, havia logo de me calhar uma daquelas velhas rezingonas que necessitam urgentemente de aproveitar todos os últimos minutos que ainda lhes restam de vida…

“Ai não paga, não senhor! Eu tenho prioridade… Até porque uso uma bengala! Olhe aqui! Por isso, tenho todo o direito de passar à sua frente…” E se assim o disse, mais devagar o fez. E o pior ainda foi depois: quando ela agarra em 3 ou 4 sacos gigantes do Pingo Doce. Mete a bengala debaixo do braço e lá vai ela, mais o zé, os dois felizes e contentes por terem enganado mais um otário! «ERRR!!! Aprendi a lição, caixas prioritárias nunca mais!!»