Carta Aberta a Rui Vitória

Caro Rui Vitória,

Antes de mais, deixe-me dar-lhe os parabéns pela conquista do 35º Campeonato Nacional de Futebol para o meu e nosso clube. E, já agora, permita-me que o trate por “tu”, afinal até temos algo em comum: o amor pelo Benfica. Fico-te bastante agradecido por me permitires festejar mais uma conquista na modalidade que milhões pelo Mundo fora adoram! Fico-te, também bastante agradecido porque fizeste com que o Benfica, o meu clube, conseguisse algo que não conseguia há 39 anos, ser TRIcampeão. Obrigado, do fundo deste coração, que já sofreu muito pelo seu clube.

A tua tarefa era muito díficil, ias substituir um treinador que, em 6 anos conquistou 3 títulos nacionais, levou-nos a 2 finais europeias, a uns quartos da Champions (que tal como tu, perdeu com brio) e que conquistou várias Taças da Liga e uma Taça de Portugal. Era, segundo alguma comunicação social, uma missão impossível. Segundo eles, era impossível que um treinador com mais de 10 anos de carreira, que passou por clubes como o Vilafranquense, o Fátima, o Paços de Ferreira e o Vitória de Guimarães, fosse capaz de fazer algo de bom num clube tão grande como o Benfica.

A verdade é que a época começou mal, uma pré-época para esquecer, com derrotas em practicamente todos os jogos. Comecei a enervar-me, sou daqueles que não gosta de perder nem a feijões, mas pronto, era a pré-época, um treinador novo, a experimentar coisas novas. Há que ter paciência, dizia eu, para mim mesmo. “Tenho de lhe dar tempo”. Chegou a hora do confronto, Jesus x Benfica, na Supertaça. Começam as boquinhas do costume, por parte de um treinador casmurro, que devia ter dois dedos de testa. Estava confiante, é agora! É agora que o meu Benfica vai começar a época e vai ser em grande! Afinal, as grandes estrelas estavam de volta, Gaitan, Jonas, Luisão, Júlio César e olha nem tem medo de pôr um miúdo a jogar, algo que nunca aconteceria com Jorge Jesus.

Não foi naquele dia. Vi os sportinguistas muito felizes e com razão, afinal tinham conquistado um troféu, com o novo treinador. Mas alguns já estavam deslumbrados, “vamos ganhar o campeonato!”, “O Jesus vai ser Tricampeão!”, foram frases que, recorrentemente, se ouvia e lia na comunicação social e nas redes sociais. “Caraças” pensava eu, ainda nem começámos o campeonato e já estamos ‘a perder’. Mas era só uma taça, com um lance fortuito que deu o golo à equipa do Sporting. Mas o nosso calvário tinha apenas começado, parecia que tudo estava contra nós, começámos bem e eu estive na Luz a apoiar os nossos craques, mas depois veio o Arouca e depois era o jogo que todos diziam que a derrota do Benfica estava certa. Era o jogo no Vicente Calderón, em casa do Atlético de Madrid. Lembro-me como se fosse hoje, das palavras de Rui Pedro Braz, jornalista da TVI que dizia que depois de duas derrotas fora de casa, tu, Rui, ias bater um recorde negativo da história do nosso Glorioso, perdendo três jogos consecutivos. Era inevitável diziam eles! Pois foi aí, Rui Vitória mesmo que tu mostraste a fibra de que eras feito: fomos lá com Semedo e Guedes na ala direita, dois “putos” que tinham algum jeito, mas não eram capazes de superar um Atlético com grandes nomes, segundo diziam alguns “mal dizentes” .

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Curiosamente, foi precisamente nesse jogo que deixei de te criticar e deixei que mostrasses o teu trabalho! Uma vitória importantíssima em casa do Atlético, algo que só outra equipa conseguiu esta época. Alguns dizem que foi aqui, que tu, Rui, partiste para a conquista do campeonato, porque foi aqui que ganhaste uma equipa. Outros dão como exemplo o 0-3 no Derby, uma derrota que custou a engolir, mas que os adeptos “perdoaram” e que ao minuto 70, todo o estádio voltou a cantar pelo Benfica.

Honestamente, Rui, para mim, trouxeste de volta a alegria aos adeptos, aos jogadores, às pequenas estrelas que entram em campo de mão dada com os seus ídolos. Trouxeste uma maneira diferente de ser e de estar. A arrogância do anterior treinador, deu lugar à tolerância e à classe. Provaste isso mesmo, no dia em que ganhaste o campeonato, sem desceres ao nível dele, meteste-o no canto que ele merecia estar. Como o Presidente Luís Filipe Vieira disse, no Benfica não existem, ou não devem existir “eu’s”, só podem existir “Nós”, porque é juntos que conseguimos vencer. E Pluribus Unum não é verdade?

Créditos: As Minhas Insónias em Carvão
Créditos: As Minhas Insónias em Carvão

Foi de jogo em jogo, com resultados bons e outros inacreditáveis, com jogos bons e outros maus, foi sofrer até ao fim, como mandam as p***s das regras do futebol! Parecia que estava entregue a outros, mas a tua calma deu frutos, mister. Tu amas este clube, como eu, como o meu tio, como os meus amigos benfiquistas, como milhões espalhados pelo nosso país e pelo Mundo fora. Vi quase a 2ª metade do campeonato fora de Portugal, o que me fez sofrer ainda mais! Cada golo marcado, pelo Jonas, pelo Mitroglou, Gaitan, Sanches, Pizzi, Samaris, Talisca, eram gritados e celebrados como se fossem títulos. É uma emoção difícil de explicar por palavras!

Celebrar este 35º título nacional é especial! Primeiro porque o último Tricampeonato do Benfica tinha sido há 39 anos, ainda nem o Renato, o nosso prodígio, era um plano, nem o Guedes, ou o Semedo. Aliás, nem o Luisão, o nosso grande capitão, era nascido. Não é por ser um tricampeonato, não foi por ser o 35º, que foi celebrado com mais gosto. Foi por tudo aquilo que passámos juntos. Sim, porque para a imprensa, tu, Rui, nem eras capaz de metade daquilo que o anterior tinha sido. Para alguns comentadores, assim que perdeste a Supertaça, já tinhas perdido tudo. Mas mostraste o contrário! Levaste-nos a sucessos impensáveis na Champions, a dois jogos impressionantes, de demonstração de raça, crer e ambição (outro dos lemas do nosso Glorioso) contra o campeão alemão, contra o poderoso clube da Baviera. Esse temido tubarão que, desde que é treinado por Guardiola, ainda ficou mais difícil de vencer. Levaste-nos a ser os únicos em competições europeias que conseguiram vencer os colchoneros no seu mítico Calderón.

img_fanaticabig-2016_04_13_21_25_38_1089072Claro, houve jogos para esquecer, mas mesmo depois de o teu antecessor ter dito que não eras treinador, que não tinhas cérebro, que não tinhas mãozinhas para o Ferrari, vingaste-te! No jogo mais importante que tivemos, não vacilaste. Nem tu, nem o Mitroglou! Um golo importante, e eu quero lá saber se jogámos bem ou não! Vencemos! E, no futebol, isso ainda é o mais importante. Quem quis ser maldizente e falar mal de ti e de todas as tuas conquistas, acabou ontem por ter de se calar! Ficámos em primeiro! Graças a ti! Graças aos nossos jogadores! Graças à garra, ao crer, à ambição, à vontade de ser e dar mais, cada vez mais por aqueles, que como eu apoiam o Benfica, em qualquer circunstância! Graças aos adeptos que dão tudo pelo nosso Benfica, como é o caso do Guilherme Cabral, que nos inspira a ir gritar 3 e 4 vezes mais alto, com os seus vídeos monumentais! Acredito que, tal como eu, o mister também se arrepia a ver aquilo! Acredito que tal como eu sinto, quando estou rodeado dos meus pares, o calor da massa adepta do Benfica, o mister Rui também sente, aliás bastou ver aquele jogo contra o Bayern, o mister no meio de nós, quando o Talisca marcou aquele golaço e o Rui ser parabenizado.

Por tudo isto quero agradecer ao mister. Não só pelo nosso 35º título nacional, não só pelo Tricampeonato, mas porque, graças ao mister Rui, muitos de nós voltaram a ter o gosto de dizer, este é o nosso treinador! Pelo menos eu voltei e, só por isso, já valeu a pena!

Mais uma vez, obrigado e RUMO AO 36!!!!