Calvin & Hobbes

Quando pegava num livro do Calvin & Hobbes já sabia o que me esperava. Eram horas de sorrisos acompanhados de um humor que trata questões profundas como, qual é o sentido do universo.

No outro dia o meu irmão perguntou-me se tinha algum livro do Calvin, mas é claro que ainda tenho os livros! Ele pegou no livro e volta e meia lá se ouvia uma gargalhada.

Mais tarde peguei eu no livro. À medida que o ia lendo pensava, “Porque raio deixei eu de ler isto?!” e agora pergunto, porque raio é que os miúdos hoje em dia não lêem isto?

Pais, não tenham medo das ideias loucas que o Calvin e o Hobbes têm para escapar a banhos, trabalhos de casa e escola porque essas ideias é o que fazem dele (e de todos nós que já tivemos essas ideias) uma criança por isso tirem os telemóveis aos vossos filhos e ponham-lhes uma BD do Calvin & Hobbes à frente.

A sua imaginação é tão fértil que dialoga com o seu tigre de peluche e atenção! porque esses diálogos são, muitas vezes, bastante significativos. No fim claro que há sempre um remate humorístico.

Esta BD centra-se principalmente no Calvin e no Hobbes, mas não nos podemos esquecer da Susie, dos pais do Calvin e da sua babysitter Rosalyn. A Susie é claramente a rapariga de quem o Calvin gosta, mas como todos os miúdos, a atenção que lhe dá é a pregar-lhe partidas e dizer que ela é nojenta. O afecto que este lhe tem é canalizado pelo seu tigre Hobbes que deixa a Susie fazer-lhe tudo.

O pai do Calvin é um homem trabalhador, peculiar e com a dose certa de cinismo. Cada vez que vai às compras indigna-se com a variedade de escolha de produtos e acaba aos berros na loja a dizer:

“Já sei! Vou despedir-me do emprego e dedicar-me a escolher manteiga de amendoim! Será suficientemente sólida ou preciso da “extra sólida”? Vou comprar ingredientes! Vou comprar marcas! Vou comprar tamanhos e preços! Talvez vá dar uma volta pelos outros supermercados para ver o que têm. Tanta variedade e tão pouco tempo!”

(Não é o que nos apetece fazer cada vez que nos deparamos com aquelas coisas lights e outro que tem menos sal e outro que não é light mas tem menos açúcar?)

Claro está que o gerente da loja tem de lhe dar uma palavra e nos próximos tempos tem que ir a mãe fazer as compras.

É um homem que cada vez que ouve o filho a queixar-se de uma injustiça da vida lhe diz “Isso é bom para construir caracter”.

A mãe do Calvin é uma stay at home mom, é uma personagem bastante calma (para quem lida com um filho como o Calvin) e que já sabe lidar com as manhas do filho. Quando há uma oportunidade para o deixar quieto ela não a deixa escapar, como por exemplo ver a febre, diz ela que medir a temperatura demora cerca de três horas, deixando assim esta criança hiperactiva sossegada.

A Rosalyn é vista pelo Calvin e pelo Hobbes como uma tirana, quando ela está lá em casa a hora de deitar é às seis (nunca é cumprida porque o Calvin engendra sempre um plano maquiavélico), nada de comida de “plástico” nem televisão nem nada, é como ela diz e acabou. Claro que quando os pais chegam a casa têm que lhe pagar a dobrar porque Calvin a conseguiu trancar fora de casa durante uma noite inteira.

Todas estas personagens enchem esta BD de riso.

Mas ainda me falta o Hobbes. É o fiel companheiro do Calvin, é quem o recebe em casa quando volta da escola com um estardalhaço digno de felino, é quem o completa nas suas questões filosóficas e lhe atira sempre com uma boca quando o Calvin diz algo absurdo sobre si próprio, é como que a sua consciência.

É incrível como o Calvin se diverte tanto com uma companhia imaginária.

Se é pouco saudável? Não acho, basta ler as suas conversas para saber que mais de nós deveríamos ter um amigo imaginário.

Esta BD é uma sátira inteligente e surpreendente (porque todas as conclusões filosóficas partem de um miúdo de seis anos e o seu tigre de peluche) sobre um mundo consumista, mesquinho e sobre a juventude que começa a consumir assim que tem cérebro para isso.

Bill Watterson pega nestes aspectos negativos, dá-os ao Calvin e ao Hobbes e aligeira-os com um plot twist humorístico ou empresta a um assunto sério um cenário absurdo.

Vou decididamente ler Calvin & Hobbes para o resto da minha vida, porque a maneira como o mundo é ridicularizado nesta BD me dá vontade de rir.