Carla Vieira | O Jogo do Ͻ̸̳o̴̰d̴̲o̸̙

Antes de tudo, quero esclarecer que sou a pessoa mais céptica que deve existir por este mundo fora e o outro. Sim, tenho noção que é assim que as histórias de terror começam, mas esta não é uma história de terror, garanto-vos! Esta é simplesmente a história de todas as vezes que joguei ao jogo do copo ou vi jogar e do porquê de não me acreditar em nada dessas coisas (sem ofender quem o faz).

Primeiro queɹo explicar as “regras” do jogo do copo, regras entre aspas porque há variações até dar com um pau. Uma das regras mais disputadas é que ateus e não-crentes não podem estar na mesma divisão com os jogadores. Isto porque na verdade este jogo é apenas uma fumança valente e alucinações colectivas ou qualquer coisa assim. Na verdade, por que raio é que os espíritos e demó̸̼̕ṋ̸́i̵̗͒ơ̴͎ s se iriam importar com as crenças de cada um?

“Ei pá, estou a ver aqui no reflǝxo do copo que aquela moça ali é ateísta.”
“Oh Satanás, não estou p’ra isto de não acreditarem em mim, vamos dar o giro!”

E dep ̤̍̉͐̀͐̇́̈͒̍̕͝͠is a culpa é minha. Pois sim, apanhem- m̖̤̱̹̃̒̔͠e̻̭̘̝̓̇̊̕.

Bom, mas passemos à frente desta incongruência fascinante. O jogo deve ser jogado com um tabuleiro ̮̒o͕͋u̦̇ï̪j͖̓ḁ͗, ou para quem é pobre, com o alfabeto nuns pedacinhos de papel: o alfabeto em semicírculo, as palavras “sim” e “não” em dois cantos e também todos os números numa superfície lisa. Isto permitirá que a entidade se possa manifesʇɐr. O instrumento de comunicação pode ser qualquer coisa, mas é vulƃar utilizar um copo. Logo, deve estar limpo e sem rachas e é posto no meio, com todos os participantes a tocarem-lhe. Pode-se usar apenas um dedo e é encorajado para que ninguém tenha a ideia de arrastar o ɔopo para acagaçar os mais sensíveis (como podem imaginar, eu já fiz isto e não me arrependo)˙

Para acabar, há teorias e teorias. Supostam̡̳̜̦͎̰̈́͋̾̇̀̚ente tal como convidamos uma entidade a comunicar connosco, a essa entidade fica o critério de acabar a sessão. Enquanto a entidade responder “não” ao pedido de acabar o jogo, não se deve tirar a mão do copo. Há pessoas que dizem que devemos partir o co ̻͝   ̳͚̪̒͂̕outras que dizem que temos de o queimar, enterrar, queimar o tabuleiro, etc.. A informação é abundante na internet, mas não há consenso.

Como disse em cima, eu já participei numa destas sessões, quando tinha sensivelmente oito anos, e era moda jogar. Sim, moda. E antes que espiriʇualistas venham aqui reclamar, todos os participantes estão de boa saúde e vão bem, obrigada.

Joguei com o meu primo, que me convenceu sem me dizer exa̝̳̼̭̜̒̒̀̏̂͘͜ctamente para o que é que eu estava a ir. Desligamos as luzes todas da cozì̛̗̦̝͖̠̩̋̍̚͠ņ̢̛͇̬̟̬͐̀̈̈̈́ha da minha avó e ele preparou o tabuleiro improvisado com folhinhas de pap ̫̉ l. Pôs o copo no meio da mesa e disse-me para pôr o dedo (naquela altura rechonchudinho) no copo, e fechar os olhos enquanto a entidade de decidia a manifestar. Mal s ̺̽ ̫͂ ̦͋a ele que eu já na altura não era burra nenhuɯa e fingi fechar os olhos, só para ele se sentir à vontade. Ele não sabe, mas eu sei perfeitamente que a “entidade” manifestada no copo era uma ameixa seca. Esperto. Aquilo acabou muito rápido, mal ele percebeu que eu sentia a força que ele fazia para mexer o copo, retirando a ameıxa seca quando eu não estava a olhar ̴̨

~woooooo~

Anos mais tarde, numa festa de aniversário que se prolongou demasiado durante a noiṯ̡͉̙̹͖̲̊̓̎̾̅͐͂e, três rapazes sentiram a necessidade de fazer uma sessão, a qnal todas as raparigas recusaram e eu não fui autorizada a ir (outra vez, cépticos not allowed). Não sei dizer como correu mas pelo que ent ̘̍ ̧͝ ̧͆ ̰̑ ͚̋ ͕̓ ̯̀ ̬̎ ̩͗ ̘̔ ̨͗ ̘̑ ̟͒ ̡͝ ͓͗ ̭͛ ͖͌ ̤̎ ͊ͅ ̬̆ ͇̓ ora, a única prova de que os rapazes estariam a comunicar com uma entidade foi perguntarem-lhe a cor da minha roupa interior a ver se acertava. Por isso estão a ver.

Portanto, isto deixa-me obviamente descrente, clɐ̛̻̮̮͖̬̹͛̐͐͝͝ ̧̲͖̟̦͓̼͉̭ͅro que deixa. Como é que é possível haver tanto jogo por aqui e por ali e ninguém ter experiências nenhumas, ou dizerem que sim mas ser tudo uma fantochada?

Não que eu me ria às gargalɥadas se alguém me disser que acredita, e que ʌiu mesmo um d̷̠̓e̷͖͆ṁ̶̘ ónio e que foi possuído e consegue ver almas perdidas. Muitas pessoas que conheço acreditam nisso, e quem acredita jura sempre a pés juntos que, por exemplo, ouviu vozes a chamɐr pelo nome em corredores vazios, e um electrodoméstico se ligou ou desligou assim do nada, estações de rádio a mudar… Coisas assim. E se acŗ̗̞͙͔̲̲̩̖̺̟̠͈͑̄̍̃̌̇̐́́́̐͘͘͘editam, força nisso, porque quem sou eu para dizer que não? Eu pessoalmente nunca assisti a nada d ̴̨sso, mas pronto.