Carnaval

O Carnaval é talvez das poucas celebrações pagãs que a igreja católica deixou ficar quase intacta, deixando seguir o seu rumo (sempre com um dedinho divino). A palavra Carnaval vem de “carnis” em latim significa carne e “valles” significa prazeres, ou seja, uma festa da carne. Apesar de ser um bom motivo para gostar, a verdade é que não gosto, nunca gostei muito do Carnaval, sou sempre do contra, eu sei! Mas não gosto muito de confusão e também não entendo bem essa necessidade de se fantasiar para expor esse lado mais alegre de si, cá para fora! Digamos assim… Taremos de nos disfarçar para fazer certas coisas? Não sei, talvez sim! Acho que a gente gosta mesmo de usar um pouco de outro para seremos um pouco mais nós mesmos… todos somos muito assim e que melhor altura para fazer isso do que o Carnaval? Penso, quantos carnavais não seriam preciso para seremos muito mais nós, mais felizes… também eu já festejei o Carnaval (sem fantasias) agora não ligo mesmo nada ao Carnaval e ver aquilo na globo… está fora de questão! Não critico, acho bem quem goste, só não me metam o Carnaval pelos olhos! Mesmo aquelas mulheres quase despidas, a minha imaginação tem poder de ir muito além de isso… dos Carnavais que conheço, o de Veneza é o que mais me atrai e o da Nova Orleans. Porém, o Carnaval de todos, o meu preferido é o que vive aqui na minha pequena aldeia, também esse mudou muito ou quase nada restou, do que era, ou eu é que mudei muito! Já não vejo nas ruas da aldeia a mesma alegria e a mesma tradição, as vezes bem tentam… acho que o mundo mudou tanto que não basta tentar, era preciso viver naquele tempo.

Na minha aldeia o Carnaval era muito simples! Fazia o touro, com uma cortiça, os cornos e sacas onde se costumava guardar a amêndoa, os rapazes novos corriam atrás raparigas, mulheres e crianças, confesso que até eu em miúdo tinha medo de esse touro, ainda hoje não gosto de touros, vai-se lá saber porque? Também usavam ovos podres para atirar as pessoas, isso já não me lembro, contavam… mas água e farinha, lembro e era um verdadeiro poder que se podia ter, não levar com uma das duas! Quando era criança nesta altura era importante arranjar uma boa arma de água e farinha, a rua na Terça-feira era um faroeste cheio de pistoleiros e de verdadeiros duelos, olhos nos olhos a ver quem conseguia ser mais rápido a disparar o jacto de água na cara do adversário se ele não tivesse muito longe. Havia também os alvos inocentes, os que não queriam fazer parte, o que só por si era um perigo para quem não levava a velha máxima a serio “é Carnaval ninguém leva a mal” pois era provável ser apanhado e ver a sua cabeça enfiada no tanque onde bebiam os animais. Eu nunca me arrisquei muito, mas acabava sempre molhado e cheio de farinha. Toda a gente naquele fim de tarde andava um pouco cheio de farinha, parecia ter evado em cima das pessoas.

Em tempos mais antigos, dizia a minha tia que para uma rapariga solteira era um orgulho não levar com farinha esse dia. Fez-me pensar numa espécie de ritual de namoro. No fundo o Carnaval veio muito daí e sempre foi assim, dos festejos da fertilidade.