Carta Aberta – Amílcar Monteiro

A quem possa interessar,

 

Venho por este meio pedir desculpa a todos aqueles que magoei. Gostava que soubessem que nunca o pretendi, embora saiba que o fiz vezes e vezes sem conta. Cada uma das marcas deixadas pelas agulhas recordam-me da dor que provoquei num de vocês. Por tudo isso, desculpem.

Não sei se acreditarão em mim, mas queria dizer-vos que não fui eu que escolhi esta vida. Foi sim esta vida que me escolheu. Sei que parece uma desculpa esfarrapada, uma invenção pobre para me demitir da minha responsabilidade, mas não é isso… Por favor, acreditem que não é isso!

Eu quis parar várias vezes, mas nunca soube como o fazer. Fui obrigado a continuar com este estilo de vida que só me traz dor e culpa. Por vezes, olho para trás e ponho-me a remoer no passado, na tentativa de perceber como e quando é que tudo isto começou. Só que não chego a nenhuma conclusão. Não sei o que me trouxe até aqui.

Mas também não interessa. Agora já não interessa. Saber que prejudiquei a vida de muitas pessoas gera-me um sentimento de culpa insuportável. Acho que a única forma de terminar com todo o sofrimento que tenho causado é mesmo acabar com a minha própria vida. E se ainda não o fiz, se ainda não me suicidei, é porque sei que esse acto desesperado iria também destruir a vida de alguém.

Uma vez mais, desculpem. Desculpem tudo o que vos fiz.

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Ass:   Ogou Danbala Tawoyo  –  Boneco de Voodoo 

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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