Caos no Pacífico: China vs Japão – Francisco Duarte

Recentemente tem havido um aumento de tensões entre a República Popular da China (RPC) e o Japão em relação um arquipélago situado no Mar da China oriental. Conhecidas como Diaoyu na China e Senkaku no Japão, estas pequenas ilhas situam-se a 340 quilómetros da China continental, a 410 quilómetros de Okinawa, o mais importante território japonês a Sul do arquipélago nipónico principal e, também importante, a 195 quilómetros de Taiwan. Esta ilha tem uma certa importância no debate relacionado com Senkaku (nome dado ao arquipélago daqui em diante por motivos de conveniência), uma vez que corresponde a um país fundado pelos últimos defensores da República da China, antes de o território continental ter sido dominado pelos comunistas em 1949. Para todos os efeitos a RPC também declara domínio sobre Taiwan, e o governo independente que lá está estabelecido continua a ser o grande assunto por resolver da guerra civil que se seguiu ao fim da ocupação japonesa. Igualmente a considerar é o facto de que também Taiwan reclama soberania sobre as ilhas, complicando ainda mais o problema.

As ilhas de Senkaku foram anexadas pelo então Império Japonês no final do Século XIX e ficaram sob controlo americano após a Segunda Guerra Mundial. Nos anos 70 passaram novamente para controlo japonês, tendo algumas ficado em nome de Hiroyuki Kurihara, responsável pelo estudo das mesmas. Recentemente foram descobertos importantes jazigos de terra rara e combustíveis fósseis nas águas em redor das ilhas. Mais ainda, Senkaku encontra-se nos limites das ambições territoriais da RPC relativamente aos mares de China Oriental e do Sul da China. Águas que, em grande medida, se encontram dentro das áreas marítimas de diversos países vizinhos da grande potência, criando um pesado mal-estar em toda a região.

Evidentemente que a situação relativa ao domínio de Senkaku e às relações políticas entre a RPC e o Japão iria dar azo a trocas de palavras amargas, situação que de facto se deu. Mas as coisas não são tão simples como podem parecer, e entre divergências internas e externas relativamente aos dois países, alguns falam já na possibilidade de guerra, que, a dar-se, seria extremamente negativa para a economia e para os relacionamentos políticos a nível regional e mundial.

Assim sendo, e similarmente ao que já foi aqui feito relativamente à situação entre a Síria e a Turquia, proponho-me a fazer uma leve comparação entre as forças armadas de ambos os países, desta vez tendo em conta que um conflito direto é uma possibilidade algo mais forte, ainda que distante. Mas já iremos aos detalhes.

J-10A Vanguard vs F-2A Viper

No que diz respeito ao material que ambos os países usam, existe uma tendência para uma mistura relativamente equilibrada entre equipamento produzido nacionalmente e no estrangeiro. O Exército Popular da RPC vai buscar o armamento que não produz à Rússia, apesar de as relações entre ambos os países serem instáveis, andando entre o apoio próximo e o esfriamento total. Já o Japão tem grandes apoios dos Estados Unidos da América, um aliado bastante próximo, apesar da declaração de que não se envolveria diretamente na questão relacionada com Senkaku.

Curiosamente, ambos os principais caças ligeiros que ambas as nações têm ao seu dispor são baseados no icónico F-16 de fabrico americano. O J-10 chinês é um caça multifunções ligeiro e com ênfase na agilidade. Apesar de a sua aparência se assemelhar muito a um Eurofighter Typhoon reduzido, há que afirme que é realmente  baseado na tecnologia do israelita Lavi, uma tentativa do estado judaico em produzir um F-16 adaptado às suas necessidades e que foi cancelada devido à pressão americana. Também houve grande envolvimento russo neste projeto. Esta aeronave está lentamente a substituir os já velhos J-7s, cópias chinesas do famoso MiG-21.

Já o F-2 japonês foi desenvolvido com ajuda americana no sentido de se criar uma variante do F-16 com capacidades antinavio e adaptada ao teatro de operações nipónico. Tem uma área alar maior em relação à aeronave que o originou e está entre as aeronaves mais modernas do arsenal das Forças de Autodefesa Japonesas (FADJ). Contudo creio que, pelo menos no ínicio das operações, dando-se de facto uma guerra, os japoneses colocarão na linha da frente os seus numeroso F-4 Phantom II, aeronaves já datadas que irão ser substituídas pelo novo F-35 americano nos próximos anos. Seria um modo de poupar recursos, enquanto os chineses irão, provavelmente, utilizar o que de mais sofisticado têm no sentido de obter uma vitória rápida.

J-11 Flanker vs F-15J Eagle

As aeronaves de superioridade aérea de ambos os países têm características bastante similares. São ambos caças grandes, de longo alcance, muito ágeis e bem armados. A grande diferença prender-se-á com a aviónica, que se supõe menos capaz no campo chinês, embora tal possa ser erróneo, como provam os novos projetos de caças furtivos chineses, algo que supunha muito mais distante no futuro do que realmente se revelou.

O J-11 é uma cópia chinesa do Su-27 russo. Apesar de terem adquirido dezenas de unidades do original da Sukhoi, a RPC decidiu-se a criar um amplo programa de replicação de tecnologia, de modo a colocar no terreno pelo menos duas centenas destas aeronaves. É aqui que se situa uma das grandes vantagens da China face ao Japão neste cenário O F-15J é uma versão levemente modificada do potente F-15C que provou o seu valor no Golfo em 1991 e oficialmente existem duas centenas deles em serviço. Contudo, isto corresponde sensivelmente a metade da Força Aérea de Autodefesa Japonesa. Por outro lado, o Exército Popular tem centenas de caças de diversos modelos ao seu dispor. Podemos assumir que o Japão troca o número pela qualidade, no entanto esta diferença numérica é algo a ter em conta. Mais ainda, a RPC mantêm uma grande capacidade de produção de novas aeronaves e outro equipamento militar, inclusive protótipos, algo que o Japão não possui, pelo menos na mesma escala.

Também de notar é que na série do Flanker existem variantes capazes de operar a partir do novo porta-aviões chinês. Apesar de ainda faltar algum tempo até ao navio atingir a condição operacional, se é que de facto a atingirá, permanece o facto que o Japão, proibido desde o fim da Segunda Guerra Mundial de empregar meios militares puramente ofensivos, não possui nada similar.

WZ-10 vs OH-1 Ninja

Ambos os países possuem grandes e variadas frotas de helicópteros. O Exército Popular baseia-se grandemente em aparelhos comprados no estrangeiro (algo que ainda faz, como prova a recente compra de mais de 50 Mi-17s à Rússia), ou abertamente copiados (o popular Z-11 nada mais é que uma cópia do Ecureuil europeu). As FADJ dispõem de uma ampla mistura de modelos sobretudo americanos, muitos fabricados sob licença em território nipónico. No aspeto do transporte e outras funções de apoio a operações militares, ambas as nações estão relativamente bem equipadas e capazes de sustentar uma campanha. Onde o Japão possui uma grande vantagem, contudo, é no campo dos helicópteros de combate. Há já alguns anos que usa os pioneiros AH-1 Cobra, e recentemente adquiriu ainda alguns AH-64 Apache e produz um aparelho de design próprio para ataque ligeiro e reconhecimento, o OH-1 Ninja. A RPC tenta desenvolver a sua própria resposta asa estas ameaças, o WZ-10, mas o progresso do programa e a quantidade de aparelhos em serviço representam uma incógnita. Geralmente acredita-se que não serão muitos.

Esta análise continua para a semana.


Crónica de Francisco Duarte
O Antropólogo Curioso