Carnaval Social – Panorama

O Carnaval já passou no entanto todos continuamos a vestir e usar as máscaras que criamos para viver todo o resto do ano.

Somos indivíduos a viver em sociedade e a relacionar-nos com um infindável número de pessoas, pelo que usamos máscaras sociais para as diversas situações. Certamente não falam para os vossos pais como falam com os vendedores porta-a-porta, bem como não se expressam junto dos vossos amigos como junto dos vossos patrões.

Todos adaptámos máscaras e nos comportámos de formas diferentes consoante as pessoas presentes, os locais em que estamos e as situações. É quase absurdo pensar que não, nem sequer se trata de uma questão de falta de frontalidade ou de esconder algo, é simplesmente algo normal que todos temos inato. É exactamente o mesmo que acontece quando fazemos os nossos currículos, há coisas que nem vale a pena mencionar, assim como há outras que não podemos deixar de lá colocar.

As figuras públicas, sejam artistas, políticos ou socialites, usem diversas máscaras, assim como todos nós, no entanto devido à exposição mediática a que se encontram sujeitos tudo o que fazem acaba por ter impacto na sua imagem e nas suas vidas. Nem todos são iguais aos que os vemos na televisão ou nas revistas, muitos procuram inclusive esconder pormenores sobre as suas vidas. E fazem-no tentando separar as suas vidas pessoais das vidas profissionais. No fundo todos o fazemos, ninguém gosta de misturar o trabalho com o lazer.

Claro que existem excepções e algumas pessoas acabam por confundir tudo, o que em alguns casos (diria até que muitos) prejudica a sua forma de estar no trabalho e na execução do próprio trabalho. Depois há aqueles que conhecemos em trabalho e com quem posteriormente acabamos por desenvolver uma relação de amizade além da de colegas de trabalho.

Tenho dois amigos que se conheceram no mesmo emprego, enquanto colegas de trabalho simplesmente detestavam-se e nem se podiam ver mas, eis que uns tempos depois, quando deixaram de trabalhar juntos passaram a sair e a conhecerem-se, sendo que hoje em dia são grandes amigos. Isto aconteceu justamente devido às posturas no trabalho serem bastante diferentes da forma como se comportam fora dele. Provavelmente se continuassem a trabalhar juntos nunca seriam amigos.

Estas máscaras são o que nos protege de nos magoarmos uns aos outros, são elas que nos protegem de nós próprios e são também elas que nos impedem de nos mostrarmos aos outros tal como somos, são elas que muitas vezes nos limitam na partilha de amizade ou amor. Não há que ter medo de mostrar o que somos, além do mais, se não fizermos nunca encontraremos aquela pessoa que nos faz sentir especial e com quem desejamos partilhar uma relação. Mas temos mesmo de nos precaver em relação a tudo o que nos possa de certa forma prejudicar. Obviamente não podemos comportar-nos nos nossos empregos como nos comportemos fora dele. Não é profissional atender clientes falando com eles como falamos com os nossos amigos. Já trabalhei no atendimento ao público e algo que me fazia um pouco de confusão era atender pessoal amigo ao conhecido, visto que por um lado tinha de manter o meu comportamento profissional mas no entanto estava à vontade para os atender de outra forma e sabia de antemão o que pretendiam.

Na política estas máscaras são mesmo exploradas de forma consciente, a forma de estar de um político com poder não é a mesma que a de outro que se encontra na oposição. Em épocas de campanha e eleições estas diferenças são ainda mais notórias, ainda que todos tentem mostrar-se solidários e próximos do seu eleitorado por forma a ganharem mais votos. Pergunto onde está essa proximidade hoje? As eleições ainda estão muito longe… será que é por isso?

Deixo-vos neste domingo a pensar nisto e com o conselho de serem vocês próprios e de manterem as vossas máscaras bem organizadas, protejam-se por forma a que possam cumprir com as vossas obrigações, sem que estejam demasiado fechados para uma futura amizade ou algo mais. Lembrem-se que o Carnaval é apenas uma vez por ano mas as vossas máscaras sociais mantém-se ao longo de todos os outros 364 dias (ou 365 no caso deste ano).

Crónica de Celso Silva
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