Capitalismo Verde

A crónica desta semana inspirou-se no verde do falecido BES para trazer ao microscópio da Teoria do Caos a visão que o Capitalismo tem do meio ambiente, da natureza, da Terra Mãe.

BES, Banco Bom, Banco Mau, Novo Banco. Muitos nomes para apenas uma causa e, como diria Einstein, a raiz de todos os males: Capitalismo. Logo, outra vez arroz.

Embora seja importante concentrar esforços para encontrar soluções para os problemas que afectam o meio ambiente, é também apenas lógico começar por considerar a abordagem que usamos para os tentar resolver. Por outras palavras, é vital começar a olhar para a totalidade do quadro que temos em frente, questionando a nossa própria perspectiva e quebrando as imposições e rituais de um status quo que há muito demonstrou ser incapaz de dar as respostas que tanto necessitamos.

A robusta matriz do sistema de mercado capitalista foi grandemente fortalecida ao longo do passado século, e actualmente vive os seus dias dourados, atingindo níveis altíssimos de domínio, em especial no mundo ocidental.

O sistema de mercado capitalista é explicado de forma muito simples pela fórmula geral de  Karl Marx para o Capital, a famosíssima M-C-M’, onde M representa dinheiro, que servirá para adquirir um bem ou um meio de produção de um bem (representado por C),  que será então vendido, desta vez com lucro (M’).

Esta simples formula levanta uma série de questões filosóficas que deixarei para outra ocasião, mas uma delas é crucial para o tema desta crónica: como é a natureza vista pelo mercado capitalista?

A resposta a esta pergunta surge nos finais do século XX, e apenas porque o meio-ambiente já havia sido demasiado ignorado pelo sistema de mercado capitalista e as marcas disso mesmo eram (e são) cada vez maiores. A resposta do mercado e dos seus mestres de cerimónia foi o aparecimento da chamada economia ambiental.

Em traços largos, o que esta nova sub-disciplina da economia trouxe de novo foi a atribuição de um valor ao mundo natural, ao meio-ambiente, ou seja, tornou o meio-ambiente numa parte do mercado. Para tal, primeiro dividiu-se o meio-ambiente em bens e serviços, ou como diria Marx, transformou-se a natureza numa mercadoria.

Depois, através das curvas predilectas de Adam Smith, as curvas da procura e da oferta, foi criada uma lista de preços para cada uma destas mercadorias. Finalmente, foram criados e desenvolvidos mecanismos de mercado e instrumentos políticos para assegurar o nível desejável de proteção do ambiente.

O plano, esse, era  o mesmo de sempre: incorporar o ambiente no sistema de mercado capitalista. Uma espécie de Capitalismo Verde, por assim dizer. Ainda que a fórmula do Capital não tenha como objectivo satisfazer a necessidade humana, mas antes criar excedente, criar lucro, o ambiente merecia agora ser olhado com atenção.

Tal como Marx afirmara, no sistema capitalista a natureza torna-se puramente num objecto da humanidade, é apenas uma questão de utilidade, deixando de ser olhada como um poder em si mesma, enquanto que as leis teóricas que a envolvem demonstram ser apenas um estratagema para submeter a natureza à vontade humana, quer seja para a tornar um objecto de consumo ou um meio de produção.

Como se percebe desta breve explicação acerca da abordagem neo-clássica a esta temática, a própria natureza do capitalismo, apesar das suas muitas variações retóricas, implica uma sujeição do meio-ambiente ao mercado, e a transformação da natureza numa mercadoria transaccionável apenas serve para esconder esta mesma exploração da natureza por parte do mercado.

Os argumentos contra esta abordagem são portanto muitos e começam no próprio centro da mesma. O aparecimento desta sub-disciplina económica encaixa perfeitamente na categoria de reducionismo económico, já que visa reduzir a natureza a uma parte de um sistema de mercado que se auto-regula. Mais a mais, esta incorporação da natureza na economia é contraditória na sua essência, pois embora possa apresentar alguns resultados a curto prazo,  a lógica do capital necessariamente divide e simplifica a natureza, o que a longo prazo será inevitavelmente catastrófico.

A questão final é  a mesma de muitas outras crónicas que aqui vos deixei e cuja resposta terá de ser dada por todos nós individualmente e para o bem de todos. Conhecendo nós a natureza inconsistente da teoria do capitalismo e tendo provas empíricas da mesma porque  nos recusamos a considerar qualquer outra alternativa? Eu cá acho que devemos começar a considerar qualquer coisinha. Seja lá o que for. Não vá o Planeta dar o berro.